De volta aos treinos após a cirurgia no braço esquerdo, fraturado em partida contra o Juventude em 9 de setembro, Klaus voltou a sentir o ambiente que tanto lhe faz falta. Trabalhar com os companheiros, simular ações de jogo, conversar sobre as partidas, prestar atenção nas preleções e armar a estratégia para enfrentar os adversários foram as tarefas comuns dos jogadores de futebol que o zagueiro ficou alijado nas últimas semanas. Ainda que não deva voltar a atuar até o fim do ano, a simples participação na rotina do time traz um ânimo para terminar 2017 e iniciar 2018 de contrato renovado e pronto para disputar sua primeira Série A.
O braço esquerdo ainda exibe uma cicatriz de mais ou menos 10 centímetros, mas o que realmente ainda incomoda é o punho. Os movimentos são limitados, a força ainda não voltou definitivamente. Entretanto, voltar a segurar objetos deu confiança para seguir a fisioterapia enquanto se reacostuma ao clima do jogo.
— O pior já passou. Foi difícil, difícil mesmo. Mas no tempo no departamento médico tive apoio de familiares, amigos e dos companheiros daqui. Senti uma dor forte, perdi a mobilidade e foi ruim não poder fazer as coisas que estamos habituados. Mas agora está melhor — disse o jogador, em entrevista a Zero Hora na quinta-feira, após o treino.
A adaptação à ausência dos jogos se deu com a frequência que aparece no estádio. Virou o torcedor mais assíduo do Beira-Rio. Chega cedo, vai ao vestiário, ouve as últimas palavras, participa do grito de guerra e depois sobe ao camarote onde "assiste" ao jogo. As aspas se explicam: o "assistir" de Klaus significa gritar, bater com as mãos, chutar as cadeiras, ficar nervoso e comemorar.
Só consegue manter a tranquilidade quando vive o cotidiano do DM e da fisioterapia, lugar que mais vai desde uma semana após a lesão. Depois de sete dias em casa, com braço dolorido, em repouso absoluto, com um gesso que lhe cobria do ombro aos dedos para garantir a imobilização necessária para a recuperação, pôde, enfim, voltar ao CT Parque Gigante. Os primeiros passos da manutenção da forma física, tanto de peso quanto muscular, tiveram a supervisão do coordenador de performance do futebol colorado, Elio Carravetta.
— Passei o tempo todo fazendo bicicleta e exercícios para as pernas na academia. O braço ficava imóvel, mas seria muito pior se não tivesse mantido bem o resto do corpo — comentou o zagueiro.
Daquele fatídico lance que encerrou sua temporada, Klaus pouco se recorda. No primeiro tempo do jogo, no Alfredo Jaconi, saltou para cabecear a bola no ar e trombou com Ramon. Na queda, o braço serviu de apoio para o corpo. Não resistiu.
— Lembro de ir na bola. Tinha certeza que ia pegar, era uma jogada comum, que acontece muitas vezes. Depois, só lembro da dor, no vestiário. Foi muito forte, tanto que nunca mais revi nada daquele lance na TV, na internet — falou.
Apesar da resistência a rever o que aconteceu, o medo já passou. Klaus fez (e ainda faz, na verdade) uma atividade especial para não ter qualquer receio de fazer suas atividades normais. Carravetta e o auxiliar técnico André Luis estão nesse processo. Arremessam a bola para cima e mandam cabecear. Permitem pequenas quedas. Incentiva a realizar movimentos normais. Cravam estacas no chão e pedem que toque nelas e se localize para simular ações do jogo:
— As pessoas me perguntam por que não jogo, se não uso a mão. Mas, na verdade, só não colocamos a mão na bola. A mão ajuda a manter o equilíbrio, localizar o adversário e o companheiro. Sem contar o tanto de choque que tem em uma partida. Ainda não estou pronto mesmo.
O retorno deve ocorrer no Gauchão de 2018. E a expectativa é pela estreia na Série A, que deve ocorrer no ano que vem. O processo pode ser acelerado nesta sexta-feira, quando o Juventude, seu ex-clube, do técnico Antônio Carlos Zago, seu ex-técnico, que inclusive o indicou ao Inter, recebe o Oeste. Um empate neste jogo dá ao Inter a possibilidade de subir matematicamente no sábado, com uma vitória simples sobre o Vila Nova. Por isso, ninguém lhe tira da frente da TV nesta noite:
— Vamos torcer, é claro. Tenho amigos lá, conversamos várias vezes. Claro que todos querem dar o melhor, fazer o que precisam por seus clubes, se isso nos ajudar por tabela, melhor. Depois, podemos pensar em buscar o título, que marca a história do jogador.
A partir daí, o zagueiro buscará aprimorar sua maior virtude, a força nas bolas por cima, e reforçar quesitos que considera importantes, como a saída de jogo. Mas isso é assunto para depois da confirmação do acesso e das férias, que Klaus já decidiu o que vai fazer. Ou melhor, o que não vai fazer: pedalar e jogar vôlei.