Enquanto Renato Portaluppi e os jogadores do Grêmio se preparam para a série de decisões que virão nos próximos dias no Gauchão, na Libertadores e em breve no Brasileirão, o clube também faz movimentos importantes há alguns metros do CT Luiz Carvalho. Em entrevista exclusiva concedida na última quinta-feira (21) a GZH, o presidente Alberto Guerra apresentou a realidade financeira do clube. Números que não ganham tanto destaque no dia a dia para a torcida, mas que se mostram importantes nos menores detalhes do resultado final. São essas decisões tomadas nos gabinetes que refletem diretamente no produto que será visto depois dentro de campo.
E poucos fatos tão importantes se manifestaram nos últimos anos quanto a venda recente dos direitos de transmissão do bloco Libra pra a Rede Globo. Um acordo que injetará, em forma de adiantamento de 10% do acordo por cinco anos, cerca de R$ 70 milhões nos cofres do clube. Dinheiro que financiará investimento em estrutura e, claro, reforços. Confira abaixo as visões do presidente do Grêmio sobre o movimento, o impacto que isso terá no futebol brasileiro e também os consequências na realidade local.
Qual é o impacto da venda dos direitos de transmissão do bloco Libra para o Grêmio?
A gente pode dizer que o primeiro passo da importância da assinatura, desse acordo da Libra junto com a TV Globo, é um passo firme para aquilo que a gente deseja, de fazer a Liga do Futebol Brasileiro. Então, acho que, independente, até antes de entrar nos valores, acho que o mais importante é que esse é um passo importante para o objetivo final, que é a formação da Liga. Mas foi um grande contrato, um contrato muito importante para todos esses clubes pertencentes à Libra, porque nos dá uma segurança de médio prazo de cinco anos para poder retomar a questão da própria Liga e depois ter um contrato, quem sabe, mais longo.
Por que o Grêmio não optou pelo acerto com a Liga Forte, qual é a principal diferença da Libra para a Liga Forte?
A gente entende que pode grenalizar o assunto entre os torcedores, mas cada clube sabe o que é melhor para si. Não sei as razões que levaram os clubes da Liga Forte a fazerem aquele negócio. Mas esse negócio para o Grêmio não era interessante. Em nenhum momento nós cogitamos vender os direitos de televisão e antecipar 20% do valor por 50 anos. Minha linha de atuação é a de não comprometer para os próximos presidentes uma receita importante para os clubes. Então a gente conseguiu assinar com a Libra aquilo que a gente queria. Um acordo para cinco anos e dali retirar um adiantamento. Não é a mesma coisa que fez o Forte.
O Grêmio vai fazer contratações na metade do ano com essa injeção de verba?
São coisas diferentes, muito embora o que o torcedor quer saber realmente a resposta a sua pergunta, se o dinheiro que entrou será revertido para o futebol. É claro que o futebol é o que nos interessa, é ganhar títulos aqui no Grêmio. Tudo o que a gente faz aqui dentro é voltado para o futebol. Não tem a dúvida que a gente vai também contratar jogadores com esses novos recursos. O que é importante frisar é que o que a gente ganhou foi um adiantamento de 10% de um contrato de cinco anos, são valores significativos. Mas que também não é só contratações.
Já sabe o valor do pacote total que o Grêmio terá direito nesse repasse da Libra?
Esse R$ 1,1 bilhão desse contrato é fixo para o grupo da Libra. E a Libra tem a sua forma de distribuição. 40 % desses valores são distribuídos igualitariamente para todos os clubes. 30 % desses valores é para a performance, então não tem como a gente agora saber quem vai receber o quê, o primeiro lugar vai receber mais, o segundo lugar vai receber um pouquinho menos, o terceiro e assim por diante. Os 30 % restantes serão distribuídos conforme uma audiência ponderada, que é uma fórmula que a empresa detentora dos direitos já utiliza há bastante tempo. Então, o que a gente pode fazer são estimativas se a gente for oitavo lugar, sexto lugar e manter, vamos supor assim, a média de audiência que o Grêmio tem.
E a questão do pay per view. Como fica?
O Grêmio junto com os outros clubes da Libra passa a ser sócio da TV Globo no Pay Per View. Então, hoje a gente estima em R$ 200 milhões. Pode até ser mais do que isso se formos competentes e conseguimos valorizar o nosso produto. Não se sabe como vai movimentar isso com menos clubes, mas enfim o que é importante de salientar é que os clubes da Libra passam a ser também sócios do pay per view junto com a Globo.
Eu acho que agora não tem mais empecilhos para que os clubes se unam e possam formar a Liga naquilo que interessa a todos
ALBERTO GUERRA
Presidente do Grêmio
O que essa negociação significa para o Grêmio em termos de posicionamento no futebol brasileiro?
Olha, eu acredito mesmo de que a assinatura desse contrato possa ser um início da construção da Liga. Eu acho que independente de como a Libra negociou os seus direitos, como a Liga Forte vai negociar os seus, eu acho que agora não tem mais empecilhos para que os clubes se unam e possam formar a Liga naquilo que interessa a todos. Vejo uma boa possibilidade dos clubes poderem sentar para construir a Liga, que é tão sonhada. Aí, teremos outras propriedades a serem comercializadas e alavancar muito mais receitas do que simplesmente os direitos de transmissão. O que é importante é que esse contrato garante para o Grêmio uma sustentação para os próximos anos, um fluxo importante para que a gente possa manter sempre o time competitivo.
Uma das questões que muito se debate é a presença do Grêmio ao lado do Flamengo, por exemplo. A diretoria do Flamengo tem uma postura de sempre querer valorizar, ganhar mais do que os outros clubes. Não causa um temor em vocês também, o Flamengo abocanhar uma parte maior que a do Grêmio?
Não, não causa esse temor. Desde que eu estou na Libra, fiz diversas reuniões com a presença do Flamengo. Todos os clubes tiveram que abrir mão de alguma coisa para que a Liga seja formada, não é? Porque existem times de vários tamanhos lá dentro. Eu sou testemunha de que o Flamengo abriu também mão de bastante coisa, assim como o Grêmio abriu um pouco, assim como todos os clubes, para que a gente pudesse fazer essa forma de distribuição que foi assinada por todos. Então, primeiro, 40%, reitero, isso será distribuído igualitariamente. Quem aderir vai ter que aderir aquilo que já está ali. Então, se é Flamengo, se é Grêmio, se é São Paulo, Palmeiras ou Vitória, todos receberão 40%. A mesma quantidade. Esse adiantamento será pago para todos os clubes de forma igualitária. 30 % é por performance, não tem coisa mais justa do que isso. O primeiro colocado vai receber um pouquinho mais do que o segundo, que vai receber um pouquinho mais do que o terceiro. E os outros 30% também é justo que aí, sim, tenha uma diferença na medida da grandeza dos clubes. Porque clubes como Flamengo e Corinthians arrastam multidões, o próprio Grêmio também. Assim como o Grêmio recebe mais do que grande parte dos clubes, recebe menos do que alguns clubes. Estamos todos satisfeitos. E, de novo, todos os clubes abriram mão de alguma coisa para que a gente pudesse pensar na construção do futebol brasileiro, pensar na construção da Liga.
Eu sou testemunha de que o Flamengo abriu também mão de bastante coisa, assim como o Grêmio abriu um pouco, assim como todos os clubes, para que a gente pudesse fazer essa forma de distribuição que foi assinada por todos
ALBERTO GUERRA
Presidente do Grêmio
O que mais entra em conflito dos dois blocos hoje é a questão da existência ou não daquela questão do mínimo garantido que Flamengo e Corinthians teriam direito. Isso entrou nessa negociação com a Globo?
Não existe esse mínimo garantido. Isso é importante que se diga porque essa foi uma das razões da saída de muitos clubes lá atrás e a criação de outros blocos. Esse mínimo não existe. A forma de distribuição é essa que nós relatamos aqui.
Como é que o senhor vê a questão de a gente ter um Brasileirão picotado de transmissões? Parte em um canal, parte no outro, mais outros no streaming?
Isso é uma boa pergunta no sentido de que, primeiro, para nós, fechar com a TV Globo, ela é muito importante, porque a gente sabe que para fazer a transmissão e a captação da imagem, não só a captação, mas a transmissão, tem que ter tecnologia, tem que saber, e não tem ninguém melhor do que a TV Globo com essa tecnologia aqui no Brasil. Hoje em dia, para um Campeonato Brasileiro, num país de tamanho continental, ter alguns jogos, um na Bahia, dois em São Paulo, um no Rio e em Porto Alegre, tem que ter equipe, tem que ter estrutura, e são poucas as emissoras que poderiam, com qualidade, fazer isso. Também é importante citar aqui, não vou chamar de pressão, mas até dos próprios patrocinadores, que querem ter as suas marcas divulgadas num canal que entre 99 % dos lares brasileiros, e não em outro, num streaming que, enfim, tem todas as suas qualidades também, mas que não entra em 99 % dos lares. Então, por enquanto, nós temos a assinatura da Libra com a Globo. Eu quero crer, e espero que aconteça mesmo, da Liga Forte conseguir comercializar os seus direitos junto à TV Globo também, vão ser dois contratos separados, mas que aí todos passariam nas mesmas plataformas.
O Grêmio está melhor preparado para enfrentar uma Libertadores, um Brasileirão, uma Copa do Brasil do que estava o ano passado quando o senhor assumiu o primeiro ano de gestão?
Eu diria que a gente está melhor do que quando assumiu, mas isso não quer dizer que a gente esteja frouxo e que não precise se preocupar. A questão financeira do clube ainda é, vamos dizer assim, delicada, mas eu diria que já é bastante melhor do que foi lá no início, quando a gente assumiu a gestão.
Essa injeção de receitas no futebol brasileiro não dificulta o plano do Grêmio de se reforçar? É algo que o Renato costuma pedir...
A gente sabe que o Grêmio precisa qualificar e quantificar o seu grupo. Mas costumo brincar que a gente não faz o que quer, faz o que pode. Eu tenho que ser muito responsável com as coisas do clube e isso eu não abro mão. Não te diria, não tem um valor, nós não decidimos qual valor vamos colocar, mas a gente não vai medir esforços para contratar jogadores que nós entendemos que possam colaborar para nos ajudar nessa caminhada. O objetivo é sim os títulos, não tem nenhuma razão de estar aqui que não seja ganhar títulos para o Grêmio. A gente vai fazer todos os esforços para isso dentro de uma responsabilidade financeira, obviamente.
Nós não decidimos qual valor vamos colocar, mas a gente não vai medir esforços para contratar jogadores que nós entendemos que possam colaborar para nos ajudar nessa caminhada. O objetivo é sim os títulos, não tem nenhuma razão de estar aqui que não seja ganhar títulos para o Grêmio
ALBERTO GUERRA
Presidente do Grêmio
E sobre o mercado inflacionar a partir da entrada dessa verba?
Não tenho dúvida, não é só pela entrada da verba também,mas as SAFs também deram uma inflacionada porque nós temos mais clubes com poderes de compra. Então, tem muito clube com possibilidade de contratar no mesmo patamar poucos jogadores. Então fica um pouco mais escasso e aí ocorre o leilão.
Como é que vocês entendem que essa janela foi feita?
A gente vai atrás com aquilo que tem. Quando tem momentos que a gente tem carnivete, vai lutar de carnivete. Quando tem uma espada um pouco maior, a gente vai com ela. Eu que já estou há algum tempo aqui no Grêmio, com diversos cargos que já passei, acho que grandes times que o Grêmio fez não foi com tanto dinheiro. Todas as vezes até que a gente tinha muito dinheiro, nem todas elas repercutiram em títulos. Mas, obviamente, acho que essa questão hoje está cada vez mais importante, pela profissionalização de todos os setores de apoio, scout, assessores, departamento de futebol, e que a gente nota uma escassez de jogador. É muito difícil de tirar de um clube hoje em dia. Mesmo em um clube menor, já são valores consideráveis.
O hepta do Gauchão está em que patamar de prioridade de vocês nesse momento?
Olha, é de total interesse esse campeonato gaúcho, até porque é o hepta, não é? Porque se não fosse o hepta talvez a nossa decisão tivesse sido outra. Então, a gente não pode negar esse caráter histórico para o Grêmio, que só ganhou uma vez um heptacampeonato. A gente sabe o que o nosso torcedor pensa e quer também.
Olha, é de total interesse esse campeonato gaúcho, até porque é o hepta, não é? A a gente não pode negar esse caráter histórico para o Grêmio, que só ganhou uma vez um heptacampeonato
ALBERTO GUERRA
Presidente do Grêmio
Como é que vocês encaram esse ambiente do futebol gaúcho no momento?
Assim, o primeiro que a gente vê é que a qualidade da arbitragem está realmente diminuindo. Ainda mais aqui que era um celeiro de bons árbitros. Nós temos ainda bons árbitros, mas assim, com todo o respeito, vocês não vão querer dizer o que eu não vi pela TV. Então, eu acho que os juízes erraram contra os quatro times, contra o Inter, contra o Caxias, contra o Juventude também, mas nem se compara o que erraram contra o Grêmio nesses jogos, não é? Não só da semifinal, como, enfim, desde o Gre-Nal. Então, assim, a gente não pode se calar, não é? O que a gente viu aí nos jogos, ao menos do Grêmio, está acima de erros normais que acontecem em todos os jogos de futebol brasileiro. Então, eu posso falar sobre a nossa perspectiva de que a gente vai gritar mesmo. E todas as reclamações foram feitas, foram comprovadas, foram itens. Só no jogo do Caxias, infelizmente, tenho que dizer isso, citamos 10 erros graves, não é? E, de novo, a tentativa não é condicionamento que a gente quer. Pelo contrário, que o juiz passe desapercebido e que ganhe o melhor dentro do campo. Mas não de outra forma que não seja assim.
O retorno ao Olímpico é algo estudado pelo Grêmio?
Nada é impossível neste momento, em função de todo o imbróglio referente à Arena e ao Olímpico. Mas também foi dito que é muito improvável e que o Grêmio está fazendo todos os esforços para ficar aqui na Arena. Essa é a nossa posição aqui no Grêmio.
Como é que está essa negociação pela Arena?
O Grêmio tem um contrato em vigor. O Grêmio cumpre os seus contratos. Digo desde o primeiro dia que assumi a presidência do Grêmio que esse assunto sempre está na pauta. É um imbróglio que envolve muitas partes, envolve o Ministério Público, prefeitura, área do Olímpico, a Karaougonis, a OAS26, Arena Porto-Alegrense, o Grêmio, bancos credores, fundos agora que chegam. Então não é algo simples, não é algo que se resolve do dia para a noite, tanto é que já vem esse assunto há bastante tempo e a gente está querendo resolver isso da melhor forma possível.
Hoje para o Grêmio ter a gestão da Arena é algo fundamental para o futuro?
Não tenha dúvida de que a gestão do equipamento vai colocar o Grêmio numa outra estrutura de capital. Agora, isso foi sabido desde o início da assinatura lá atrás pelos dirigentes que fizeram isso, que a gente precisava pagar o estádio. E uma das formas de pagamento é concedendo a gestão por determinado tempo e quando, independente de cumprir o contrato até o final ou conseguir antecipar isso, que seria até desejável, isso vai mudar. Muda a estrutura de capital do clube, seria muito importante para que a gente alavanque os negócios do Grêmio.
A gente está aqui muito pelo futebol. E o que mais me ocupa o tempo é o tema Arena.
ALBERTO GUERRA
Presidente do Grêmio
O Grêmio hoje tenta fazer essa aquisição da Arena?
Esse tema está na pauta desde o primeiro dia da gestão. E vem sendo tratado exaustivamente. Já disse em algumas entrevistas. Infelizmente, é o tema que mais me ocupa tempo hoje em dia. A gente está aqui muito pelo futebol. E o que mais me ocupa o tempo é o tema Arena.
Como é que está essa situação do Carballo?
Eu não acredito que seja o caso de nova cirurgia, mas é o caso de ele estar tentando jogar sem dor. E dentro das conversas que tivemos com o Grêmio, com ele, com o seu procurador, e que talvez fosse melhor, inclusive, já que não está jogando, fazer o tratamento no Uruguai, perto da família, porque aqui mora sozinho. Com o nosso acompanhamento, obviamente, o Grêmio está acompanhando isso, está sabendo o que ele está fazendo lá. E a gente espera que ele, o quanto antes, possa voltar a jogar, porque é um estupendo jogador.