Em 2013, o canal de TV a cabo argentino TYC Sports produziu, para uma campanha publicitária, um vídeo em que mostrava torcedores em atividades rotineiras perturbados pelo Promédio, o sistema de rebaixamento adotado pelo hermanos em que se faz a média dos últimos três campeonatos. O vídeo é uma preciosidade, vale mesmo conferir (confira aqui).
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E bem pode ser adaptado para os colorados. Inquilino do Z-4 desde domingo, quando perdeu para o Palmeiras e viu o Vitória deixá-lo para trás, o Inter faz sua torcida pensar todo o tempo no rebaixamento. Tentamos, então, entender o que passa pela cabeça dos torcedores. Pedimos que colorados abrissem o coração e revelassem o tamanho de sua angústia com a situação dramática do Inter no Campeonato Brasileiro.
A conclusão: por aquelas razões que só um divã ajuda a entender, a aflição aumenta a devoção dos colorados. A média de público aumentou, promessas pipocaram e houve uma renovação da fé.
Claudionir Ceron
Pároco da Igreja Nossa Senhora Aparecida, na Restinga, e diretor do Centro Social Padre Pedro Leonardi
Vivemos em um momento de turbulência entre o purgatório e o inferno. Precisamos alcançar o paraíso (sair do Z-4), abraçar o clube com a esperança de que sairemos desta. Até porque não é hora de procurar culpados, mas, sim, no ano da misericórdia, buscar uma luz. Sabemos: dirigentes e atletas passam, mas a instituição Sport Club Internacional continua. O nosso glorioso Inter não vai cair, até promessa fiz: correr da Paróquia Nossa Senhora Aparecida da Restinga até o Beira-Rio. São 22 quilômetros. A partir dessa iniciativa, coletar 30 toneladas de alimentos para distribuir no Natal. Como prova dessa solidariedade colorada, já passamos de 10 toneladas arrecadadas. Nestes dias de angústias e noites mal dormidas, vejo a esperança nos jogos realizados no Beira-Rio, a torcida fazendo a diferença. Que Nossa Senhora das Vitórias e Mãe Aparecida, com seu manto vermelho, se estendam e protejam toda nação colorada. E que possamos criar otimismo e esperança: o Inter não vai cair, até porque somos colorados de fé.
Giba Assis Brasil
Cineasta
Aprendi com meu pai que torcer (pelo Inter) é acreditar cegamente, mas só durante o jogo. Estamos perdendo por 3 a 0 e faltam cinco minutos? Ainda dá – pelo menos, pra empatar. O juiz apita, e o senso crítico precisa voltar, ou a gente corre o risco do pensamento mágico, da “imortalidade”, de demitir técnico dois dias antes de clássico.
Me convenci de que o Inter ia cair depois do jogo contra o Vitória, quando alguns torcedores quebraram vidros do estádio e picharam casas de dirigentes. Nunca ouvi falar de jogador que tenha melhorado em campo depois de ser ameaçado pela própria torcida. E o roteiro é conhecido: em todos os casos de times grandes que caíram, sempre houve esse tipo de incidente. Sim, time grande cai.
Me convenci de que o Inter não vai cair depois dos 10 minutos finais contra o Coritiba, quando a torcida acreditou e apoiou até o fim, mesmo contra todas as evidências, e foi aí que o Danilo virou Manga, o Vitinho incorporou Claudiomiro e juro que olhei pra casamata e vi o Celso Roth com o bigode do Minelli.Faltando quatro rodadas, ainda posso me convencer e desconvencer muitas vezes, mas vou torcer até o último jogo, e não vou deixar de acreditar em cada jogador que estiver de vermelho. E estendo essa confiança ao presidente Piffero, em quem eu não votei. Força, presidente!
Vamos escapar dessa juntos. Pelo menos aqui, não vai ter golpe.
Marcelo Carôllo
Colunista do blog Colorado ZH
O fantasma te cerca, não te larga. Ocupar uma das últimas quatro posições na tabela de classificação é fazer pacto com esta entidade insistente e irritante. É como ver a vida com um filtro. Não uma vinheta bonita, dessas que a gente usa nas redes sociais. Está mais para uma bolha de sofrimento e agonia, que se transforma toda vez que se escuta a palavra “queda” em uma dor dilacerante.
O rádio falou em “carros rebaixados” e eu tive que trocar a estação. O canal promovia a “eletrizante Série B” e eu já achei que era um sinal. Tudo é um sinal. A pessoa que diz “descendo” quando a porta do elevador abre te faz querer ir de escadas. A caneta vermelha que cai no chão te faz bater na madeira. Toc, toc, toc. Três vezes. Para isolar.
É um fantasma. Cada vez mais perto, cada vez mais presente, cada vez menos sobrenatural. Materializando-se a cada nova semana, a cada nova rodada, a cada vez que alguém repete estas infames palavras-chave. Toc, toc, toc.
Fabrício Carpinejar
Escritor
Desde que o Inter amargou 14 partidas sem vitória, a minha vida mudou. Passei a ser mais secador do que torcedor. Não há descanso dos anjos. Quando torcer a favor não funciona, torço contra. Tirei pontos com o poder da mente do Vitória, do Sport, do Figueirense, do Coritiba, do São Paulo, do Cruzeiro. Nunca fiz tantos cálculos. Virei um estatístico, um matemático. Conto, diminuo, multiplico. Larguei o bloco de notas do celular onde escrevo os meus textos pela calculadora. Guardei a flauta no estojo com medo da corneta. Não faço nenhuma piada sobre os gremistas com receio de perder a língua de Einstein. Nunca fui tão educado entre os amigos e desesperado no estádio. Já teve de tudo contra nós: pênalti roubado, gol nos descontos, penalidade perdida. Não há maior paranoia do que o azar. E agora só resta o Vitória. Mas time grande não cai, time grande é carregado pela torcida.
Clóvis Tramontina
Empresário
Sou um colorado apaixonado pelo meu time do coração! Mas penso que um clube é como uma empresa, um governo, uma associação: quando a gestão não funciona, as pessoas e os processos precisam ser revistos. Como o produto que sai de uma fábrica segue um controle de qualidade, o mesmo deve ser feito com o futebol. O problema não está no futebol, e sim na gestão do clube. Acredito no Inter, e o Inter não vai cair. Força, Internacional, todo mundo ao Beira-Rio para incentivar o nosso clube.
Neto Fagundes
Músico e apresentador do Galpão Crioulo
Um dos nossos orgulhos, daqueles de bater no peito, é dizer que não conhecemos a segunda divisão. Mas uma série de resultados horrorosos, dentro e fora de casa, está acabando com tudo. Aqueles pontos, bah!, estão fazendo uma falta danada. O início do ano nos enganou. Depois do título do Gauchão e do bom começo no Brasileirão, achamos que poderíamos buscar coisas maiores. Mas jamais imaginaríamos que passaríamos por isso. É um pesadelo ter que ficar contando pontos com o Vitória. Esse não é nosso lugar. Mas vamos lá, ainda faltam algumas rodadas. Vamos pensar nos nossos filhos e amigos que também estão sofrendo com a gente, em casa, no rádio, no Beira-Rio. Seguiremos sofrendo. O colorado é assim: sofre mas sempre acredita. Porque, como diz um amigo meu, eu pulo do domingo para a terça-feira para nem pensar em segunda.
Kelly Matos
Repórter e apresentadora da Rádio Gaúcha
Não vamos cair. Não vamos cair. Não vamos cair. Não vamos cair. Não vamos cair. Não vamos cair. Não vamos cair. Não vamos cair. Não vamos cair. Não vamos cair. Não vamos cair. Não vamos cair.