Um jogador nascido em Canoas, mas que fez sua carreira no Chile, é a mudança do time do Inter para buscar uma vaga nas finais do Gauchão. Com William suspenso e o retorno de Fabinho ao meio, chegou a vez de Paulo Magalhaes (ou Paulo Cezar, como é chamado no Beira-Rio), 26 anos, apresentar-se aos colorados diante do São José.
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Com a bênção de Elias Figueroa e do tio Paulo César Magalhães – campeão mundial com o Grêmio, e lateral-esquerdo do Inter ao lado de Taffarel, Winck, Pinga e Aloísio, na temporada 1985/1986 –, Paulo Cezar terá pela frente um jogo decisivo. Até aqui, havia sido titular diante de Aimoré, Novo Hamburgo, Glória e São Paulo. Soma seis partidas com a camisa do Inter.
Paulo Cezar nasceu do amor entre o ex-meia do São Borja Bozó (Osmar Fernando Magalhães) e da chilena Ximena Vergara Lobos. Na metade dos anos 80, o gaúcho Bozó foi contratado pelo Coquimbo Unidos (que na época jogava a primeira divisão chilena). No Chile, ainda passou por La Serena, Unión Española e Antofagasta. Nesse período, conheceu Ximena. Ao final de 1989, o casal embarcou para o Rio Grande do Sul, onde morava a parte brasileira da família. Paulo Cezar nasceu em Canoas. E Bozó rodou por clubes pequenos até que voltou ao Chile para defender o Colo Colo. Paulinho, então por completar cinco anos, foi junto. Para voltar somente ao final do ano passado. Com a seperação dos pais, o lateral ficou morando com a mãe, no Chile. Nas entrevistas, Paulo Cezar responde em espanhol e, por vezes, tem dificuldades com algumas perguntas em português.
– Toda a formação esportiva do Paulo Cezar ocorreu no Chile. Começou com 18 anos no Antofagasta, depois passou rapidamente pelo futebol suíço, jogou no Cobreloa, no Colo Colo e na Universidad de Chile. Apesar da dupla nacionalidade, ele é um jogador chileno, que ainda precisa se adaptar ao Brasil – conta o ex-lateral-esquerdo Paulo César Magalhães, 53 anos.
Paulo César, o tio, recorda que o sobrinho sonhava fazer carreira no Brasil há pelo menos dois anos. Quando o treinador Jorge Sampaoli deixou La U, a ideia de Paulo Cezar começou a amadurecer. Foi o técnico argentino quem montou o melhor time "universitário", com Eduardo Vargas e Charles Aránguiz. A Era Sampaoli marcou também a grande fase de Magalhaes em Santiago.
– Paulo Cezar fez parte do melhor momento de La U. Jogava pela direita e pela esquerda. Também foi escalado algumas vezes como zagueiro e até como volante. Depois, porém, quando Sampaoli ficou somente com a seleção chilena, ele não teve mais o mesmo desempenho – comenta Ramiro Fuenzalida, repórter do jornal chileno El Mercurio.
O ex-camisa 20 do Inter Charles Aránguiz jogou por seis temporadas com Paulo Cezar. Foram companheiros no Cobreloa, no Colo Colo, em La U e na seleção chilena – o lateral era um dos nomes da pré-lista de Sampaoli para o Mundial do Brasil, até se lesionar e acabar cortado da Copa.
– Sempre se deram muito bem, acho até que Aránguiz teve a ver com a ida de Paulo Cezar ao Inter. Como lateral, ele era um jogador que sempre ia bem à frente, um jogador técnico, que chuta bem a gol, porém, sempre foi irregular, de altos e baixos. Depois, saiu porque não estava tendo chances. E quando as tinha, não ia bem. Não rendeu bem na última temporada, muito aquém do jogador que foi com Sampaoli – agrega Fuenzalida.
Em 2009, o Inter se interessou por Paulo Cezar. Chegou a observar o então jogador do Colo Colo, mas não apresentou proposta. No ano passado, porém, com a saída do lateral-direito Léo, os interesses convergiram.
– Conheço o Carlos Pellegrini (vice de futebol do Inter) há anos. Comentei com ele que o meu sobrinho queria voltar ao Brasil. Ele ficou interessado, então, fizemos uma proposta e o Paulo assinou por um ano com o Inter, com possibilidade de renovar o contrato por amsi duas temporadas – diz Paulo César Magalhães.
O tio-coruja, porém, vem dando conselhos ao sobrinho. Com a baixa de William, devido à suspensão pelo cotovelaço em Bolaños, surge a chance para o chileno.
– Paulo Cezar veio para o Inter sabendo que iria disputar posição. William e Artur são muito bons, é uma concorrência pesada. Digo a ele para ter paciência e seguir treinando. Ele é um jogador chileno, de futebol mais pegado, tentando se adaptar ao futebol brasileiro, que é mais técnico. É muito bom no apoio e um jogador forte na marcação – relata Paulo César. – Também disse a ele que, aqui, a torcida é impaciente e imediatista. Que por vezes dar um carrinho e salvar um gol é mais importante do que fazer uma jogada bonita – completa.
Assim como fizeram Ximena e Osmar, Paulo Cezar voltou ao Brasil com a sua mulher, a chilena Romina, para ter um bebê. A pequena Emmi nasceu há dois meses, em Porto Alegre.
– Ele está muito feliz por ter voltado ao Brasil. Agora, precisa se afirmar no Inter – afirma Paulo César Magalhães.
Quinto chileno a vestir a camisa do Inter (depois de Figueiroa, Letelier, Eros Pérez e Aránguiz), Paulo Cezar herdou a icônica camisa 16 colorada – o número de Adriano Gabiru, no Mundial contra o Barcelona.
– Paulo Magalhaes foi bem aqui, mostrou um bom futebol e foi destaque em muitos jogos. Espero que vá melhor ainda no Inter. Espero que leve o bom nome do futebol chileno uma vez mais ao Beira-Rio – diz Elias Figueroa.
Apesar dos elogios do camisa 3, a última temporada do lateral na Universidad de Chile foi fraca. Passou boa parte do segundo semestre na reserva. Na Libertadores de 2015, nas duas partidas contra o Inter, porém, foi titular. No Beira-Rio, quando o Inter venceu por 3 a 1, ele jogou na lateral-direita. Em Santiago, na emblemática goleada colorada por 4 a 0, ele atuou pela esquerda.
– Paulo Cezar Magalhaes sempre foi muito agudo em La U. Sampaoli costumava utilizá-lo para acelerar o jogo da equipe, dar velocidade ao ataque. Mas, no ano passado, o seu nível de jogo ficou bem abaixo do normal. Muitos torcedores o chamavam de "Magalahm", de forma pejorativa, numa referência irônica ao capitão da Alemanha campeã mundial, o lateral Philipp Lahm. Mas essa má fase dele coincidiu com uma etapa muito fraca da Universidad também. Acabou dispensado pelo técnico Sebastián Beccacece, assim que assumiu o time – recorda o repórter chileno Mauricio Arias.
Paulo César Magalhães não dá conselhos somente ao sobrinho. Faz sugestões também a Argel:
– O Paulo é um grande cabeceador. O Inter ainda não explorou algo que ele faz muito bem: gols de cabeça. Já avisei a ele para subir, quando puder. Paulo Cezar ainda fará muitos gols de cabeça pelo Inter.
Magalhaes no Chile:
159 jogos
120 como titular
10 gols
Títulos
Campeão do Clausura 2009 (Colo Colo)
Campeão do Apertura 2011, 2012 e 2014 (Universidade de Chile)
Campeão do Clausura 2011 (Universidad de Chile)
Campeão da Copa Sul-Americana 2011 (Universidad de Chile)
Campeão da Copa do Chile 2012, 2013 e 2014 (Universidade de Chile)
Campeão da Supercopa do Chile 2015 (Universidade de Chile)
* ZHESPORTES