Pode a saída de Leandro Damião para o futebol japonês ter desmanchado o sistema ofensivo do Inter? Com quase a mesma formação que encerrou o Campeonato Brasileiro em terceiro lugar na temporada passada, o ataque do time de o time de Odair Hellmann ainda não se encontrou em 2019.
A comparação com o vizinho é inevitável. Seja qual for a escalação utilizada, o Grêmio vem atropelando os adversários no Gauchão, enquanto o Inter tem sofrido para furar as defesas rivais. O time de Renato Portaluppi marcou 11 gols a mais nas cinco primeiras rodadas do campeonato.
Dos quatro gols marcados pelo Inter, somente um saiu de pés de atacante: Nico López, no empate com o Veranópolis. Com 0,8 gol por jogo, o time apresenta a pior média dos times da Série A do futebol brasileiro neste começo de temporada prática, deixaram a equipe o lateral-direito Fabiano e Damião. Questões de começo de ano e "perna pesada" à parte, a comparação com o vizinho é mortal. Seja qual for a escalação utilizada, o vem atropelando os seus adversários no , enquanto o Inter sofre para obter uma vitória. Sem uma definição de ataque titular, há pelo menos duas vagas abertas no sistema ofensivo. Titular mesmo, no momento, apenas Nico López.
Se os setores ofensivos forem comparados, a diferença então é de 15 gols gremistas contra apenas quatro gols colorados nas cinco primeiras rodadas do Campeonato Gaúcho. Além disso, destes quatro gols, somente um foi marcado por atacante: Nico López, no empate com o Veranópolis.
A escassez de gols do Inter impressiona, mesmo quando ela é comparada com formações do próprio clube de Gauchões passados. Até mesmo o time de 2016, marcado para sempre com o rebaixamento no Brasileirão, fez mais gols. Foram 10 nas cinco rodadas iniciais do Estadual — e ainda por cima saiu campeão, na final contra o Juventude. Nos últimos anos, o sistema ofensivo atual só encontra parâmetro na equipe de Antônio Carlos Zago, em 2017. Ainda assim, o time de Zago fez seis gols em cinco partidas, sendo que cinco gols foram com meio-campista e atacantes.
Enquanto busca uma solução para a falta de gols, o técnico Odair Hellmann vai rodando atacantes. Abriu a temporada com Pedro Lucas, Guilherme Parede e, depois, Neilton. O gol da vitória em Ijuí foi do zagueiro Emerson Santos.
Na surpreendente derrota em casa, por 2 a 1 de virada, para o Pelotas, o treinador foi de William Pottker e Nico López, terminando o jogo com quatro atacantes: o uruguaio, mais Sobis, Parede e Neilton. O gol foi contra, em jogada de Pottker.
O Inter perdeu para o São José por 2 a 0 tendo no ataque Sobis, Neilton, Wellington Silva, depois Tréllez, e Parede. No 1 a 1 em Veranópolis, enfim, um gol de atacante. Nico marcou, enquanto Sobis ainda perdeu um pênalti. Além deles, Tréllez esteve em campo, bem como Neilton e Pottker. Por fim, na vitória sobre o Brasil-Pel, com gol de Rodrigo Moledo, Odair usou quatro atacantes: Nico, Tréllez, Neilton e Pedro Lucas.
— O Inter contratou atacantes de nível técnico que não condiz com a grandeza do clube: Parede, Tréllez e Neilton. Talvez devesse ter contratado menos, mas com maior qualidade. Tirando Guerrero e Nico, que são acima da média, além do Sobis e do Pottker, o Inter tem quantidade, mas sem a qualidade necessária para jogar no Beira-Rio — dispara Sandro Sotilli, o maior artilheiro da história do Gauchão, com 111 gols. — Por que o Inter não vai ao Palmeiras e tenta Borja ou Deyverson, por exemplo? O Inter precisa é de um 9 matador. Talvez seja o Guerrero. Mas talvez seja tarde demais. Não adianta ter 10 bons. É melhor ter dois, três muito bons e que resolvam. Ainda assim, é um começo de trabalho. E o atacante precisa muito marcar o primeiro gol para tirar este peso das costas. Vejo os atacantes do Inter ansiosos para marcar. Atacante sem gols é um jogador triste. Depois do primeiro gol, tudo ficará mais leve para cada um deles — acrescenta Sotilli.
Para o ex-centroavante do Grêmio, do Wolfsburg-ALE e da Seleção Brasileira e atual comentarista dos canais SporTV Grafite, o Inter está pagando o preço pela expectativa gerada em 2018:
— É até estranho ver o Inter com dificuldades no ataque. Afinal, o time foi quase todo mantido, perdeu apenas Damião e Fabiano. Por ter feito uma campanha surpreendente no ano passado, se esperava que o time começasse bem a nova temporada. É claro que a torcida tem o direito de ficar preocupada, pois a Libertadores está logo ali, mas é apenas o começo do ano. Os jogadores ainda não estão no condicionamento físico e mental ideais. É questão de tempo para engrenar. E vai engrenar no Gauchão para brigar pelo título com o Grêmio. A falta de gols do ataque é consequência desta retomada de condicionamento.
Além dos atacantes já utilizados e de Paolo Guerrero, ainda há no Beira-Rio Jonatan Alvez. Nada indica que o uruguaio será aproveitado. Mas, como o Inter ainda não conseguiu negociá-lo, ele segue à disposição — e ainda pode ser inscrito no Estadual. Pedro Lucas, um dos quatro pratas da casa ungidos ao elenco principal, surge como a principal esperança de gols no imaginário do torcedor.
— Vamos corrigir ganhando, é o que sempre digo a eles (os jogadores). Corrigir, como fizemos na bola parada, e é assim que nós vamos evoluir em outras áreas. Precisamos tentar traduzir as oportunidades em efetividades para achar mais tranquilamente as vitórias. Certamente, nós vamos continuar buscando alguma possibilidade de variação (de jogo), até porque nós recebemos jogadores novos e precisamos buscar um encaixe. Precisamos de um coletivo forte. Nós tínhamos uma identidade no ano passado, e perdemos isso. Mas vamos trabalhar o mais rápido possível para termos uma equipe competitiva e buscarmos aquele nível que tínhamos ano passado, quando fizemos um grande Brasileiro. Isto é um processo, uma busca — comentou Odair, após a primeira vitória no Beira-Rio na temporada, o 1 a 0 sobre o Brasil-Pel.
Para o vice de futebol Roberto Melo, o momento é de ajustes, e não de desespero:
— Sempre se tem correções a fazer, ainda mais no início da temporada. Mesmo quando conseguimos um bom desempenho, não podemos achar que está tudo certo. A comissão técnica e o treinador estão vendo isto no dia a dia. A gente já vem com um condicionamento físico melhor, mas sempre há margem para melhorar, para conseguirmos entrar com o pé direito na Libertadores. É início de temporada. Tenho certeza que, com mais tranquilidade, vamos conseguir corrigir e as coisas vão andar de uma maneira melhor.
Neste domingo, o Inter e seu sistema ofensivo irão ao Alfredo Jaconi enfrentar o Juventude, dono de um dos sistemas defensivos mais frágeis no Gauchão. É a chance de um recomeço.
Oito homens (mais dois à espera) e um gol
Nico López
3 jogos
270 minutos em campo
1 gol
Em 2018 (no Inter): 50 jogos e 14 gols
Pedro Lucas
2 jogos
122 minutos em campo
Em 2018 (no Inter sub-20 e Inter B): 30 jogos e 12 gols
Neilton
5 jogos
250 minutos em campo
Em 2018 (no Vitória): 56 jogos e 21 gols
Guilherme Parede
3 jogos
123 minutos em campo
Em 2018 (no Coritiba): 47 jogos e 12 gols
William Pottker
2 jogos
138 minutos em campo
Em 2018 (no Inter): 39 jogos e 10 gols
Wellington Silva
1 jogo
58 minutos em campo
Em 2018 (no Inter): 17 jogos e 1 gol
Santiago Tréllez
3 jogos
180 minutos em campo
Em 2018 (no Vitória e no São Paulo): 41 jogos e 7 gols
Rafael Sobis
3 jogos
123 minutos em campo
Em 2018 (no Cruzeiro): 38 jogos e 7 gols
Paolo Guerrero
Estreará somente a partir de 5 de abril, quando a sua suspensão por doping chegar ao fim
Em 2018 (no Flamengo e na seleção do Peru): 12 jogos e 4 gols, em 749 minutos em campo
Jonatan Alvez
Escanteado
Em 2018 (Junior Barranquilla e Inter): 39 jogos e 6 gols
Quantos gols o Inter fez até a 5ª rodada do Gauchão de...
2019 - 4 gols (1 gol foi marcado por atacante, 2 gols foram marcados por zagueiros e 1 gol foi contra )
2018 - 8 gols (5 gols foram marcados por meias e de atacantes)
2017 - 6 gols (5 gols foram marcados por meias e de atacantes)
2016 - 10 gols (7 gols foram marcados por meias e de atacantes)
2015 - 8 gols (6 gols gols foram marcados por meias e de atacantes)
2014 - 12 gols (7 gols foram marcados por meias e de atacantes
Confira o desempenho dos ataques entre os 20 clubes da Série A em 2019
Fluminense - 17 gols em 6 jogos pelo Carioca e pela Copa do Brasil (média de 2,8)
Grêmio - 15 gols em 5 jogos pelo Gauchão (média de 3 gols por jogo)
Atlético-MG - 14 gols em 6 jogos pelo Mineiro e Pré-Libertadores (média de 2,3)
Flamengo - 12 gols em 5 jogos pelo Carioca (média de 2,4)
Santos - 12 gols em 5 jogos pelo Paulista (média de 2,4)
Bahia - 12 gols em 6 jogos por Baiano e Copa do Nordeste (média de 2)
Avaí - 11 gols em 6 jogos pelo Catarinense (média de 1,8)
Cruzeiro - 10 gols em 5 jogos pelo Mineiro (média de 2)
Goiás - 10 gols em 5 jogos pelo Goiano (média de 2)
Ceará - 9 gols em 3 jogos por Cearense e Copa do Nordeste (média de 3)
Vasco - 9 gols em 5 jogos pelo Carioca (média de 1,8)
Chapecoense - 9 gols em 7 jogos pelo Catarinense e pela Sul-Americana (média de 1,2)
CSA - 9 gols em 6 jogos por Alagoano e Copa do Nordeste (média de 1,5)
São Paulo - 8 gols em 5 jogos pelo Paulista (média de 1,6)*
Botafogo - 5 gols em 5 jogos pelo Carioca (média de 1)*
Palmeiras - 5 gols em 5 jogos pelo Paulista (média de 1)
Athletico-PR - 4 gols em 5 jogos pelo Paranaense (média de 0,8)
Corinthians - 4 gols em 5 jogos pelo Paulista (média de 0,8)
Inter - 4 gols em 5 jogos pelo Gauchão (média de 0,8)
Fortaleza - 3 gols em 3 jogos pela Copa do Nordeste (média de 1)
*Sem os resultados dos jogos de São Paulo e de Botafogo, que jogariam na noite de terça-feira.