Por Amanda Munhoz, José Luis Costa e Leonardo Oliveira
Uma das negociações mais questionadas da gestão Vitorio Piffero, a contratação do argentino Ariel Nahuelpán deixou, conforme o Ministério Público (MP), um rastro de propinas para Carlos Pellegrini que se estendeu até a última semana de fevereiro de 2017 — ou seja, dois meses depois que a direção responsável pelo rebaixamento do clube já havia passado o comando para a atual gestão.
A aquisição dos direitos de Ariel é vista com estranhamento pelo MP desde a sua origem. Conforme a investigação, a negociação começa sem qualquer menção a intermediários na vinda dele do futebol mexicano. Em 20 de junho de 2016, o Inter assinou um termo de compromisso com o argentino. Uma semana depois, firmou o contrato definitivo, válido por um ano. No dia 22 de julho, no entanto, segundo apurou o MP, o clube assinou um termo de compromisso para pagamento de comissão de intermediação, no qual a beneficiada seria a R. Braun Esportes, Entretenimento e Marketing, empresa de Rogério Braun. O valor seria de R$ 495 mil, a ser pago em duas parcelas de R$ 247,5 mil no dias 25 de agosto e 25 de setembro.
Na relação de depósitos entregue pelo Inter ao MP, consta apenas o pagamento de uma das parcelas, com atraso. Em 16 de dezembro, cinco dias depois do rebaixamento e já com a nova direção eleita, o clube teria pago R$ 243.787,50 a Braun, por meio de um cheque. Uma semana depois, no dia 23, Pellegrini teria recebido uma transferência de R$ 15 mil da conta da empresa do agente. Em 27 de dezembro, foi detectado pelo MP outro depósito, de R$ 20 mil. A investigação aponta ainda uma última transferência da R. Braun para a conta do ex-dirigente em 22 de fevereiro de 2017.
A nova gestão do Inter só conseguiria colocar um ponto final na relação com Ariel uma semana depois dessa última transferência. Mas a sombra do jogador argentino permaneceria no caixa do clube por mais alguns meses. Com Braun como procurador, o centroavante aceitou acordo para rescindir o contrato e foi para o Barcelona-EQU. Na calorenta Guayaquil, Ariel viu entrar em sua conta R$ 418.431,70 a título de rescisão, divididos em cinco parcelas de R$ 83.686,34. De acordo com a apuração do MP, não há indícios de que Ariel tenha relação com as supostas negociatas entre agentes e o dirigente.