Campeão do mundo em 2006 e tido por muitos como o grande nome da decisão contra o Barcelona, Pedro Iarley irá viver uma noite de emoções na quinta-feira (23), quando Inter e Paysandu irão se enfrentar pelas oitavas de final da Copa do Brasil.
Natural de Quixeramobim, no Ceará, ele ganhou projeção em 2003, ao se tornar o grande destaque da surpreendente campanha do Paysandu na Libertadores. Dois anos depois, após atuar na Argentina e no México, desembarcou em Porto Alegre e marcou história com a camisa 10. Em virtude dessa relação com os dois clubes, Iarley não esconde a alegria de poder acompanhar o enfrentamento no Estádio Beira-Rio.
— São dois clubes que eu tenho um carinho muito grande e ter a oportunidade de vê-los jogando é gratificante — disse o ex-jogador em entrevista ao programa Esporte & Cia, da Rádio Gaúcha.
Com 133 jogos e 30 gols com a camisa colorada entre 2005 e 2008, Iarley não acredita que o Inter entrará em campo pensando em goleada.
— Eu acho difícil. Antes do jogo, isso fica mais pro torcedor, pra imprensa. O jogador quer jogar e ver como será o jogo, o que o adversário vai propor. Isso vai de acordo com o que acontecer na partida — opinou o hoje treinador com licença B da CBF.
Para ele, que atuou profissionalmente até os 40 anos, D'Alessandro ainda pode dar muito aos colorados.
— O D'Alessandro ainda tem lenha pra queimar. Eu joguei em alto nível até os 38 anos. O Odair está sendo muito inteligente na escolha dos jogos, na quantidade de minutos e estou achando bem bacana esta relação deles. Nesse ritmo que está, ele (D'Alessandro) joga mais dois anos — diz, sobre o atual dono da 10 no Beira-Rio.
Além dos cursos de formação na CBF, Iarley também cursa Educação Física. O futuro já está definido para o campeão mundial de 2006. Seu próximo passo é participar do curso de licença A e seguir se qualificando para entrar no mercado. Com grande experiência nos gramados, Iarley projeta que o Inter está cada vez mais próximo de voltar às grandes conquistas.
— Está consolidando uma maneira de jogar, com 11, 12, 13 jogadores dentro do planejamento do treinador. Tem algumas dúvidas ainda e isso faz que o grupo cresça e cada vez mais haja uma evolução. O coração do time (meio-campo), tem uma afinidade ali. O crescimento do Nonato deu muito mais versatilidade, movimentação, mais qualidade pro tripé — avalia.
Campeão da Libertadores de 2006 e da Recopa Sul-Americana de 2007, o ex-camisa 10 acredita que o time comandado por Odair Hellmann está num patamar elevado no atual contexto do futebol brasileiro.
— Com os jogadores que estão no elenco, com a vinda do Guerrero, uma peça fundamental para qualificar, de nome, de peso, o Inter está consolidando a maneira de jogar e tem todas as condições de ganhar as competições que está jogando. Não está mais em formação, já está recuperado de tudo que houve com ele. O Inter hoje tem time pra enfrentar qualquer um, de igual para igual — garante.
Ele também falou sobre a evolução do técnico Odair Hellmann e a relação do comandante com o grupo colorado.
— O Odair passou nove, dez anos, como auxiliar e aprendeu muito. Você começa aqui na base, depois vai como auxiliar. Começa a pegar vários treinadores e pegar a experiência de um, a gestão de outro e começa a ver também os erros e vai moldando a sua característica e vai aprendendo até onde pode ir com um e com outro. O caso do D'Alessandro, tem que ter um jogo de cintura, uma gestão. É um jogador importante, que tem nome. Não é fácil chegar e dizer "hoje você vai ficar no banco". Tem que ter essa confiança e isso ele foi adquirindo. A gente vê a relação do Odair com o grupo, bem natural. Então ele aprendeu bem durante todos esses anos que passou como auxiliar técnico — afirma.
Relação com o Paysandu
A partida desta quinta-feira será uma oportunidade para que ele possa matar saudades do clube que o projetou no cenário sul-americano.
— Não (acompanho) muito (o Paysandu). Pelo dia a dia, treinamentos e jogos, não coincide para que eu possa acompanhar como queria — falou ao ser questionado se está inteirado do momento de sua ex-equipe.
Trabalhando nas categorias de base do Inter, Iarley recorda dos momentos vividos em Belém.
— A gente fez uma primeira etapa muito boa, terminamos invictos, vencemos o Cerro Porteño, no Paraguai, por 6 a 2. Foi a primeira e única vez de um time do Pará na Libertadores, e a gente surpreendeu não só se classificando, invicto, e com pontuação muito alta na fase de grupos. Mas tivemos a infelicidade ou felicidade de pegar o Boca Juniors nas oitavas — disse o ex-jogador de 45 anos.
A eliminação para o todo poderoso time argentino deixou uma marca na carreira do jogador, que esteve vinculado ao Real Madrid entre 1995 e 2000.
— O primeiro jogo em La Bombonera, todo aquele ambiente, aquela mística de enfrentar o Boca, que nesse período ganhava tudo. Todos davam certa uma vitória deles e nós fomos lá e surpreendemos e entramos para a história, eu fiz um gol, que particularmente que pra mim foi muito importante. Mas na volta, em casa, com o Schelotto, o Delgado e o Tévez jogando muito, eles nos surpreenderam lá. Foi um dos dias mais tristes que eu vivi no futebol. Havia problema de transporte na cidade e muita gente foi a pé, de bicicleta, carona e mesmo assim 60 mil foram ao estádio, mas a gente não conseguiu dar a classificação pra eles. Nós erramos muito e o Boca fez 4 a 2 na gente — relembra.
Iarley ainda tem na memória alguns de seus companheiros de façanha nos gramados da América do Sul.
— O Sandro Goiano estava lá, o Robgol, o Vélber, que depois atuou no São Paulo. Era nossa base, tinha o Jorginho, irmão do Júnior Baiano, Rodrigo, lateral que depois foi até pra Seleção. O Luís Fernando, um lateral-esquerdo do interior gaúcho. O técnico era Darío Pereyra — diz ele, ao citar alguns dos nomes daquela equipe.