Ambição, entusiasmo, rebeldia e inovação. As palavras que estão no topo do cartaz que tem o símbolo do clube e todos os patrocinadores logo abaixo, na sala de imprensa da Arena da Baixada, sintetizam o que pensa o Athletico-PR. Os quatro substantivos são uma espécie de mantra que começa na direção, continua por comissão técnica, empolga jogadores e contamina os torcedores.
Por ambição, entenda-se, o Athletico-PR quer o topo. Do planeta. O projeto do clube é ser campeão mundial até 2024, quando completará 100 anos. Será, também, o 29º aniversário de uma mudança de administração que revolucionou a instituição. Em 1995, quando Mário Celso Petraglia começou a comandar o Furacão, a ordem era reconstruir o estádio, montar um centro de treinamentos, melhorar a gestão e disputar títulos. Desde então, foi campeão brasileiro, da Sul-Americana, da (ex) Suruga e vice de Brasileiro, Libertadores, Copa do Brasil, competição que disputa novamente a final, agora com o Inter — e tem vantagem por ter vencido em casa por 1 a 0.
Claro que houve percalços. O clube foi rebaixado em 2011, quando vivia uma turbulência política em meio a um processo de reforma da Arena da Baixada, perdeu partidas importantes, passou por problemas com torcedores. E nada disso tirou o clube do rumo traçado na metade da década de 1990.
— O "presidente" Petraglia tem as ideias muito claras, e os diretores seguem as ordens. Eles seguem o plano mesmo que não tenha resultado. No meu período, passamos por alguns resultados ruins, a organizada estava xingando, protestando e ele me deu respaldo — afirma o técnico Fabiano Soares, que comandou o time principal em 2017.
Além disso, os paranaenses costumam endurecer as negociações para transmissões esportivas. Por considerar injusto o que recebia, na comparação com outros, resolveu não assinar contrato com a Globo, por exemplo. É o único representante da Série A a não ter jogo transmitido no sistema pay per view. Seu relacionamento com a imprensa, a rigor, merece, um parágrafo à parte.
O Athletico-PR fecha praticamente todos os treinos. E quando abre, libera para imagens só o aquecimento. Entrevistas coletivas, só para quem detêm direitos de transmissão do campeonato em disputa: Fox, Globo e SporTV na Libertadores, Globo no Brasileirão, SporTV e Globo na Copa do Brasil. Nos finais dos jogos, um atleta e o treinador falam com os demais veículos. De resto, conversas apenas com os veículos oficiais. Se algum profissional descumprir, leva multa.
— Em uma rotina de trabalho diante de imposições e limitações, todo detalhe é importante, deve ser resgatado e explorado. Em qualquer situação existem os dois lados, e este lado "fora do clube" é que muitas vezes nos traz a informação — comenta a repórter Monique Vilela, da Rádio Banda B, que completa:
— É uma situação que incomoda, mas nada que nos impeça de exercer a profissão. Na verdade, nos faz reinventar o formato de trabalho. De uma certa forma nos fortalece, e nos permite descobrir que há vida na profissão sem as tradicionais entrevistas pré-jogo.
Outro ponto da rebeldia é a decisão sobre o campeonato estadual. Há seis temporadas, o clube decidiu que usaria um time sub-23 para jogar o Paranaense. E mesmo quando ficou sem troféu, não abriu mão da filosofia. Com o enfraquecimento dos maiores rivais, Coritiba e Paraná, até campeão conseguiu ser. E nesse meio tempo, apresentou ao futebol Pablo, Marcos Guilherme, Otávio, Renan Lodi, Bruno Guimarães e tantos outros. O clube forma, testa, aproveita e vende.
Aliás, o clube nem faz muita questão de manter laços de amizade. O Athletico-PR é para os atleticanos. Tanto que, pouco antes de entrar em campo para a decisão da Sul-Americana, no ano passado, veiculou uma campanha que ironizava Corinthians, Grêmio, São Paulo e Flamengo. Se tem fama de antipático, não faz questão de mudar.
Sobre a inovação, o símbolo é o CT do Caju. Originalmente um spa, o local foi adaptado para receber as categorias de base e integrar com o profissional. Resultado: os alojamentos são de primeira qualidade, os campos apresentam condições perfeitas e todos os setores trabalham em conjunto. Até um gramado sintético há por lá, para que haja uma adaptação rápida com o piso — um misto de inovação (para solucionar um problema histórico de má condição do campo natural) e rebeldia (nenhum adversário gosta e todos fazem questão de reclamar). A casa atleticana, aliás, foi a primeira a ter os naming rights vendidos, logo após sua construção: Kyocera Arena da Baixada. Até um H o clube resolveu adotar na grafia, mudando seu nome depois de mais de 90 anos.
Somando ambição, rebeldia e inovação, o entusiasmo fica por conta da torcida. Pelo formato do estádio, a acústica na Arena da Baixada amplifica o som, que ecoa e atordoa quem está no campo. A proximidade com o gramado, inclusive, intimida.
— A torcida ajuda muito, faz barulho, ajuda a virar jogo. Lembro de um jogo contra o Bahia, em 2001, que eles empataram no final, o estádio reagiu e buscamos uma vitória importante de 5 a 3 — recorda Geninho, técnico campeão brasileiro.
Por isso, é possível afirmar: mesmo que perca a decisão da Copa do Brasil na quarta-feira (18), o projeto do clube pouco será alterado. Ganhar ou não é consequência de estar em cima. E o Athletico-PR está.