A Libertadores de 2024 iniciou para o Grêmio com uma notícia da qual muitos times fogem: o Tricolor irá encarar a altitude boliviana. A estreia pela fase de grupos será a 3.640 metros de altura, em La Paz, contra o The Strongest, em 2 de abril, uma terça-feira, às 21h (horário de Brasília).
Não será a primeira vez que o time gremista terá de enfrentar as dificuldades do ar rarefeito e as consequências que as condições físicas trazem para o corpo humano. Em outras três oportunidades, pela Libertadores, o clube se viu bem longe do nível do mar: trouxe uma vitória e duas derrotas para Porto Alegre.
Bolívar 1 x 2 Grêmio - 3.640 metros
A primeira vez foi contra o Bolívar, em 25 de março de 1983, no Estádio Hernando Siles — ano do primeiro título da América. A partida da terceira rodada da fase de grupos acabou com placar de 2 a 1 para o Grêmio. Reportagem do jornal Zero Hora na ocasião contou que a equipe comandada por Valdir Espinosa fez um primeiro tempo ruim. Em especial, Renato e César não estavam em noite inspirada. O camisa 7 e atual técnico gremista se irritou com a chamada "violência" das jogadas bolivianas.
Foi o goleiro Remi que evitou mais gols na etapa inicial. No segundo tempo, o Grêmio ainda voltou mal e não conseguia encaixar a marcação no Bolívar. Neste momento, a matéria cita que "os jogadores gremistas pareciam sentir os efeitos dos quase 4 mil metros de La Paz".
Espinosa optou por Tarciso no lugar de César e deslocou Renato para o centro do ataque. No desfecho do segundo tempo, o time reagiu e conseguiu a vitória, de virada, com gols de Osvaldo e China, volante "cabeça de área" que, inclusive, classificou o seu gol — uma batida forte, da intermediária — como o mais lindo da carreira.
- Escalação do Grêmio — Remi; Silmar, Leandro, Hugo de León e Casemiro; China, Osvaldo, Tita; Renato, César (Tarciso) e Tonho (Bonamigo). Técnico: Valdir Espinosa.
Cienciano 2 x 1 Grêmio - 3.399 metros
O voo seguinte foi para Cuzco, no Peru, diante do Cienciano, em 3 de abril de 2002. O Grêmio do técnico Tite foi orientado a não marcar no campo de ataque e a evitar bolas longas, para se preservar.
O time segurou as pontas até os 30 minutos da primeira etapa, mas, depois, se viu pressionado pelo modesto esquadrão peruano, que só não construiu vantagem elástica por conta das limitações técnicas. Rodrigo Mendes chegou a deixar o duelo empatado em 1 a 1, mas o Tricolor não resistiu e acabou derrotado com um segundo gol do Cienciano a 11 minutos do término do tempo regulamentar.
Não se sabe se foi efeito da altitude, mas o Grêmio ainda precisou lidar com a diarreia do zagueiro Pablo Hernández. Na preparação para a partida, em Lima, precisou deixar o treino duas vezes para ir ao banheiro, conforme o relato do então repórter Diogo Olivier, enviado especial de Zero Hora. O atleta foi medicado e, mesmo descontado, conseguiu atuar durante todo o jogo, válido pela quinta rodada da fase de grupos, no Estádio Garcilaso de la Vega.
- Escalação do Grêmio — Eduardo Martini; Pablo Hernández, Mauro Galvão e Roger; Anderson Lima, Claudiomiro, Tinga (Rodrigo Fabri), Zinho e Gilberto (Fabio de los Santos); Luís Mario (Emerson) e Rodrigo Mendes. Técnico: Tite.
Naquele ano, o clube caiu nas semifinais da Libertadores. A eliminação veio diante do Olímpia, nos pênaltis, no Estádio Olímpico, em Porto Alegre.
Bolívar 1 x 0 Grêmio - 3.640 metros
Ainda sob a batuta de Tite, o Grêmio viajou a La Paz já classificado para as oitavas de final da Libertadores de 2003. Em 10 de abril, encarou novamente o Bolívar no Hernando Siles, mas não teve a mesma sorte de 1983.
Já com a experiência do ano anterior diante do Cienciano, o treinador gremista implorou ao grupo na preleção: "Não corram à toa". A escalação teve somente quatro titulares Danrlei, Claudiomiro, Amaral e Gilberto — a cabeça já estava na revanche, diante do Olímpia, que seria o adversário da fase seguinte.
Mesmo assim, o fraco Bolívar não acumulou muitas chances. Fez o primeiro e único gol em cobrança de falta aos 17 do segundo tempo, e o Grêmio não teve força (e, talvez, nem vontade) de buscar a reação.
Escalação do Grêmio — Danrlei, Gavião, Renato (Polga), Claudiomiro e Roberto; Emerson, Amaral, Gilberto (Douglas) e Bruno (Rodrigo Fabri); Basílio e Élton. Técnico: Tite
O Grêmio foi eliminado nas quartas de final da Libertadores daquele ano, para o Independiente de Medellín. Era só o início de um trágico ano do centenário tricolor, que, por pouco, também não teve rebaixamento para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro.