Assim que Rodolfo D'Onofrio, o presidente do River Plate, ingressou no Salón Auditorio, a sala de conferências do Monumental de Nuñez, acompanhado pelo técnico Marcelo Gallardo e pelo grande reforço para a Libertadores, Andrés D'Alessandro, ele anunciou, com pompa:
– Hoje é um dia muito feliz para todos os river-platenses. O dia em que conseguimos trazer de volta ao clube Andrés D 'Alessandro, o que era um antigo sonho da nossa torcida.
A oficialização de Andrés D'Alessandro como jogador do River outra vez foi seguida por aplausos de alguns conselheiros do clube, presentes ao evento. Cerca de cem jornalistas se acotovelavam no salão nobre, mas um tanto decadente, com cadeiras em tecido vermelho e ornamentado por cortinas negras e cor de vinho. O meia já vestia a camisa vermelha, de treino do River.
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D'Alessandro, que é chamado de Andrés, com carinho, pelos "hinchas millonarios", parece ter deixado a maior carga emocional em Porto Alegre. A coletiva de despedida no Beira-Rio foi carregada de sentimentos – e lágrimas. Não que a de Nuñez fosse menos emocionante para quem volta ao clube de origem 13 anos depois de sair. Mas Andrés D'Alessandro parecia bem mais seguro e frio, em Buenos Aires do que foi em seu último dia de Inter.
– Estou muito feliz. Estou com gana de jogar, de ser campeão. Chegar em um River assim, é um luxo. É um clube diferente, que disputa tudo, que quer sempre ganhar e que nos faz sentir saudades – disse D'Alessandro.
O meia brincou quando questionado sobre que número de camisa usará. A 10 está ocupada por Pity Martínez. No River, Andrés D'Alessandro já jogou com a 15, com a 11 e com a 21.
– Posso jogar com a 99, com a 98, com a 97, ou com a 35, que será a idade que farei – desconversou.
A velocidade com a qual a negociação entre River, D'Alessandro e Inter foi feita surpreendeu até mesmo o fornecedor de material esportivo do clube argentino. Na lojinha do clube, no Monumental de Nuñez, nada de camisetas com o nome do novo reforço.
– Ainda não recebemos nada de D'Alessandro. Se o torcedor quiser, até pode colocar o nome dele às costas, pagando mais 100 pesos (R$ 27,21; enquanto que a camisa oficial do River custa 400 pesos ou R$ 108). Mas a verdade é que a Adidas ainda não enviou nada para a nossa loja – comentou o vendedor Jonathan Piñeda.
Entre os torcedores do River, a grande ilusão é ver D'Alessandro erguendo a Libertadores pelo clube. O ex-capitão do Inter conquistou títulos nacionais, mas a torcida sonha manter a Libertadores em 2016.
– D'Alessandro chega em um novo grande momento do River. Ele pode ajudar o time a dar um novo salto de qualidade nesta temporada. A sua qualidade técnica é indiscutível. E precisa se tornar um ídolo de uma nova geração, que não o viu com a camisa do River – afirmou Sebastián Ropero, 22 anos, torcedor do River Plate.
Durante a espera para o embarque, desde Porto Alegre, Andrés D'Alessandro comentou que tinha saudades de dar uma entrevista inteira em espanhol. Justificou que, em sua língua materna, não precisava se policiar tanto com as palavras. Mas na primeira coletiva como jogador do River, ele se mostrou até um pouco preso. Talvez ainda tomando conhecimento da sala de conferências, que não frequentava há mais de uma década.
– Estou com gana de jogar, de ser campeão – declarou Andrés. Esse é um desafio muito grande que assumo agora. Saí do River com 22 anos, volto com 34 – acrescentou ele.
Pela manhã, em meio à chuvarada que caiu sobre Porto Alegre, D'Alessandro foi conduzido à sala de embarque do aeroporto Salgado Filho por cerca de 40 colorados. Queriam uma foto, um até breve, um carinho do ídolo. Quem teve mais sorte foi o estudante de educação física da PUC Guilherme D'Agostini, de 21 anos. Ele estava no voo 7646 da Gol, rumo a Buenos Aires. Vestia a camisa 10, com D'Alessandro às costas, mas a reserva, aquela inspirada no Rolo Compressor – e parecida com a River Plate. Se fardou depois de saber que o jogador iria no mesmo horário para a Argentina. Ganhou autógrafo e foto com o meia.
– Ele fará muita falta, ainda mais em Gre-Nais. Precisamos de alguém do tamanho de D'Alessandro agora – disse D'Agostini.
Os 13 anos de distância entre D'Alessandro e o River talvez tenham feito mesmo uma geração inteira só ouvir falar de seus feitos. D'Alessandro é mais ídolo no Inter do que no River. Ao menos por enquanto. Talvez por isso tenha demonstrado maior sentimento, mais emoção e tenha até chorado ao deixar o Beira-Rio. No voo, no assento 22 F, o meia viu pela janela Porto Alegre ficando pequena e sob chuva. Chegou à ensolarada Buenos Aires assediado pela imprensa – sendo o principal assunto da tarde, nos noticiários esportivos –, mas sem a comoção da torcida.
– Para o River e para o futebol argentino, a volta de D'Alessandro é o retorno de uma grife, de um grande nome, como foi Tévez com o Boca – analisou o repórter da Directv Sports, Leandro Zapponi. – D'Alessandro foi trazido por Gallardo para ser um dos grandes líderes do time. Um River que deixou de ser clássico e que passou a jogar tão duro como o Boca Juniors – ponderou Zapponi.
Ao final da entrevista, D'Alessandro fez pose para as câmeras. Se levantou da mesa, recebeu a camisa branca do River das mãos do presidente D'Onofrio, e a vestiu. A camisa lhe caiu bem, mesmo 13 anos depois. Em seguida, foi bater bola no gramado do estádio que o viu crescer. No domingo, diante do Quilmes, em Nuñez, na abertura do Campeonato Argentino, D'Alessandro poderá ficar no banco ou entrar em campo para receber os aplausos da torcida.
Foi quando uma certeza percorreu a sala de conferências do Monumental de Nuñez: D'Alessandro dificilmente voltará a jogar pelo Inter. Está em casa outra vez, perto de seus familiares e de seus amigos de infância. Ainda que tenha vínculo com o Inter durante todo o ano que vem, ele está trazendo a família para Buenos Aires. Já veio para ficar. Não retornará a Porto Alegre e espera a chegada da mulher e dos três filhos, nos próximos dias. D'Alessandro voltou a ser portenho. Voltou à origem e as suas raízes.
– No Inter, encontrei um lugar onde me queriam. É muito difícil que um jogador hoje em dia fique tanto tempo em um clube. Me receberam muito bem, um de meus filhos nasceu lá (em Porto Alegre). Mas, em se tratando de River, a família acompanha e, no Inter, me deixaram ir porque entenderam que era o River. Todos fizemos um esforço – finalizou Andrés D'Alessandro, jogador do River Plate.
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