Edenilson não lembrava que domingo é Dia dos Pais. Concentrado para a partida do Inter contra o Londrina, no sábado, só pensa em não repetir no segundo turno da Série B os maus momentos vividos em parte do primeiro. Só depois do jogo, de preferência com vitória, o volante programará um almoço com seus pais, que ainda moram no bairro Navegantes, zona norte da Capital, e o resto de sua família – mulher e dois filhos pequenos.
O ex-office boy de uma clínica de oftalmologia, que mal fez categoria de base (praticamente saiu da várzea porto-alegrense para o profissional do Caxias, com uma breve passagem no Guarani, de Venâncio Aires), atendeu Zero Hora e falou sobre momento do Inter, expectativa de subir, polêmicas em redes sociais, satisfação de morar em sua cidade e seu sonho de infância.
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Vamos começar pelo seu desempenho: como faz para jogar tão bem o segundo tempo?
(Risos) Sempre pensei que os primeiros 45 minutos são os mais difíceis de cada partida. Porque nos primeiros 10, 15 minutos, os times se estudam ou já atacam forte, até para assustar e testar o adversário. Depois, aquele período antes do intervalo é quando as equipes ainda têm mais fôlego para imprimir um ritmo forte. Na Série B, os primeiros tempos dos adversários são sempre bons contra nós, mas, no segundo, eles acabam dando uma relaxada. É nesse momento que temos que aproveitar para crescer e fazer os gols.
Sua posição atual é a ideal?
É a posição que gosto de desempenhar. Guto (Ferreira, técnico) deixa livre para me movimentar com o Pottker e o Winck no lado direito, temos nos entendido bem.
O que precisa melhorar?
Sempre me cobrei muito a questão dos gols. Faço poucos gols. Às vezes, até prefiro dar a bola para o companheiro fazer o gol. Mas treino bastante finalizações e acredito que depois que a primeira bola entrar, o resto vem naturalmente. Joguei com o Paulinho, no Corinthians, e ele também não fazia muitos gols. Mas depois se acostumou e nunca mais parou. Sigo esse exemplo.
Em quem se espelha na sua posição?
Paulinho é um deles, principalmente na função que faz na Seleção. Mas tem também Elias, Ramires...
Tinga?
Tinga fazia gol de montão. Se eu conseguir fazer metade do que ele fez, está ótimo.
O que faz nas horas de folga?
Gosto de ver filmes, ouvir música. Mas meu passatempo é ficar com meus filhos, tenho dois meninos, um de quatro anos e outro de cinco meses.
Mas gosta de rede social também, né?
É um assunto meio complexo. Até acompanho, mas tem coisas que a gente não tem vontade de ver, outras tem vontade de responder...
Pergunto porque já teve polêmicas...
Às vezes, faço impulsivamente, sem refletir. Às vezes, faço e me arrependo.
É o caso do Lucas Leiva(no início do ano, discutiu pelo Instagram com o ex-jogador do Grêmio, que havia debochado do Inter por ter perdido o título gaúcho para o Novo Hamburgo)?
Claro, não tinha nada que ver com a postagem dele, não era para ter feito. Mas também não pedi desculpa. Até porque fazer e pedir desculpa é ficar remoendo uma coisa que já passou. Fiz, passou. Mas não tenho nada que ver com a vida dele, com as postagens. Na hora, todo mundo tem uma ação, somos seres humanos.
Foi uma reação de torcedor?
A zoação no futebol faz parte, independentemente de quem seja. Agora, que estamos na Série B, é fácil falar. Deixamos para torcedor. Mas às vezes ouvimos piada em outros lugares, algumas vezes não gostamos.
Você falou em "agora que estamos na B". Então pergunto: até quando o Inter vai ficar na Série B? Outubro, novembro...
O importante é subir. Não sei quando, acredito que nossa equipe esteja madura para subir. Mas temos que provar a cada partida que estamos prontos. Não adianta fazer projeção.
Uma coisa é buscar motivação para sair de um momento ruim. Mas como se procura motivação para permanecer no momento bom?
Como já vivemos o momento difícil, temos de trabalhar para não voltar. É como estar no fundo do poço e conseguir sair. Não queremos voltar para a guerra que se criou desde o rebaixamento, com os protestos e tudo mais.
Conseguia sair de casa naqueles momentos?
Não saía, para evitar problema. De repente alguém fala alguma coisa que não gostamos e pode ficar ruim. Por mais que sejamos profissionais, não é fácil ouvir as coisas. Temos orgulho de ter chegado até aqui, passamos por muitas coisas, não é bom ouvir alguma coisa que não é verdade.
Agora passou a turbulência?
Acho que não passou ainda. Futebol é momento. Vivemos um momento bom, mas sabemos qualquer deslize que pode devolver a turbulência. Foi importante para o crescimento da equipe ter essa turbulência no começo. Falávamos que era melhor ter agora do que no final, se estivéssemos brigando para entrar no G-4. Aprendemos com ela e não queremos voltar para ela.
Quem segurou a barra nos momentos difíceis?
Temos um grupo muito bom. Não esperava encontrar um grupo tão bom em qualidade de futebol e também de pessoas boas. Não deixamos que o D'Ale pegue a responsabilidade sozinho, até para não sobrecarregá-lo. Sabemos da história dele aqui. Lógico que a maior parte das coisas ele absorve para a gente. Mas teve momentos que outros jogadores, uns nove ou 10, também cresceram.
Sente-se inserido nessas lideranças?
Me sinto importante. Cada jogador tem que se sentir importante no clube. É um momento delicado que o Inter vem passando esse ano, e cada um tem de sua parcela de responsabilidade para jogar, para treinar, para passar informação para os outros. Muitos de nós nunca tínhamos jogado a Série B. Então precisamos de toda ajuda de fora.
Ter jogado fora do Brasil ajudou a ter esse entendimento?
Com certeza. Meu período na Itália foi bom para o crescimento. O Campeonato Italiano é um dos mais difíceis, tem muita cobrança tática, de organização. Procuro levar isso para dentro de campo.
Está com saudade de Gênova?
Ah, eu gostava de lá. Mas como sou daqui, gosto bastante também. Nas minhas férias sempre vim para Porto Alegre, mesmo quando estava na Itália, depois no Corinthians. Quando posso, venho. Ou vou para Caxias do Sul, onde estão os parentes da minha esposa.
Ser campeão é uma motivação especial?
O primeiro pensamento tem que ser subir. Depois, uma coisa leva à outra. Antes crescemos no campeonato, depois vamos almejar o título. Queremos dar sequência nas vitórias para poder nos aproximarmos do título.
Tem um significado especial jogar em Porto Alegre?
Muito. Vim por escolha minha. Sempre quis jogar aqui. Meu sonho é morar em Porto Alegre e ser reconhecido na rua pelo que fiz. Acho legal sair com meu filho e ouvir o pessoal falar que fiz alguma coisa legal na cidade que escolhi para morar. Quero fazer algo grande no Inter, e a Série B é o primeiro passo. Quero estar junto quando o Inter retomar o caminho das vitórias que sempre teve.
*ZHEsportes