Paolo Guerrero tem registrado na carteira de trabalho o ofício de centroavante desde 2004. Fred, desde 2003. Pouco mais de 90 dias de vida separam o nascimento deles. O brasileiro, em outubro de 1983. O peruano, nas primeiras horas de 1984. Juntos, eles somam 633 gols. Neste domingo (12), a partir das 16h, o Beira-Rio receberá um duelo como poucos no futebol brasileiro. Um confronto entre históricos camisas 9. Do lado do Inter, Guerrero. Pelo Cruzeiro, Fred. Dois donos de área, comandantes de sistemas ofensivos.
Aos 35 anos, Frederico Chaves Guedes e José Paolo Guerrero Gonzáles ainda são imprescindíveis para os clubes Brasil afora. Prova disso é que jamais ficaram desempregados ou pegaram barcas ruins. Só jogam com a elite, o que nem sempre é fácil, devido à idade da dupla de artilheiros em um futebol que se supre de novatos cada vez mais.
— Guerrero e Fred seguem em alta no Brasil porque sempre jogaram em alto nível. Homens com prestígio internacional e que, apesar dos 35 anos, estão atuando muito bem — comenta o ex-cruzeirense Tostão. — Como nossos clubes não têm condições de contratar atacantes da Seleção, porque estão todos no Exterior, e os que estão por aqui não têm o mesmo nível de Fred e de Guerrero, eles seguem em alta. São típicos centroavantes, com boa técnica, e que não são reconhecidos somente pelos gols, mas também por trocarem passes, por fazerem o sistema ofensivo jogar. Ricardo Oliveira é um terceiro nome, que se junta facilmente a Guerrero e a Fred — acrescenta o gênio da bola e o maior jogador nascido em Minas Gerais depois de Pelé.
Curiosamente, a temporada 2019 surge como ideia de redenção para os dois camisas 9. O colorado ficou quase oito meses proibido de exercer o seu ofício, devido à suspensão da Fifa por doping, algo que seguirá sendo contestado por Guerrero e pelos seus advogados. Ele pôde estrear pelo Inter somente em abril — e marcando gol no Caxias.
Com Fred, o 2018 não foi muito diferente. Por outro motivo: lesão. Uma partida pelo Campeonato Mineiro, em março, tirou do atacante quase todo o ano. Em um lance aos 27 minutos do primeiro tempo, Fred sofreu ruptura total no ligamento anterior cruzado do joelho direito. Após longos seis meses de recuperação, conseguiu voltar para os últimos seis jogos do Brasileirão e ainda marcou três gols.
— Quem contrata Fred e Guerrero quer qualidade, algo que nem sempre se encontra facilmente. Ainda são dois dos principais nomes no futebol brasileiro e jogadores imprescindíveis para quem sonha com títulos — afirma Nilson Ezídio, ex-camisa 9 da dupla Gre-Nal. — Aposto que eles ainda serão dois dos principais artilheiros no país em 2019 — acrescenta.
Se Guerrero está começando a sua trajetória colorada, Fred já é um jogador histórico do Cruzeiro. Em 2005, deixou o clube e foi para o Lyon. Quando voltou ao Brasil, foi contratado pelo Fluminense e, depois, foi para o rival Atlético-MG, cortando os corações cruzeirenses. Retornou no ano passado, mas é na atual temporada que parece estar voltando ao seu melhor nível.
— Fred é o maior artilheiro do Cruzeiro neste século e foi o último jogador do clube a marcar 40 gols em uma temporada. A torcida ficou frustrada quando ele assinou com o Atlético-MG, o que mudou no dia seguinte ao deixar o Galo e voltar para a Toca da Raposa. Voltou e reconquistou a idolatria. Ele está magro e forte de novo, com arrancadas como as que o consagraram — avalia Bruno Furtado, editor do portal Superesportes, de Minas Gerais, que também comenta a popularidade do jogador:
— Ele tem mais seguidores no Instagram do que Cruzeiro e Atlético-MG juntos (Fred tem 3,3 milhões, contra 1,1 milhão da Raposa e 1,2 milhão do Galo).
Em viagem pela Europa, a fim de acompanhar os jogadores brasileiros às vésperas da convocação da Seleção que disputará a Copa América e as históricas semifinais da Liga dos Campeões, o auxiliar de Tite, Cléber Xavier, ressaltou a importância dos homens de área.
— Com o Guerrero, eu pude trabalhar. Ele fez um gol de 9 na final do Mundial (de 2012, vencido pelo Corinthians sobre o Chelsea). Nunca trabalhei com Fred, mas é um dos maiores artilheiros do futebol brasileiro. Dois caras que têm presença constante na área, que são referência, seja fazendo pivô, batendo bem com o pé direito, com o pé esquerdo, que se antecipam — comentou.
Em uma análise dos confrontos que apontaram os finalistas do principal torneio europeu, Xavier ressaltou a importância de jogadores como Guerrero e Fred:
— Llorente foi decisivo em sua entrada para mudar a postura do Tottenham e ajudar a virar sobre o Ajax. E, no Liverpool, o Origi, que não é 9, mas entrou fazendo a função, marcou dois gols de centroavante na classificação sobre o Barcelona.
Se você ainda precisava de um bom motivo para ir ao Beira-Rio no domingo assistir a Inter e Cruzeiro, vá e espere pela batalha dos camisas 9. Um clássico de dois centroavantes raiz. Como nos velhos tempos.
Na carreira
Guerrero clube a clube
Bayern B (2002-2005), 67 jogos, 49 gols
Bayern (2004-2006), 45 jogos, 13 gols
Hamburgo (2006-2013), 183 jogos, 51 gols
Corinthians (2012-2015), 130 jogos, 54 gols
Flamengo (2015-2018), 115 jogos, 43 gols
Inter (2019), 7 jogos, 4 gols
Seleção peruana (2005-2014), 92 jogos, 37 gols
Total (2004-2019), 639 jogos, 251 gols
Fred clube a clube
América-MG (2003-2004), 51 jogos, 33 gols
Lyon (2005-2009), 123 jogos, 42 gols
Fluminense (2009-2016) 288 jogos, 172 gols
Atlético-MG (2016-2017), 83 jogos, 41 gols
Cruzeiro (2004-2005 e 2018-2019), 106 jogos, 76 gols
Seleção Brasileira (2005-2014), 40 jogos, 18 gols
Total (2003-2019), 691 jogos, 382 gols
Em 2019
Fred
20 jogos
1623 minutos
16 gols
0,8 gol/jogo
Guerrero
7 jogos
550 minutos
4 gols
0,57 gol/jogo