Caros amigos, meu nome é Paulo Francisco da Silva Paz, mas vocês me conhecem como Chiquinho, lateral do Inter nos anos 2000.
Minha história no clube se iniciou em 1996, na primeira peneira, na qual acabei reprovado. Muitos acreditam que o futebol é só mil maravilhas, mas não é. Retornei no ano seguinte e, de novo, não passei. Em 1998, já com certa bagagem, ingressei no sub-15 do Inter e numa nova fase da vida, pontuada por dúvidas. Até porque foi difícil , como adolescente, deixar o conforto de casa e os braços da família em troca de um sonho. Mas queria me tornar jogador, e isso requer esforço e dedicação.
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A concorrência sempre foi enorme, e as cobranças e o profissionalismo também. Aos 18 anos, tive a primeira experiência na equipe principal. Fui chamado para um treino e atuei com grandes referências do futebol brasileiro. Depois de alguns dias e até amistosos, veio a primeira grande decepção: retornaria ao sub-20. Passei a questionar meu desempenho e deparei com a incerteza em relação ao futuro.
A decepção virou felicidade meses depois. Em 2002, fiz meu primeiro jogo oficial como profissional. Aos 19 anos, o sonho se realizava. No ano seguinte, deparei com uma situação que traria incertezas e mais dúvidas em relação ao futuro: fui diagnosticado com arterite, rara doença neurológica motivada por interrupção de artéria cerebral. Fiquei impedido de jogar, fiz muitos exames, passei por vários médicos e recebi previsões nada positivas. Cheguei a ouvir a triste notícia de que ficaria inválido. Médicos me diziam que deveria me sentir feliz por não estar em estado vegetativo. A minha luta era pela vida e não por jogar futebol. O apoio da família foi essencial. Chorei muito. Mas segui lutando e com muita, muita fé em Deus.
Depois de quase um ano de tratamento, a doença regrediu, e eu retornei ao futebol. Em 2004, vivi meu melhor ano no Inter. Ganhei o apelido de "Xodó" dos torcedores. Os anos seguintes foram de aprendizado: lugares, culturas e idiomas diferentes. Cresci como cidadão, me tornei pai de família e tive a chance de atuar por outros grandes clubes. Errei, acertei e, principalmente, aprendi muito.
Foram 20 anos de futebol. É com alegria que encerro o ciclo dentro das quatro linhas. Porém, outro se inicia. O esporte tem poder na formação de crianças e jovens. Acredito que projetos humanitários no Brasil e no mundo, tendo o futebol como base, poderão ajudar na educação e na formação das novas gerações. Por toda experiência e pelas dificuldades que passei, tentarei ajudar e mostrar os melhores caminhos.
Deixo aqui meu sincero agradecimento a todos que fizeram parte dessa linda jornada. A partir de agora, quero ajudar pessoas a vencerem com o esporte da mesma forma que consegui vencer.