Há poucas semanas, o Inter ganhou como reforço um daqueles jogadores-raiz, torcedores de infância do clube e que realizaram o sonho de todo guri. Trata-se de Brenner Alves Sabino. O centroavante de 19 anos tem chamado a atenção pela personalidade, pela irreverência e pelo corpanzil de boxeador, apesar da pouca idade.
Brenner esteve em campo no último Gre-Nal, quando o Inter precisava dar uma resposta à torcida. Entrou sem se intimidar, trombou com Kannemann e fez barulho no ataque. Ao final, comemorou o 2 a 0 ao lado de D'Alessandro. A cena dos dois juntos em campo, aliás, talvez se repita a partir das 10h30min deste sábado, quando o Inter encara o Caxias para jogo-treino no Beira-Rio.
Esse é só mais um passo na trajetória do guri do Sarandi, bairro da zona norte da Capital. Foi lá que a mãe, Elisângela Alves Sabino, 42 anos, ouviu orientação de uma professora para colocá-lo em uma atividade extracurricular. Como Brenner já dizia que queria seguir os passos do pai, um centroavante com passagens por Ceará, Veranópolis e São José, a mãe o inscreveu no Atlético Gaúcho, um clube de futebol de salão especializado em treinos infantis.
O que começou como passatempo virou assunto sério para o menino de oito anos. Mesmo que sua função no time não fosse fazer gol, mas evitá-los. Brenner pegou as luvas e entrou em campo no seu primeiro campeonato como goleiro. Era a posição que havia sobrado no time. No fim da competição, levou para casa duas taças, as primeiras — e mais emblemáticas — da carreira: a de goleiro menos vazado e de artilheiro.
— O Brenner sempre gostou muito de futebol, dava tudo o que podia quando estava jogando. Por isso que ganhou esses dois prêmios tão distintos para um mesmo jogador em uma única competição — lembra a mãe.
Hoje com 1m82cm, o atacante na época já dava mostras de que cresceria bastante. Até por isso, encarou o preconceito cedo. Ouvia dos pais dos colegas que não deveria estar ali "jogando com os pequenos" e de que era um "gato", como são definidos atletas que adulteram a idade nos documentos de identificação. Se a mãe sofria ao ter de apresentar a carteira de identidade do filho antes das partidas, o guri brincava com a situação.
— Gato? Eu sou um gato mesmo, mãe. Bem lindo — dizia Brenner aos oito anos.
A bola e os gols no Sarandi o levaram a disputar uma competição na sede da Petrobras, em Esteio. Um olheiro percebeu suas virtudes e decidiu levá-lo para o Grêmio. Ainda que fosse colorado. O guri topou. Encontrou o clube do coração numa final da categoria sub-10. Nada de aliviar. Fez dois gols e deu o título para o Grêmio. Enquanto comemorava com os companheiros, um dirigente do Inter o abordou:
— Vamos jogar de vermelho daqui para frente?
— É só falar com o meu pai — respondeu Brenner, sem titubear.
Apreensiva com a decisão do filho, Elisângela não sabia como comunicar à direção gremista. Para o filho, não havia motivo para pruridos:
— Diz que sou colorado e que vou jogar no Inter.
Assim começa a história de Brenner no Beira-Rio. A quem deve tudo, como ele mesmo disse em sua primeira entrevista coletiva como profissional, na quarta-feira:
— Sou colorado e tudo que eu tenho devo ao Inter. Deu meu primeiro salário, reforma da minha casa. É a realização de um sonho.
A reforma que ele se refere é na casa onde cresceu e passou pelo momento mais difícil como jogador. Brenner tinha 15 anos quando viu um companheiro ser cortado por lesão às vésperas do torneio Nike Brasil. Com o número de inscritos fechado, o centroavante se dispôs ao treinador Fábio Sanhudo a jogar como volante.
— Ele não só mudou de posição como, ao fim da competição, foi eleito o melhor jogador. Nos valeu o passaporte para jogar na fase mundial, em Manchester — lembra Felipe Kssensinski, à época coordenador da categoria.
A experiência na Inglaterra, porém, não está nas melhores lembranças de Brenner. Na casa do Manchester City, rompeu o ligamento cruzado do joelho direito e precisou ficar mais de seis meses afastado dos gramados. O retorno foi lento, e o peso teve de ser controlado rigidamente em razão do seu porte físico. Para que iniciasse a temporada 2017 em alto nível, sacrificou as férias por conta própria. A oportunidade no sub-20 poderia não aparecer de novo.
— Estava passando próximo à casa dele e o vi correndo pelo Sarandi sozinho, em plenas férias, para manter o peso. E isso é o Brenner. Sempre dedicado e focado — elogia Kssensinski, hoje gerente da Escola Rubra e coordenador de captação do Inter.
A estreita rua de chão batido, onde ainda moram a mãe, o pai, Vitor, e os dois irmãos, Denner, 22 anos, e Alana, 13, não é mais território de Brenner. Desde que foi chamado por Odair Hellmann para integrar o grupo e teve a foto estampada ao lado de Leandro Damião no site do clube como jogador profissional do Inter, ele passou a morar em um apartamento no mesmo Sarandi.
O resto da história, o torcedor colorado já tomou conhecimento. De destaque da Copa São Paulo com seis gols marcados neste ano, virou opção para o ataque. Na Copinha, mostrou personalidade e uma confiança acima da média. Os gols eram comemorados com danças e brincadeiras. Na comemoração da vaga para a semifinal, um 4 a 0 sobre o Santos, fez a festa da torcida nas redes sociais ao pular pelo gramado com um papelão imitando a tampa de um caixão com o escudo do Grêmio.
Aliás, Brenner também transita com desenvoltura pelas redes sociais. Costuma registrar seus passos em sua conta no Instagram e adotou para si uma hashtag inspirada numa música do funkeiro Nego do Borel. Em tudo que posta, assina #NegoResolve. A torcida espera que Brenner resolva mesmo.