Renato Portaluppi entrou em férias com a certeza de mais uma missão cumprida no Grêmio. Após um retorno sem brilho à elite, no final de 2022, concluiu 2023 como vice-campeão brasileiro, muito acima da expectativa traçada no início do ano.
Claro que a presença de Luis Suárez foi determinante para o sucesso na temporada, que teve a conquista do hexa gaúcho. Mas a direção sabe que o treinador foi decisivo em vários momentos, incluindo a negociação para evitar a saída do Pistolero no meio do ano.
Diante disso, Renato negocia para ficar. A conversa, como de costume, tende a se alongar por alguns dias. A tendência é de permanência. Nesta entrevista exclusiva, ele revela bastidores deste ano e projeta 2024, mesmo que ainda não tenha assinado sua renovação.
O que acontece que o ciclo parece não ter fim contigo no Grêmio?
É o trabalho. Todas as vezes que trabalhei no Grêmio, chegamos à Libertadores e conquistamos títulos. Alguns treinadores não conseguem dar sequência em trabalhos longos. Prezo muito a alegria do grupo para vir trabalhar. É algo que quero e sempre acontece. Trabalhando com alegria e vontade, os resultados são os melhores. Treinamos bastante a parte física, técnica e tática.
No início de 2023, com a diminuição da folha, o que foi levado em conta para montar o grupo?
A situação era bem difícil. Uma coisa é querer contratar e não ter dinheiro. Outra coisa é não poder errar. Procuramos contratar dentro das possibilidades, com jogadores que se adequavam. Trouxemos uma estrela, o Suárez. Ele teve um ano maravilhoso, encantou a todos dentro e fora de campo. Tínhamos esse tiro para dar em um diferenciado. Não trouxemos todos que queríamos, vieram vários diferentes da lista que dei. Mas entendi a parte do clube e fizemos esse grupo acreditar no seu potencial. Se o clube tivesse condições de investir um pouco mais, podem ter certeza que o Grêmio poderia ter sido campeão brasileiro. Investimos o mínimo e vejam aonde chegamos.
Como foi a troca de experiência com Luis Suárez?
Maravilhoso. É o casamento que o cara escolhe a mulher, casa e ficam juntos o resto da vida. Trocamos muitas ideias. Aprendi com ele e ele aprendeu comigo. Foi um privilégio trabalhar com um profissional dessa qualidade. Vamos sentir saudades.
Como será a próxima temporada do Grêmio?
É uma situação delicada. Ainda não defini minha situação (da renovação de contrato). Troco ideias com a direção, tenho ajudado eles. Mas aonde vamos atacar? Tentar uma grande contratação ou trazermos três ou quatro jogadores? O ideal são as duas coisas. O Grêmio é grande, um time de massa e com cobrança muito grande. Mesmo que eu entenda o lado financeiro do clube, às vezes é preciso forçar mais na parte financeira para formar um time forte. Todos querem ser campeões, mas tem vezes que você não tem o material humano para isso. Não vamos encontrar um astro do nível do Suárez. Esquece.
O poder de investimento no grupo influencia na sua renovação? É algo fundamental?
Quem monta o grupo é o treinador. A diretoria dá os nomes, trocamos ideias e o técnico decide essas coisas. Tenho ajudado, mas também não bato o martelo em algumas decisões por não saber se vou ficar. O clube está se mexendo. E não é fácil encontrar jogadores, ainda mais sem dinheiro.
Como você enxerga o futuro do atacante Nathan Fernandes?
Ele tem qualidade. Ele me lembra o Pepê e o Cebolinha, mas é muito cedo. Acho que ele vai vingar, tem qualidade. Estamos corrigindo essa volta dele para marcar o lateral. A resposta quem dá é o jogador. Eu mostro, corrijo e faço o trabalho. Damos tudo o que ele precisa para entrar em campo e desempenhar. Digo que é pra ele tentar, que eu assumo se ele errar. Quero que ele jogue e tente. Evoluiu bastante no profissional, mas ainda é um menino de 18 anos. É uma joia do clube.
Falando em meninos... você tinha 21 anos em 1983. A conquista do Mundial completa 40 anos na segunda-feira. Qual sua memória sobre o retorno do Japão?
Parece que foi uns dois anos atrás. Vem tudo na cabeça, desde a chegada a Tóquio até o título. Minha vida aconteceu tudo muito rápido. Cheguei ao Grêmio em 1980 e fui campeão do mundo em 1983. Jogador precisa fazer história. É uma profissão muito rápida. Não pode perder tempo. Vou dar o exemplo do Suárez. Ficou um ano aqui e olha o que conseguiu. (Nos anos 1980) sabia que minha família precisava de mim. Precisava ganhar dinheiro e ajudar eles. Hoje, o jogador se preocupa muito com celular, aparência e carro. Essa juventude de agora não é fácil...
Você fez os dois gols do título mundial e voltou do Japão direto para a história do Grêmio. Tinha noção disso em 1983?
Não tinha. Mas havia jogadores experientes que me aconselhavam. O que passo para o meu grupo hoje é o que alguns me falavam lá atrás. Na minha época, tinha a vantagem de não ter a distração do celular. Se deixar, eles entram no treino de celular. É demais. Na minha época, a preocupação era treinar e jogar.