O Campeonato Brasileiro por pontos corridos é, desde a sua concepção, um certame especialmente cruel com o Sport Club Internacional. Ano após ano vamos deixando pontinhos desgraçados pelo caminho. É empatezinho com o Goiás aqui, derrotinha para o Vitória ali e a bola de mediocridade vai crescendo em escala inversamente proporcional à pontuação. Na noite desta quinta-feira (19), dois pontos foram perdidos de uma maneira inaceitável: com gol do zagueiro Paulo André.
Não se pode, no futebol profissional, levar gol do zagueiro Paulo André.
Paulo André é um zagueiro que lê livros. Mais do que isso: os escreve. Paulo André é um zagueiro que pinta quadros, que se utiliza de um vocabulário rebuscado nas suas entrevistas, que liderou o movimento do Bom Senso F. C. Ora, zagueiro não tem que ter Bom Senso, não tem que desenvolver habilidades nas artes plásticas, não tem que escrever coisa alguma. Zagueiro não precisa saber ler.
Mas aí o Inter vai lá e sofre gol do zagueiro Paulo André.
Aí, mesmo que os esforços durante todo o segundo tempo, que chegaram ao ápice no gol — muito bem feito, diga-se — do Wellington Silva (o Mbappé que a gente pode chamar de nosso) tenham sido muito bonitinhos e nos garantido um empate fora de casa, o desastre já estava armado. Um time que leva gol de um zagueiro-artista-plástico não merece sair de gramado algum carregando três pontos.
Aliás, "gramado" é uma palavra muito forte para o piso do estádio do Atlético-PR. É o curioso caso do gramado sintético que se esforça tanto, mas tanto para parecer com grama natural que emula o que ela tem de pior: buracos, sujeira, tristeza e uma total incapacidade de fazer com que a pelota role com o mínimo de controle.
Quem vê o estado que ficaram os uniformes brancos do Inter ao final do jogo poderia apostar que a partida se desenrolou no Parque Ararigbóia, nunca em um estádio aprovado para um jogo da primeira divisão do Brasileirão.
Assim, superando um carpete tinhoso e sucumbindo à cabeçada de um zagueiro erudito, dois pontinhos ficaram em Curitiba. Perdemos a chance de colar nos líderes, de passar "certos clubes" e de celebrarmos uma impecável volta pós-copa. Que o jogo contra o Ceará, aí em uma grama que é a coisa mais linda do mundo, nos seja melhor.