Pode não parecer, mas a partida deste sábado, às 16h30min, contra o Criciúma no Beira-Rio é vital para a sequência do Inter na Série B. Com uma campanha constrangedora em casa e sob contínuos protestos da torcida, após cada revés como mandante, o trabalho de Guto Ferreira pode sofrer sérias contestações caso não vença o time de Luiz Carlos Winck.
Por isso, a semana colorada foi de mobilização, de treinos longe dos torcedores e de trabalhos específicos. E de camisa nova. Diante do Criciúma, o Inter estreará o seu novo fardamento. Zero Hora conta como foi a semana do Inter, e o que Guto pretende modificar na equipe para que ela, enfim, assuma a postura de favorito para voltar a Série A e conquiste a liderança da Segunda Divisão.
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Diante do Criciúma, serão seis retornos ao time titular do Inter. Se nas últimas partidas o elenco esteve desfalcado por lesões, suspensões, convocações e questões contratuais, chegou a hora de reagrupar. E em todos os setores haverá alterações. Na defesa, Cláudio Winck deverá ser o escalado. Se não cai no agrado de todos os torcedores, ao menos é um lateral-direito de origem, e não uma improvisação – como foi com Edenilson ou Fabinho, até agora. O argentino Victor Cuesta, recuperado de lesão muscular, volta à defesa. É o único zagueiro canhoto do Inter e jogará ao lado de Klaus – que tem a confiança de Guto Ferreira. Na lateral esquerda, Uendel assume de vez a função e não deverá mais ser deslocado para o meio-campo.
Edenilson é outro que retorna ao time. Depois de ficar fora da desastrosa partida contra o Boa por questões burocráticas, o volante volta ao meio-campo. Nesse setor, ele atuará ao lado de Felipe Gutiérrez. O chileno, que ainda não havia trabalhado com a nova comissão técnica porque estava disputando a Copa das Confederações na Rússia, estreará com Guto.
Por fim, o ineficiente ataque muda todo. Se no jogo contra o Boa apenas um chute foi dado pelo Inter na direção do gol, é provável que esse quadro mude diante dos catarinenses. Willian Pottker e Nico López, ambos recuperados de lesões musculares, formarão o setor.
– Os jogadores que estão voltando têm histórico bastante importante. Jogadores que vinham fazendo a diferença, como Pottker, como o Nico, o próprio Cuesta que tem passagem por seleção. Formavam a espinha dorsal da equipe que já estava, o que traz um conjunto melhor. A gente espera que isso possa gerar uma produção final com vitória – declarou Guto Ferreira.
Marcação sob pressão
O ar puro do eco resort Vila Ventura abriu os pulmões dos jogadores do Inter, e Guto decidiu adiantar a marcação. Adiantou tanto que, a partir deste sábado, o Inter tentará sufocar o adversário em seu próprio campo. Haverá marcação desde a saída de bola com o goleiro. A ordem é forçar para que a bola seja rifada para o meio-campo. No treino, Pottker atacava o goleiro adversário, enquanto Nico, Juan (que nesse treino substituiu D'Alessandro, que optou por fazer trabalho de reforço muscular), Gutiérrez, Edenilson e Dourado avançavam sobre laterais e zagueiros tentando roubar a bola. Com tal pressão, a defesa era obrigada a apelar para os chutões ou recuar para o goleiro, que invariavelmente se atrapalhava na jogada.
Porém, quando a defesa conseguia sair jogando, Winck, Klaus, Cuesta e Uendel se adiantavam, a fim de acabar com a jogada, nem que fosse fazendo falta.
– Uma das formas de evitar o contra-ataque é cometer a falta tática no ataque, para não deixar a jogada seguir. Se for possível roubar a bola, melhor. Caso contrário, temos que fazer a falta.
Em meio ao treino, Guto pediu que a pressão não fosse feita "tão na frente", esperando que o adversário chegasse até a intermediária colorada.
– Todo adversário joga contra o Inter como se fosse final. E tem que ser para nós também. A gente pecou muito em alguns jogos em se desproteger, achar que estava ganho, como contra ABC e Juventude. Muitas vezes, temos que jogar como um time pequeno, entre aspas. Jogando na retranca, esperando ver o que o adversário vai fazer, deixar que ele venha para cima – comentou D'Alessandro, ainda em Viamão. – Sou da época em que o adversário vinha jogar na retranca e nós tocávamos três, quatro. O Beira-Rio fazia diferença. Temos que retomar isso aí. O torcedor está fazendo a sua parte, e nós não estamos dando o retorno dentro de campo. Temos um time de qualidade, mas não basta falar, tem que fazer. Temos ferramentas para pressionar o adversário, colocar em uma pressão em que ele não consiga sair, em que nós consigamos controlar o jogo para que o adversário sinta, e que nós consigamos ganhar – emendou o capitão colorado.
Saída de bola com menos gente
Até esta semana, o Inter tinha uma característica para construir suas jogadas ofensivas desde a defesa. Um dos volantes – normalmente Rodrigo Dourado – recuava até quase a linha de zagueiros e deveria partir dele o primeiro passe para a frente, com laterais um pouco mais à frente, outros dois meias próximos e um trio ofensivo. A ordem era trocar passes até que algum espaço abrisse na defesa adversária. Quem for ao Beira-Rio no sábado deverá observar um novo estilo. Haverá menos gente participando dessa ação. A começar pelo próprio Rodrigo Dourado. O volante será uma opção de passe ofensivo para os zagueiros Klaus e Cuesta. Os laterais poderão avançar mais, quase na linha de Gutiérrez e Edenilson. Quem fica livre é D'Alessandro, inclusive está habilitado para recuar e buscar a bola. Nico e Pottker revezam e se movimentam. O objetivo é trocar menos passes e ser mais incisivo para finalizar. Volantes, meias, atacantes e até os laterais estão autorizados a pisar na área para concluir a jogada ou pegar rebote.
– Foi uma saída de bola diferente essa que trabalhamos, com menos gente. Às vezes, tínhamos até quatro, cinco jogadores envolvidos, diminuímos isso. Espero que dê resultado no jogo – comentou Uendel.
O contra-ataque é a melhor defesa
A falta de conclusões e a morosa saída para o ataque preocupam a comissão técnica do Inter. Por isso, Guto fez um treinamento em alta intensidade para corrigir esses problemas. Começando com Danilo Fernandes. O goleiro iniciava a jogada lançando para um jogador posicionado na lateral do campo. Em seguida, o jogadortabelava com alguém no meio-campo e ganhava o passe à frente. Levava a bola para a linha de fundo e ouvia os gritos de Guto ou do auxiliar André Luís:
– Não cruza, passa! Olha para quem está na área e passaaaaa!
E assim foi feito repetidas vezes. Quem cruzava precisava olhar e tentar encontrar o companheiro, e não atirar a bola a esmo para a área. O aproveitamento de "passes" até que foi bom. Mas os gols não saíram na mesma proporção.
Depois, na parte final do treino, mais um treino de contra-ataque. Com nove jogadores, o adversário atacava o time titular do Inter, que contava com todos os 10 jogadores de linha no campo de defesa. A ordem era roubar a bola, sair da pressão dos adversários e encontrar William Pottker, que estava posicionado para o contra-ataque.
– Tivemos muitos exercícios de um contra um para romper linhas, para ter penetrações. Só esses exercícios são suficientes? Não, mas vão trazer confiança. Se chega uma situação de que fez bem no treinamento, tem confiança de arriscar no jogo. Futebol é um jogo e todo jogo vence quem arrisca. Temos de correr riscos ofensivos sem dar muita opção de riscos defensivos – avisou Guto Ferreira.
De volta para casa, com treino fechado e bolas paradas
Na sexta-feira, o Inter voltou ao Beira-Rio. E de camisa nova. Se na noite de quinta-feira o clube apresentou o novo uniforme, pela manhã, Guto aproveitou a véspera do jogo para fechar os portões à imprensa e reforçar alguns posicionamentos do time em campo. A preocupação do treinador foi a bola aérea contra a defesa colorada, além das jogadas de bola parada do Inter, como escanteios e cobranças de faltas.
– Temos de valorizar a bola parada. Tem que ter a felicidade de fazer o gol em uma das faltas que tivermos. Vamos enfrentar uma equipe forte defensivamente. Vamos ter de antecipar, bater a bola no ponto certo, o cara entrar na hora certa. Treinado foi, mas, chegar no timing exige muita repetição – referiu Guto.