Com apenas quatro pontos após quatro rodadas, seu pior começo de Gauchão da década, o Inter abre fevereiro com preocupação. Tanto em resultado quanto em desempenho, o time que estreará na Libertadores tem pouco mais de um mês — e quatro partidas — para se recuperar e devolver a confiança a um grupo que terminou o Brasileirão 2018 em terceiro lugar.
Para isso, o primeiro passo é entender onde estão os erros que marcaram janeiro. Neste começo de temporada, há equívocos, segundo analistas e os próprios membros do clube, nos três pilares de um clube: jogadores, comissão técnica e direção. De reforços que ainda não deram resultado a peças que já estavam no Beira-Rio e deram respostas insuficientes, de sistema de jogo não encaixado a modelo manjado pelos adversários, os problemas ficaram escancarados em menos de 400 minutos de bola rolando até agora.
Dos jogadores contratados pelo Inter, nenhum se destacou ainda. À parte Rafael Sobis, as caras novas chegaram ao Beira-Rio sem grande badalação. Bruno, Rodrigo Lindoso, Matheus Galdezani (que se lesionou), Neilton, Guilherme Parede e Tréllez não empolgaram os torcedores. Na opinião do colunista de GaúchaZH Leonardo Oliveira, a falta de dinheiro tira a possibilidade de maiores gastos.
— A responsabilidade da direção neste começo vacilante é amenizada pelas questões financeiras. Sem dinheiro no caixa e ansioso por uma venda que não acontece, o clube buscou no mercado opções baratas e usou de criatividade. Os investimentos foram mínimos e ocasionais. Nenhum jogador, à exceção de Sobis, com estofo suficiente para resolver as carências de 2018 — aponta.
Porém, apesar do declarado mau momento financeiro, o Inter não esconde que poderá buscar outros nomes caso o desempenho dos atuais atletas continue insuficiente.
— Um clube grande como o Inter nunca está fechado ao mercado. Estamos atentos e esse início de temporada também serve para fazer a análise do elenco — disse Roberto Melo, vice de futebol.
O início de ano também deixou claro que há defasagem física. Na calendário do futebol brasileiro, janeiro costuma ser um mês de dificuldades, principalmente nos confrontos entre os times da Primeira Divisão com as equipes do Interior.
— O começo de temporada atropelado e insano com cinco jogos em 14 dias (a ser completado na segunda-feira), serve de salvaguarda. A espinha do Inter é formada por jogadores que têm como virtude o vigor físico. Moledo e Cuesta, por exemplo, ainda estão totalmente fora de tom. Edenilson é outro. Ainda não equalizou a energia que lhe sobra com a qualidade técnica que todos sabemos ter. Iago precisa de um anteparo na esquerda, urgente. D'Alessandro, do alto dos 36 anos, é sabido, precisa ser usado com parcimônia — completa Oliveira, que lembra ainda:
— Há casos que repetem o 2018, como Patrick e Pottker, cujas dificuldades parecem se prolongar sem limites.
Sobre a comissão técnica, Odair Hellmann começa 2019 com as mesmas preocupações que levou para as férias, na opinião do colunista. A lateral direita é uma lacuna ainda a ser resolvida. O meio perdeu consistência a partir da queda técnica de Patrick. O ataque precisa de um centroavante que dê a estabilidade que um time teve com Leandro Damião.
Para o narrador do SporTV Márcio Meneghini, o treinador também cometeu erros pontuais nas partidas. Ele exemplifica o duelo mais recente, com o Veranópolis:
— Odair poderia ter lançado mão de Sarrafiore logo após a expulsão do volante Kaio. O time ficou sem criatividade no meio de campo. Claro que houve parcela de culpa dos jogadores, com chances desperdiçadas e até um pênalti perdido.
O planejamento da temporada, ainda que tenha começado mal, não foi alterado. Em dezembro, o Inter anunciou que usaria titulares com mais frequência a partir da quarta rodada. O fato de o time titular ter enfrentado o Pelotas não teve a ver com resultados, uma vez que os reservas haviam estreado com vitória no Gauchão, diante do São Luiz. O que mudou mesmo foi a pressão fora de época, antes mesmo da metade da primeira fase.
— O Inter não está acostumado a perder. Nos cobramos muito e vamos melhorar para, na segunda-feira (dia 4, contra o Brasil-Pel, no Beira-Rio), ter uma vitória e emendar uma sequência. Não podemos mais deixar passar pontos, precisamos fazer gols e não levar — prometeu Nico López, que recordou de outros momentos de pressão vividos pelos jogadores:
— Viemos juntos há dois anos, saímos da Série B, superamos as expectativas no ano passado. A crise de 2018 (no início do Brasileirão) foi pior e passamos. Nosso grupo é maduro e logo vamos melhorar.
A visão é compartilhada por Meneghini:
— Defendo que é preciso mais dois ou três jogos com time titular para uma análise mais justa de Odair. Início de temporada permite experiências e erros.
Se o diagnóstico está feito, os próximos dias serão de buscar a tranquilidade que janeiro levou embora. Até porque, em março, começa a Libertadores. E não haverá tempo para recuperação.
Quais os erros e os responsáveis na derrota para o Pelotas?
Pedro Ernesto Denardin
Narrador da Rádio Gaúcha em Inter 1 a 2 Pelotas
Antes de tudo, precisamos relevar um ponto: era o primeiro jogo da temporada e, como diz o Rafael Colling, a perna estava pesada mesmo. Apesar disso, considero que o Inter não fez uma má partida. Pelo contrário, das primeiras apresentações do Gauchão, foi a melhor.
Começou em cima, fez um gol, criou outras chances e não fez. Então, em duas bolas levantadas para a área, levou dois gols. Isso mostra uma falha no sistema defensivo em bolas paradas. Depois, teve mais outras tantas oportunidades, acertou a trave, o goleiro do Pelotas fez alguns milagres. Acontece, faz parte do futebol. Dos três insucessos, o menos pior foi esse aí.
Quais os erros e os responsáveis na derrota para o São José?
MARCELO DE BONA
Narrador da Rádio Gaúcha em São José 2 a 0 Inter
O maior erro deste jogo, para mim, foi na escalação. Odair mandou a campo um time sem articulador. Compreendo o rodízio, não é esse o ponto. O que não entendo é montar um time sem um cara para organizar. Patrick, que está em má fase e até perdendo a titularidade, foi o responsável pela criação. Individualmente, outros jogadores foram mal, como Iago.
Mas é preciso lembrar esse foi um jogo em que, sim, grama sintética e calor prejudicaram muito a qualidade. Tanto que jogadores dos dois times (não só do Inter) não conseguiam trocar dois passes, tentaram sempre a bola pelo alto, em um campo que deixou ruim para passe e domínio.
Quais os erros e os responsáveis no empate em Veranópolis?
GUSTAVO MANHAGO
Narrador da Rádio Gaúcha em Veranópolis 1 a 1 Inter
Considero três os responsáveis diretos pelo tropeço na Serra: Odair Hellmann, Rafael Sobis e William Pottker. O técnico por ser tímido nas substituições quando teve um jogador a mais por 40 minutos no segundo tempo. Não se faz o que Odair fez com Sarrafiore, ao colocá-lo aos 42 minutos do segundo tempo.
Rafael Sobis tem sua parcela de responsabilidade direta ao errar o pênalti que mataria o Veranópolis, se fizesse o 2 a 0. E William Pottker? Bom, o gol que ele perdeu, logo no primeiro tempo, foi pior do que o pênalti perdido. Um gol feito. Nem goleiro tinha. Na pequena área. Até eu, 18 anos mais velho e 40 quilos mais forte, faria. Podem acreditar.