A última noite de Suárez na Arena cumpriu o roteiro esperado. A vitória por 1 a 0 sobre o Vasco ficou em segundo plano. Da expectativa pela sua passagem na zona mista com o mate na mão até o apito final, todos buscavam acompanhar os passos do centroavante.
Um dia que teve as homenagens a ele antes de a bola rolar, a presença dos filhos no campo e, como não podia faltar, gol do Pistoleiro. Uma despedida digna da presença dos mais de 50 mil torcedores na Arena, que abraçaram o uruguaio desde janeiro. Uma história construída ao longo de 30 jogos do centroavante no estádio, com 18 gols e 11 assistências.
Suárez levou mais tempo do que o habitual para descer do ônibus. Mas a demora não foi para aumentar a expectativa da imprensa na zona mista. O centroavante teve uma rápida conversa com Fernandão, chefe da segurança gremista, para saber como seriam seus passos em um dia de homenagens.
A caminhada do ônibus ao vestiário atraiu todos os olhares na zona mista. O camisa 9 passou rapidamente pelo local. Quando voltou a aparecer na área para fazer o aquecimento, tinha uma surpresa o esperando. Na porta do túnel de acesso ao vestiário, seus filhos o aguardavam. Delfina, Benjamin e Lautaro esperavam pacientemente o pai sair para o aquecimento, trocaram um aceno discreto e voltaram a aguardar até o momento de entrarem em campo.
Ao lado dos filhos, o jogador entrou pela última vez como jogador gremista no gramado da Arena. Posou para fotos, ouviu o hino brasileiro e chamou um fotógrafo para fazer um último registro da presença deles juntos no campo. Fez um aceno rápido para esposa, Sofia Balbi, em um dos camarotes e passou a fazer seu ritual de concentração.
Ergueu as mãos na cabeça, falou algumas palavras e fez alguns movimentos de aquecimento. Como se estivesse ansioso, caminhava de um lado para outro no círculo central. Antes de a bola rolar, trocou um rápido abraço com Villasanti.
O sorriso rapidamente desapareceu de seu rosto após o apito de início do jogo. Ele entrou no modo pistoleiro, com pressa de aproveitar sua última partida na Arena. O relógio marcava alguns segundos e Suárez já distribuía broncas e orientações. A primeira chamada de atenção foi para Nathan Fernandes, que demorou a subir a marcação. Depois, trocou algumas palavras com Fabio e Villasanti, reclamando da demora para receber o passe.
O primeiro chute do jogo foi do uruguaio, de pé direito, da entrada da área aos seis minutos. Um minuto depois, sua segunda finalização gerou uma exclamação coletiva vinda das arquibancadas. Após receber a bola de Ferreira, driblou os marcadores e tentou quase sem ângulo marcar em um chute de pé esquerdo.
Caminhando e mancando um pouco na perna direita, Suárez atravessou o campo para dar um abraço em Fabio. O lateral caiu para receber atendimento médico e teve que deixar o campo. A ansiedade no estádio quase teve fim, não fosse a tecnologia corrigir uma falha da arbitragem.
Aos 33, Suárez e Reinaldo ficaram lado a lado para a cobrança de uma falta. O centroavante surpreendeu. Não chutou direto e fez um cruzamento na cabeça de Rodrigo Ely. De braços abertos, o uruguaio foi abraçado pelos companheiros enquanto a torcida comemorava das arquibancadas na Arena. Mas aí apareceu no telão a mensagem de revisão de impedimento e o lance acabou anulado por impedimento do zagueiro.
A expectativa dos mail de 50 mil torcedores se confirmou com 30 segundos da segunda etapa. Nathan Fernandes arrancou em direção ao gol e viu Suárez completamente livre. O passe encontrou o pé direito do uruguaio, que mandou a bola para o fundo das redes.
O abraço mais demorado serviu de agradecimento ao jovem gremista pela assistência. Mas a comemoração do camisa 9 durou mais alguns instantes. Antes de voltar para o meio de campo, o jogador bateu no peito, sacudiu as costas da camisa para mostrar seu nome e fez seu gesto tradicional com a mão direita em direção ao camarote que recebe a família na Arena.
A vantagem não reduziu a intensidade do centroavante. Ele seguia dando orientações e cobrando os companheiros como se o próximo gol fosse garantir o título mais importante para seu time.
Aos 28, o Pistoleiro acertou a trave após jogada de Ferreira. Nos acréscimos, ele deu a bola para Cuiabano ampliar. Mas faltou pontaria ao companheiro.
O centroavante olhava discretamente para o telão, mãos na cintura e puxava o fôlego. O fim de jogo foi debaixo de chuva. Mesmo assim não diminuiu a força do grito do torcedor que queria se despedir do ídolo:
— Suárez, Suárez, Suárez.
A história da passagem de Suárez terá seu ultimo episódio na próxima quarta-feira, às 21h30min. O centroavante encerrará sua temporada no Brasil com uma partida no Maracanã contra o Fluminense. Uma despedida do tamanho que tomou a passagem do uruguaio pelo Tricolor.