A derrota dos reservas do Inter para os reservas do Grêmio passou pela expulsão de Nonato, aos 28 minutos do primeiro tempo? Possivelmente. Mas o jovem jogador não será repreendido pelo clube. Há o entendimento de que o cartão vermelho foi didático. A comissão técnica do Inter trata o caso como mais uma lição no processo de crescimento daquele que está sendo preparado para ser o herdeiro de D'Alessandro a partir da próxima temporada. O cabeludo camisa 33 será blindado pela direção colorada e por Odair Hellmann.
Afinal, a avaliação interna é que o meia acabou recebendo o cartão vermelho por excesso de vontade. Num período de sete minutos, cometeu três faltas, duas delas passíveis de cartão amarelo — e no amigo Matheus Henrique. Aos 21 anos, começando apenas a sua quarta partida pelo Inter, na casa do grande rival, com a torcida contra e sem qualquer titular em campo para ajudar a equipe, Nonato não servirá como bode expiatório para o revés no clássico 418, conforme os bastidores colorados. Ainda assim, Odair terá uma conversa com o promissor meia.
Na cotação de GaúchaZH, o editor Felipe Bortolanza descreveu assim a nota 3 dada para Nonato:
"Pelo que vinha mostrando, era a maior esperança colorada. Ficou só 29 minutos. Abusou das faltas e escapou do vermelho ao chutar Matheus Henrique. No lance seguinte, puxou o gremista e fez fiasco no seu primeiro clássico".
Depois, em seu perfil no Instagram, Matheus Henrique publicou o seguinte texto, em solidariedade ao amigo:
"Somos rivais apenas dentro de campo, independentemente de tudo, levanta a cabeça, sou um dos seus maiores fãs, te amo!"
Curiosamente, bem antes de Nonato nascer, em 28 de novembro de 1982, Renato Portaluppi (aos 20 anos de idade), então um talentoso ponta oriundo da base, que começava a dar os primeiros passos como titular do Grêmio — e pouco mais de um ano antes de se tornar o maior jogador da história do clube —, foi expulso justamente aos 28 minutos do primeiro tempo do Gre-Nal da final do Campeonato Gaúcho.
No Estádio Olímpico, o Inter havia marcado o 1 a 0 com o centroavante Geraldão quando Renato passou a reclamar do árbitro Carlos Martins. Protestou tanto que recebeu o cartão vermelho. Ainda no calor da expulsão, o preparador físico do Grêmio Júlio Espinosa partiu para cima de Renato e o chamou de "moleque irresponsável". Na cotação do clássico, o camisa 7 recebeu "nota zero". Com um jogador a menos e perdendo por 1 a 0, o Grêmio tentou equilibrar as ações, mas Geraldão acabou marcado o segundo gol na etapa final, e o Inter saiu bicampeão estadual no Olímpico.
— Depois daquela final, Renato recebeu apoio de todos nós. A vida seguiu, pois este tipo de coisa acontece dentro de campo, com quem está lá, e dependendo do aspecto psicológico, da pressão, da adrenalina — recorda o ex-volante e atual comentarista Batista, companheiro de Renato naquela final. — São coisas que seguem, tudo depende do momento, da ansiedade. Quando as coisas estão dando errado e você tenta resolver. O que houve com o Nonato, na Arena, foi o mesmo. É claro que a expulsão desequilibrou o jogo, mas quem está em campo sabe que muita vezes é difícil de se segurar. Não há como condenar o companheiro. Nonato é jovem ainda, quis mostrar que estava comprometido com o time e com o clássico. Passou do ponto. Mas serve de alerta para os próximos jogos — acrescenta Batista.
Vice de futebol à época, Paulo Odone lembra que Renato foi xingado pela torcida depois do jogo. Sem redes sociais em 1982, por pouco o atacante não teve o carro danificado pela torcida ao deixar o Olímpico, recorda o ex-presidente.
— Os torcedores ficaram revoltados com ele. Teve dificuldades para deixar o Olímpico naquele dia. Mas sabíamos que o Renato era extraordinário, seguramos a bronca e tratamos de dar força a ele — conta Odone. — Aquela expulsão no Gre-Nal ocorreu porque o Renato vinha sendo provocado em todos os jogos. Em um momento de frustração, quando tomamos o gol, ele explodiu. Ainda não tinha a maturidade necessária para suportar provocações. Depois, se tornou o que sabemos. Acredito que o Inter deva fazer o mesmo com o Nonato: dar força ao menino. É questão de maturidade, apenas — acrescenta o vice de futebol gremista em 1982.
Ainda na Arena, no noite de domingo, abatido, Nonato deixou o gramado acompanhado pelos seguranças do Inter. Depois do jogo, sorteado para o exame antidoping, demorou a reencontrar os companheiros. Quando voltou ao vestiário, recebeu apoio dos jogadores e do treinador. Mais tarde, foi chamado à porta do vestiário. Matheus Henrique, seu companheiro de categorias de base no São Caetano, queria lhe dar um abraço.
— Isso só acontece com quem está em campo — disse o volante gremista ao amigo.
Dentre os poucos experientes colorados na Arena estava o armador Camilo, um dos primeiros a passar confiança a Nonato, após a exclusão do clássico:
— Nonato está nos ajudando muito, crescendo bastante. É um aprendizado na carreira dele, mas vai levantar a cabeça, e nós temos de ajudar a elevar a sua autoestima.
O técnico Odair Hellmann prometeu uma conversa com Nonato, inclusive com a revisão dos lances que levaram o árbitro Anderson Daronco a expulsá-lo, a fim de orientá-lo para os clássicos e para os demais grandes jogos futuros.
— Nós vamos conversar, por se tratar de um jovem. Nonato entrou na Libertadores, isso é tudo parte do crescimento profissional. É assim que se desenvolve. Vamos visualizar os lances para ver se dava para ele esperar um pouquinho mais (antes de fazer as faltas), mas nada de cobrança, tudo dentro da normalidade, com relação a isto. É claro que ele não queria ser expulso, ficou chateado — disse o treinador colorado.
Se no vestiário Nonato recebeu o apoio dos companheiros, e até dos rivais, nas redes sociais o jogador foi alvo da fúria dos torcedores.
— Ele se assustou com a reação de muitos torcedores no Twitter — comentou um amigo do meio-campista.
Por enquanto, Nonato continuará como opção ao time titular. Odair seguirá apostando na experiência de Patrick — com Rodrigo Dourado mais Edenilson formando o tripé no meio-campo —, enquanto Nonato segue em processo de maturação, esperando pela camisa 10 em 2020.