Se o Brasileirão fosse uma casa de apostas, Odair Hellmann, certamente, seria o azarão. Mas o treinador do Inter já dá mostras que é candidato a quebrar a banca e a faturar o troféu de campeão em 2 de dezembro. Aos 41 anos, o técnico colorado parece mexer certo em cada peça para manter a engrenagem do time funcionando. Foi assim quando perdeu Leandro Damião por longo período, quando ficou sem William Pottker, em ausências pontuais de Rodrigo Dourado, de Patrick e de Edenilson, e até mesmo para romper com uma era: transformar D'Alessandro em reserva.
Quando recebeu Zeca, um turno atrás, o treinador não teve dúvidas em colocá-lo direto no time, mesmo que o ex-Santos não tivesse o melhor entrosamento com a equipe ou que fosse escalado como volante. Foi assim no Gre-Nal da Arena, o 0 a 0 que virou o jogo para o Inter no Campeonato Brasileiro, e tem sido assim rodada a rodada.
A derrota mais recente do Inter no Brasileirão ocorreu há mais de um mês, 26 de julho, por 2 a 1, para o América-MG, em Belo Horizonte. De lá para cá, foram nove jogos, com sete vitórias e dois empates. Em cada um desses jogos, Odair precisou mexer na equipe e, quase sempre, teve sucesso.
– Odair se preparou muito para viver esse momento. Tem um histórico dentro do clube e conhece tudo que envolve o Inter. Tem muito conhecimento das características dos jogadores, e isso interfere diretamente nas mudanças, na escolha da melhor formação. A relação com os atletas também é fundamental no início deste trabalho - entende o técnico Rogério Micale, do Figueirense, que trabalhou com o treinador colorado na conquista do ouro olímpico em 2016. - O fato de D'Alessandro estar no banco é outro exemplo. Só uma pessoa com conhecimento do atleta e uma relação tão grande de confiança poderia tomar uma decisão dessas. Os dois lados se respeitam – conclui.
Na goleada sobre o Botafogo, o Inter acabou perdendo Danilo Fernandes para o restante da temporada. Marcelo Lomba assumiu o gol e passou a ter atuações superiores ao titular. Na vitória "do granizo", sobre o Atlético-MG, o Inter mostrou solidez defensiva com Fabiano na lateral direita – Zeca havia se lesionado contra os cariocas.
Na partida seguinte, mais um clássico, nova goleada. Desta vez no Maracanã, os 3 a 0 sobre o Fluminense foram construídos pelos uruguaios Nico López e Jonatan Alvez. O camisa 86 cumpria o seu segundo jogo como titular após a nova baixa de Leandro Damião devido a dores nas costas.
O turno chegou ao fim com o Inter lutando pela liderança, e com um herói improvável, em nova aposta de Hellmann: Camilo. A vitória sobre o Paraná, com recorde de público no novo Beira-Rio, saiu dos pés de um jogador muitas vezes esquecido pelos torcedores e que bateu uma falta com perfeição, aos 50 minutos do segundo tempo. Pouco antes, Odair havia lançado Rossi a campo, e foi ele quem sofreu a falta para o gol de Camilo.
– Treinador é igual a jogador. Se está com confiança, passa confiança aos atletas e as coisas funcionam. Quem está no banco responde. A diretoria deu a confiança que ele precisava no início. E o Odair encarou com responsabilidade. A gente percebe claramente que o time tem a mão dele – garante o ex-treinador e agora comentarista do Sportv, Muricy Ramalho.
Na rodada seguinte, a abertura do returno, sem Nico López, sem Lucca, sem Jonatan Alvez, sem D'Alessandro nem Damião, Camilo e Rossi foram colocados no time titular. Foi Rossi quem fez a assistência para Patrick marcar o gol da vitória sobre o Bahia, na Arena Fonte Nova.
Passados dois empates sem gols diante do Palmeiras e Cruzeiro, veio outro jogo emblemático. O Flamengo veio ao Beira-Rio desfalcado, com Paquetá na Seleção, Diego suspenso e Réver fora por uma questão contratual. O 2 a 1 deu a liderança ao time de Odair Hellmann. E os gols, mais uma vez, tiveram a mão do treinador. A começar pelo lançamento de Edenilson que achou Pottker. O atacante dominou e marcou o primeiro. Ele passou por uma seca de gols e, mesmo assim, foi mantido pelo treinador. No segundo, Nico López cobrou escanteio para Dourado garantir a vitória. O uruguaio, aliás, vive o seu melhor momento no clube desde sua chegada, em 2016. Nesta temporada, recebeu um tratamento intensivo de Odair e comissão ténica, e está respondendo em campo.
Por fim, a liderança foi mantida em um clássico cheio de polêmicas fora do campo. O 1 a 0 sobre o Grêmio teve Uendel como convicção do treinador colorado para o lugar do suspenso Iago. E foi justamente dele o passe na medida para Edenilson completar para o gol.
– O Uendel é um jogador experiente, de qualidade técnica. Fico feliz e tenho certeza que o crescimento do Iago passa muito pela qualidade do Uendel não só como profissional, mas também como pessoa – disse Odair, ao fim do clássico.
Agora, Odair Hellmann precisa ter uma carta na manga na Arena Condá, onde jamais venceu a Chapecoense desde o retorno dela à elite do futebol.
Os jogos
Uendel, escolhido por Odair para jogar no lugar do Iago, deu o passe para o gol do Edenilson.
No primeiro gol, lançamento longo de Edenilson para Pottker que dominou e mandou para o gol. Pottker foi bancado por Odair até mesmo quando estava em baixa. No segundo, cobrança de escanteio de Nico López - que recebeu um trabalho intensivo de Odair e cia - para Dourado marcar.
Patrick marcou em cruzamento de Rossi, que havia entrado no segundo tempo.
Inter marcou nos acréscimos com Camilo, de falta. O jogador foi o escolhido para entrar no lugar de Jonatan Alvez na etapa final.
Nico marcou duas vezes, e Jonatan Alvez fez outro. O centroavante fazia o seu segundo jogo como titular, depois da baixa de Leandro Damião.