O Zeca versão santista ainda não desembarcou no Beira-Rio. O lateral (esquerdo) arisco e que era uma arma ofensiva importante em diversas formações da equipe paulista segue um tanto apagado. Porém, no primeiro Gre-Nal das finais do Gauchão, Zeca foi um esforçado marcador. Bem como o seu parceiro de função, Iago.
Sem Bruno, lesionado, e que poderia ser uma opção na contenção, a tarefa de Zeca talvez fosse a mais espinhosa do clássico 419: parar Everton. E, de certa forma, a missão foi cumprida. É claro que em alguns momentos o camisa 11 do Grêmio levou a melhor — e Lomba salvou. Foi Zeca, por exemplo, quem mais desarmou no Gre-Nal. Talvez até pela necessidade, uma vez que o Inter perdeu o seu ladrão de bolas, Rodrigo Dourado, por lesão, e ainda no começo da partida do Beira-Rio, ficou sem o substituto Rithely — que saiu contundido e que foi substituído por Rodrigo Lindoso.
Para ajudar a conter o lado esquerdo gremista, de Cortez e de Everton, Zeca contou com o auxílio de Edenilson e de D'Alessandro. Do outro lado, Iago tinha o auxílio de Patrick e, muitas vezes, de Víctor Cuesta no embate com Léo Gomes e Alisson. Iago, por sua vez, não foi o apoiador costumeiro, mantendo bem mais os seus resguardos defensivos no clássico. Tanto é assim que, por diversas vezes, a ponte aérea defesa-ataque, consagrada pelo zagueiro Paulão em 2016, foi vista no Inter de Odair Hellmann.
Para o lateral-esquerdo campeão da Copa do Brasil de 1992 com o Inter Daniel da Costa Franco, o comportamento de Zeca e de Iago foi o correto para um Gre-Nal decisivo.
— O lateral exerce uma função que é muito mais do que somente defender. O lateral precisa ter muita consistência defensiva. É importante a passagem dele para a parte, oferecendo alternativa ao ataque. Porém, em um Gre-Nal final, a primeira função do lateral se torna defender. Zeca tinha Everton pela frente, um desafio e tanto. O mesmo vale para o Iago. Num Gre-Nal, e isso é desde sempre, um lateral pensa duas vezes antes de subir, levar bola nas costas, e ganhar o apelido de "avenida" — avisa Daniel. — Não creio que, para a final da Arena, o panorama se modificará tanto assim. Em um primeiro momento, os laterais se manterão como marcadores, podendo se soltar mais conforme o andamento do clássico — aposta o ex-lateral.
Na cotação de GaúchaZH dos jogadores do Gre-Nal 419, os laterais não chegaram a receber notas altas, mas foram bem avaliados pelo desempenho no Beira-Rio:
Zeca: teve a missão mais ingrata de Porto Alegre neste domingo. Parar o arisco Everton é missão quase impossível. Zeca levou dribles, cometeu faltas, sofreu, correu. Mas, no geral, sobreviveu. Quarta tem mais. Nota 5.
Iago: juntou-se a Nico pela esquerda e apareceu em triangulações com Patrick. Defensivamente, não passou trabalho. Nota 6.
Naturalmente, a atuação de Zeca no clássico causava maior curiosidade, devido ao lado esquerdo gremista, do que a de Iago. Ao final da partida, o técnico Odair Hellmann elogiou a participação do seu camisa 37:
— É bom ressaltar o jogo coletivo que o Zeca fez. Se falou todo o tempo que ele seria atropelado pelo Everton, e ele fez um bom jogo coletivo. Não é que o Inter estivesse desajustado. O Grêmio adianta os dois laterais, o meia vem para jogar curto e eles criam uma superioridade numérica. Quando o Lindoso entrou, até se restabelecer o sincronismo, caíam o Jean Pyerre, o Maicon e o Cortez por aquele lado. Quando ajustamos isso novamente, fiz a troca de lado entre o Nico e o D'Alessandro, para levar um pouco de perigo nas costas do Cortez. Então, é um jogo de xadrez. Mas dali não saiu nenhuma situação perigosa. Foi uma posse que não se traduziu em situações de gol.
Campeão do Mundial com o Inter e da Copa do Brasil e do Gauchão com o Grêmio, o ex-lateral-esquerdo Rubens Cardoso acredita que os laterais fizeram um bom clássico no Beira-Rio. Sobretudo, com os necessários resguardos defensivos em uma final de campeonato.
— A primeira missão do lateral é cuidar da parte defensiva. É saber o que a sua equipe pode oferecer para uma final. Já joguei finais por Grêmio (de Tite) e por Inter (de Abel Braga). No Grêmio, tinha muito mais liberdade para avançar, era quase um atacante. No Inter, jogava em uma linha de quatro. Precisava marcar mais do que apoiar. Na final, os laterais precisarão ter a sensibilidade, a percepção do jogo, para saber a hora de subir. Nenhum treinador vai dizer: "Vai lá e apoia bastante". Você precisa analisar a partida. É o jogo que vai te dizer ou não se pode apoiar. Tem de se ter convicção neste apoio e, sobretudo, confiar no seu time. É a equipe que dá essa confiança, é o time quem vai dar a um dos laterais a melhor condição de atacar — ensina Rubens Cardoso.
Na Arena, o Inter de Zeca e de Iago pode buscar o seu primeiro título. E uma conquista que o clube não obtém desde a turma de 2016.