O Rio Grande do Sul e, em especial, a torcida do Grêmio despediram-se neste sábado (24) do ex-presidente Luiz Carlos Silveira Martins. Mais do que um vitorioso dirigente, Cacalo foi, durante vários anos, a opinião tricolor que retumbava nos quatro cantos do Estado.
Depois da década em que ajudou o clube a conquistar títulos como Copa do Brasil, Libertadores e Brasileirão, nos anos 1990, Cacalo começou a assinar uma coluna no Diário Gaúcho, do Grupo RBS. Esteve na companhia dos leitores desde a primeira edição, em 23 de abril de 2000.
O advogado e cartola passou a dar vez ao lado comunicador, como também fazia no Sala de Redação, da Rádio Gaúcha. Nas páginas do DG, Cacalo traduziu em palavras a sua Paixão Tricolor. Aliás, foi ele quem consolidou essa expressão como o nome do espaço destinado à opinião gremista no jornal.
Nas colunas, Cacalo vibrou e chorou com os irmãos torcedores. Comemorou e lamentou em verbos. Em mais de duas décadas de Diário Gaúcho, viu o Grêmio vencer, perder, ir para a segunda divisão, sair de uma seca histórica de 15 anos, chegar ao tri da Libertadores, enfrentar o Real Madrid, cair e subir novamente. Cacalo viveu, sentiu e escreveu o Grêmio.
Abaixo, leia cinco colunas históricas que marcaram a trajetória de Cacalo como colunista do Diário Gaúcho.
15 de novembro de 2003 — 100 anos do Grêmio
Século cintilante
Grêmio, grande e imbatível Grêmio! Tuas inesquecíveis vitórias não seriam suficientes para demonstrar a tua grandeza e a luminosidade da tua existência.
Para mexer com o sentimento de um povo, circunstância que envolve alma e coração, não bastam resultados. É preciso fazer chorar, rir, não interessa se de tristeza ou de alegria.
Só a extensão dos teus caminhos é capaz de sacudir os mais profundos sentidos de um ser humano e isto, somente tu, grande Grêmio, és capaz. As tuas proezas afastam-nos do nosso dia-a-dia, tranportando-nos para junto das maiores estrelas do universo. Estrelas essas que carregas em tua bandeira, símbolo de inacreditáveis conquistas, porque nunca igualadas, porque obtidas com o sacrifício de todos que fizeram, fazem e continuarão fazendo a tua luzidia história. Ao sangue para vencer já chegamos, ao topo do Mundo também, a América é nossa.
Grandeza
Quanto mais tu existires, multidões estarão indo ao teu encontro, incorporando-se a essa carreata estelar. É quase impossível escrever, falar ou entender a tua grandeza. Mas ela existe e ninguém duvida disso.
Parabéns, clube centenário, campeão e eterno. Grêmio, razão de viver de uma nação. Salve o 15 de setembro de 1903.
28 de novembro de 2005 - Batalha dos Aflitos - Grêmio campeão da Série B do Brasileirão
Grande Grêmio!
Não haverá jamais algum gremista que esquecerá a jornada épica que levou o Tricolor de volta à Primeira Divisão, de onde nunca deveria ter saído. Prometo a todos os meus amigos e conhecidos que não mais vou discutir amor à camisa, grandeza de clube, garra, raça e outras coisas desse nível.
Nunca mais, até que chegue o fim do universo, não haverá sequer um ser humano sobre essa bendita Terra que presenciará qualquer coisa semelhante ao que assistimos no sábado, no Estádio dos Aflitos, em Recife. Conhecemos outras jornadas heróicas do Grêmio, inclusive em conquistas de grandes títulos, mas epopéia igual à de sábado pago para ver.
Consolidou-se eternamente a glória de um clube, a mística de uma camisa. E não faço essas afirmativas pela conquista do título da Série B, que poderia ter vindo num jogo normal, pois o Grêmio era melhor do que os adversários. Mas daquela forma, com sete contra 11, com dois pênaltis contra, é fato único.
Tudo está no lugar
Como foi bem representado o Rio Grande do Sul! Como elevou-se a autoestima do gaúcho, que vinha tendo alguns revezes, ultimamente, no campo esportivo.
Obrigado, Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense! Obrigado, Rodrigo José Galatto! Obrigado, Anderson Luís de Abreu Oliveira! Minha gratidão a todos os atletas tricolores e à diretoria do clube, que devolveu ao torcedor o orgulho e a honra de ser gremista. Tudo está no seu lugar. O Grêmio campeão do mundo, bi da América, tri do Brasil e firme na Primeira Divisão. São poucos os clubes iguais ao nosso.
10 de agosto de 2015 - Grêmio 5 x 0 Inter - Brasileirão
Goleada histórica e única
São 103 anos desde a última vez em que o Grêmio não aplicava uma diferença de cinco gols sobre o Inter em um Gre-Nal. Quero declarar publicamente que Luan foi o melhor do jogo, mas o personagem do clássico, pela sua valentia, pela honra que faz valer da camisa que veste, pela liderança e pela grande atuação, chama-se Edinho.
E faço isto por uma questão da mais absoluta justiça, com um jogador que teve caráter, personalidade para retomar uma carreira, depois de ter sido afastado do elenco.
Mas na prática não houve nenhuma má atuação no time tricolor. Foi um passeio, que não se via, já disse, há 103 anos. E não foi mais, porque o Grêmio errou um pênalti com Douglas e Luan errou um gol feito.
Páscoa
O Dia dos Pais esteve mais para Páscoa, tamanho foi o chocolate que se viu na Arena. Foi uma demonstração de força e humildade diante do melhor elenco do país, sem falarmos na qualidade técnica de alguns jogadores. Sobre raça e vontade de vencer nem se fala.
Foi uma vitória com a cara do Grêmio, inigualável, diferenciada e consagrando a diferença entre os dois em Gre-Nais de Campeonato Brasileiro.
Mas resta um consolo aos adversários, que foram briosos: ano que vem tem mais um Gre-Nal válido pelo Gauchão e sou mais o Inter.
30 de novembro de 2017 - Grêmio campeão da Libertadores
Comemora, torcedor!
É indescritível, sob todos os aspectos, o tamanho da festa tricolor. Pode extravasar, torcedor, que tu torces para o clube mais vezes campeão da América neste país do futebol. Logo tu, torcedor, que proporcionaste show de paixão e apoio ao teu clube no estádio do Lanús, que lotaste a Arena gremista numa noite em que havia somente um telão e que superlotaste a Avenida Goethe, dando uma demonstração de força com caráter mundial.
Não podemos conter nosso orgulho com a grandeza da nossa equipe, de nosso clube imortal, cada vez mais imortalizado. Não considero nosso clube maior do que nenhum outro, mas é muito diferente ser gremista. É inexplicável nossa alegria, nossa felicidade, nosso reconhecimento a este clube extraordinário e dono dos nossos corações.
Mérito do elenco
Nossos heróis estiveram dentro do campo. Marcelo Grohe não chegou a trabalhar muito, mas foi um dos artífices da campanha. Edilson foi um guerreiro que apareceu nos momentos decisivos. Pedro Geromel, zagueiraço que deveria estar na Seleção Brasileira, e Kannemann, um gigante. Cortez, regular e responsável, e Jailson e Michel, cumpridores em nome do coletivo. Arthur, diferenciado, cotado para a seleção. Luan, craque do time. Fernandinho, de muita utilidade em momentos fundamentais. Ramiro, suando sangue pelo tricolor. Barrios, centroavante que decidiu. E ainda Bressan, confirmando sua valentia, sua força de vontade, seu espírito vencedor. Cícero decidiu a primeira partida das finais e Rafael Thyere sempre deu conta do recado. Foram nossos heróis nesta partida final, mas o elenco integral mereceu o título. O Grêmio é o maior clube da América.
Renato, o inigualável
A conquista é um capítulo especialíssimo para o nosso supercraque Renato. Único no país a ser campeão como atleta e como técnico. Organizou o time, estabeleceu uma estratégia vitoriosa, preservou, apostou, assumiu, dignificou mais uma vez a camisa tricolor, teve o apoio de todos e correspondeu. Renato é um vencedor. Renato é a cara do Grêmio, representa o espírito ganhador desse clube, a imortalidade gremista. Estendo a todos da comissão técnica, Alexandre, Rogério, o professor Rogério Godoy, o homem que colocou Marcelo Grohe a voar no gol gremista. Enfim, todos os profissionais gremistas são vencedores.
Merecem todos os cumprimentos o presidente Romildo Bolzan e o Vice de Futebol Odorico Roman, brilhantes gestores, únicos tricampeões da América, que definitivamente entram para a Historia do Grêmio e do futebol nacional. Esse é o tricampeão da América, o maior do país. Grêmio, mil vezes Grêmio.
Comemora torcedor.
12 de maio de 2018 - Morte de Fábio Koff, ex-presidente e companheiro de gestão no Grêmio
Foram-se todas as lágrimas
Foi muito triste a despedida do presidente Fábio Koff. E não poderia ser diferente. Todas as pessoas que lá estiveram estavam profundamente consternadas com a perda do nosso grande presidente. Pessoalmente, em nossa convivência, somente recebi ensinamentos, apoio integral e sentimentos paternais de parte dele. Foram muitos anos juntos diariamente.
A relação comigo transcendeu aquela de um comandante com seu vice-presidente de futebol. As vitórias que obtivemos foram fáceis de comemorar. Mas, nas derrotas, é que pude perceber, experimentar e aprofundar seu alto sentimento de lealdade e fidelidade. Não entendi muitas vezes de onde ele tirava forças para confortar a todos. Sua perda foi uma choradeira geral, com lágrimas sinceras e comprometidas com sua bondade e generosidade. Mas, enfim, Deus o levou. E, nós, amigos e familiares que ficamos, estaremos sempre lembrando de sua real imortalidade.
O clássico
Vamos à Arena neste sábado dedicar ao presidente Koff a atuação tricolor, torcendo fortemente por uma grande vitória para homenageá-lo
Espero que a comoção que tenha atingido nossos atletas possa ser superada com a mesma garra, dedicação e vontade de vencer que o presidente Koff sempre demonstrou. É um momento muito difícil para um clássico desta grandeza, mas o profissionalismo de nossos atletas deverá enfrentar esta dificuldade. Como ele gostava de dizer e me repetiu inúmeras vezes: que ganhe o melhor, desde que o melhor seja o Grêmio.