Chegou a hora. A partir deste sábado, às 16h30min, contra o Londrina, no Estádio do Café, o Inter iniciará a sua campanha para deixar a Série B e retornar à Primeira Divisão. Não é apenas participar de um torneio, é obrigação ficar entre os quatro primeiros e voltar à elite. A seguir, Zero Hora apresenta algumas das dificuldades que os colorados encontrarão nesse novo mundo. Confira:
Memes, piadas e afins
– Ué? Procurei as datas do Gre-Nal no Brasileirão, mas não as encontrei.
Piadinhas como essa, muito utilizadas pelos colorados, em 1992 e em 2005, estão apenas começando. E seguirão ao longo do ano, tendendo a se agravar conforme for o desempenho do Inter em campo na Série B. A partir deste 13 de maio, o Inter passará a conviver com um festival de memes nas redes sociais. Azar de um clube rebaixado em tempos de relações pela internet.
– As pessoas têm que relaxar. O Inter vai jogar a Segunda Divisão e já estou me divertindo com isso. Já estou preparados para os jogos aos sábados e às terças. A fase da choradeira já acabou. Agora é hora de curtir. E pensar que, se não ajudar o time agora, teremos mais um ano de Série B. Já vi essas piadas quando o Grêmio caiu. As piadas estão se reciclando, apenas – entende o comediante colorado e comentarista do Sala de Redação Zé Victor Castiel.
Times fechados
Favorito ao título da Série B, o Inter encontrará muitos adversários que jogarão fechados contra ele, buscando evitar sofrer gols e tentar a vitória em, um contra-ataque. E deverá ser assim em boa parte das 38 rodadas do Brasileirão. Sobretudo nos jogos no Beira-Rio.
– O Inter é o grande da Segunda Divisão, é natural que muitas equipes joguem em um sistema mais fechado, esperando para sair em contra-ataques. Principalmente quando jogarem em Porto Alegre – afirma Moacir Júnior, treinador do Botafogo no Paulistão e que deverá assumir nos próximos dias um clube da Série B.
Outsider
O Inter na Segunda Divisão será uma espécie de Real Madrid: o time que todos os demais sonham bater. Pertence a outra turma e será visto como tal.
– Dimensionar o Inter na Série B é até difícil. O Inter está muito à frente, por exemplo, do Londrina, em termos de camisa, de história, de títulos. A nossa folha hoje é de R$ 400 mil (a do Inter é de R$ 7 milhões). É a realidade de um clube do Interior. Não dá para comparar com o Inter, um clube que sequer deveria estar na Série B – comenta Cláudio Tencati, treinador do Londrina, o primeiro obstáculo colorado na Segunda Divisão.
Quem conhece a realidade da Série B aposta que o Inter precisará de pelo menos cinco rodadas para compreender bem como será o restante de sua temporada. Uma realidade inédita no Beira-Rio até então.
– O Inter terá um pouco de dificuldade, sim. Ainda que o Gauchão possa ser usado como referência para a Série B, com jogos competitivos e com equipes que marcam muito. O Inter encontrará equipes técnicas, com perfil de Série A, que jogam e que deixam jogar, e também encontrará times que priorizam a parte física, a marcação, e que são quase imbatíveis em suas casas. E terá de se adaptar a isso. Mas o Gauchão já pode ter dado uma ideia do que será a Série B – pondera o técnico do Londrina.
Os caldeirões
Apesar da mudança de divisão, o Inter não encontrará estádios muito menores pelo caminho. Para quem enfrentou o Botafogo no Estádio Luso-Brasileiro, na Ilha do Governador, na Série A do ano passado, a Segunda Divisão não chegará a ser um drama. Com Arenas em Cuiabá (Luverdense), em Recife (Náutico), e em Fortaleza (Ceará), além de estádios grandes como o Serra Dourada (Goiás e Vila Nova), o Arruda (Santa Cruz) e o Mangueirão (Paysandu), o Inter jogará em alguns estádios pequenos apenas. Mas os caldeirões serão locais inóspitos aos colorados. Um deles, será o Maria Lamas Farache, o Frasqueirão (porque o seu desenho lembra o de uma frasqueira), do ABC de Natal, com capacidade para 14,7 mil torcedores.
– Nosso estádio é um caldeirão. O torcedor fica a dois metros do jogador, cobrando sempre. Estamos invictos há 31 jogos, perdemos pale última vez em março de 2016, para o Salgueiro-PE, pela Copa do Nordeste – avisa Judas Tadeu, em seu 14º ano como presidente do ABC. – Todos querem receber o Inter em sua casa. É o time da Primeira Divisão e o favorito ao título. Lamentei muito que tenha caído. Será o clube mais respeitado da Série B – emenda Tadeu.
Com oito campanhas na Segunda Divisão, o presidente do ABC entende que o Inter não precisa se preocupar com os gramados que encontrará no Brasileirão:
– A CBF exigiu de todos os clubes um padrão muito alto para os gramados. E acredito que todos os campos estarão com o mesmo padrão dos estádios da Série A. O nosso gramado está lindo, um tapete.
Logística
Além de melhores salários do que os seus colegas de trabalho de Segunda Divisão, os jogadores do Inter terão mais mordomias do que os outros. Para evitar o desgastes dos atletas (elemento que é tido como um dos grandes vilões da Série B, devido aos longos trechos viajados), a direção colorada investirá em voo fretados e em hotéis de luxo. Trechos como o retorno de Londrina logo após a estreia, a ida e a volta a Belém para enfrentar o Paysandu, além dos jogos em Recife, contra Santa Cruz e Náutico, estão contemplados na verba de mais de R$ 2 milhões em logística para a disputa do campeonato.
– A Série B é um campeonato diferente. Eu trabalhei várias vezes. A série B é muito difícil. É um campeonato no qual a logística vai ser algo muito importante. Sempre quando jogarem contra o Inter, os clubes menores vão fazer uma guerra. A motivação é maior. É um Gauchão melhorado – afirma Argel Fucks, ex-treinador do Inter. – O Inter vai pegar equipes muito parecidas com o Caxias e o Novo Hamburgo. Vejo o Inter com totais condições de subir à Série A. Tem um grupo forte, agora há uma diferença de jogar a A e a B. Por exemplo: o Vasco montou um time de série A. Começou bem, depois penou. Tem de ter um time mais cascudo, aguerrido, competitivo. É uma competição chata. Você sai de Porto Alegre com 5ºC e chega em Maceió, que tem um calor de 40ºC – acrescenta Argel, que comandou América-RN, Portuguesa e Joinville na Segunda Divisão.
Voltar ou minguar
Clube grande tem obrigação de passar somente uma temporada na Série B. No Brasil, com exceção do Fluminense (rebaixado à Série B em 1997, à C em 1998, e de volta à Série A em 2000, através de um canetaço da CBF, que criou a Copa João Havelange), todos os demais sobreviveram à Segunda Divisão: Grêmio, Botafogo, Vasco, Palmeiras, Corinthians e Atlético-MG. Para tentar voltar aos tempos de glória, o Inter encara a Segundona com um orçamento bem maior do que o de seus concorrentes. São R$ 7 milhões ao mês para sair do atoleiro do lado B do futebol brasileiro.
– A marca Inter foi afetada negativamente com o rebaixamento. A imagem é construída pela história. Caindo, Inter perdeu um de seus grandes orgulhos e ainda terá de seguir vendo o torcedor adversário tirando proveito disso. Como imagem, a perda é muito grande - entende Fernando Fleury, professor de Gestão do Esporte, na Uninove, de São Paulo. – A Segunda Divisão é ruim, mas recuperável. Pode até fazer com que o Quadro Social cresça, pois, no primeiro ano da queda, a torcida tem um sentimento de família, de resgate. Mas, se não subir logo, um clube grande entra em colapso e a torcida passa a mão acreditar mais - adverte Fleury.
E a torcida do Inter está dando a resposta. Depois de perder quase 8 mil sócios (7.770 associados) no ano passado, após o rebaixamento os colorados se voltaram para o clube. Desde a queda, em Mesquita, o Quadro Social voltou a crescer e, em abril, já bateu na casa dos 106.875 associados. Com o lançamento da campanha "Nada vai nos separar", com esses dizeres inscritos na camisa do clube, logo abaixo do escudo, o Inter sonha retomar breve à casa dos 110 mil sócios.
Quem conhece porque já esteve lá (ou os jogadores do Inter que já disputaram as Séries B e C)
Fabinho (América-RN)
Uendel (Ponte Preta)
Victor Cuesta (Huracán)
Brenner (Juventude)
Marcelo Lomba (Bahia)
Ernando (Goiás)
Klaus (Juventude)
Roberson (Juventude)
Alemão (Bragantino)
Ceará (Portuguesa Santista)
Anselmo (Joinville)
Sasha (Goiás)
Reencontro
Quem são os ex-colorados no caminho do Inter
Goleiros:
Jacsson (Santa Cruz)
Renan (Goiás)
Lauro (Ceará)
Zagueiros:
Leandro Almeida (Figueirense)
Laterais:
Edson Ratinho (CRB)
Eltinho (ABC)
Volantes:
João Afonso (Brasil-Pel)
Augusto Recife (Paysandu)
Willians (Goiás)
Atacantes:
Gustavo Papa (Brasil-Pel)
Neto Baiano (CRB)
Jorge Henrique (Figueirense)
Aylon (Goiás)
Leo Gamalho (Goiás)
Mike (América-MG)
Taiberson (Juventude)
*ZHESPORTES