O Grêmio tem nesta quarta-feira (16) a dura missão de tentar virar o confronto com o Flamengo para obter vaga na final da Copa do Brasil. Um feito semelhante foi alcançado pelo Olimpia na semana passada, pela Libertadores.
Ainda que em situação diferente, por ter vencido em casa e não no Maracanã, os paraguaios surpreenderam o continente ao fazer o placar de 3 a 1 e eliminar os cariocas nas oitavas de final da competição continental. GZH conversou com Francisco Arce, o “Chiqui” para os paraguaios, que contou como foi a estratégia do Olimpia para superar o Rubro-Negro.
O que foi determinante para o Olimpia eliminar o Flamengo?
Cheguei ao clube 15 dias antes do primeiro jogo com o Flamengo e fizemos apenas duas partidas antes do primeiro confronto. Eles iniciaram como favoritos, mas o Olimpia tinha classificado como primeiro do grupo com a comissão técnica anterior. Isso em relação ao presente. E historicamente o Olimpia tem a mística e a tradição na Libertadores. A estratégia foi de manter algumas coisas que vinham sendo feitas e colocar outras. Analisamos os vídeos, mandamos uma pessoa da comissão técnica para assistir ao jogo deles contra o Atlético-MG. Por mais que se veja o futebol brasileiro e seja um time supervisto, conversei com vários ex-companheiros e alguns que estão dirigindo ou ex-treinadores para colher informações e definir a melhor estratégia para o confronto. Sabíamos que devíamos deixar a chave aberta porque somos muito fortes em casa. Sabíamos que se eles gostassem muito do jogo, se tivessem muita liberdade seria difícil pela forma de rotação, por como se movem, da qualidade que eles têm do meio para frente".
Qual o primeiro passo para frear o time do Flamengo?
Foi chave para nós um posicionamento correto e estar muito forte na parte mental, acreditar de verdade. Sentimos o ambiente, essa sensação de que era possível. Se a gente fosse apenas comparar investimento e orçamento, iria ficar com muitas dúvidas. Eles têm um conceito muito bem definido de atacar e decidimos não ficar apenas correndo atrás deles. Se correr atrás, eles te deixam maluco porque trocam de posição e cada um sabe exatamente o que fazer e a função para executar. Eles geram muitos espaços por dentro e têm uma forma muito bem definida de atacar pela direita com o lateral Wesley (está suspenso contra o Flamengo) e outra muito com velocidade, habilidade e jogo aéreo com o Bruno Henrique na esquerda.
Foi chave para nós um posicionamento correto e estar muito forte na parte mental, acreditar de verdade.
ARCE
Técnico do Olimpia
O Flamengo é um time que se sente desconfortável quando atacado?
O Flamengo, historicamente, tem a obrigação de conseguir as vitórias, ainda mais com os títulos recentes. O time é montado para atacar. Quando ataca e quanto mais demora para fazer os gols, os espaços aparecem.
Qual o melhor caminho para o Grêmio buscar uma virada?
O Grêmio tem um craque como treinador, alguém que é a maior figura do clube como ex-jogador. O Renato tem a grande vantagem de conhecer o jeito de ser do gremista e do clube como instituição. Uma sugestão seria jogar como Grêmio. O Grêmio fez grandes façanhas no Maracanã, tem jogadores e qualidade, além de um grande treinador para poder ir buscar. Nós (Olimpia) vivemos isso de acreditar de verdade. Em um jogo pode acontecer tudo, e conseguimos jogar por fases. Em alguns momentos no Maracanã, mas, especialmente, em casa. Eles estão em um momento de tempestade, mas a qualidade é inegável.
O Flamengo é um time montado para atacar. Quanto mais demora para fazer os gols, os espaços aparecem
ARCE
Técnico do Olimpia
O que se pode esperar do Olimpia na Libertadores?
Quando começa a Libertadores aqui já pedem a quarta (o Olimpia é tricampeão). Acreditar todos acreditam. Depois de ter passado pelo atual campeão e com tudo que envolve isso gera um anímico muito forte. Nós vamos buscar jogar com o que temos, tentando achar o jeito certo. Agora, iremos enfrentar um time (Fluminense) muito parecido com o jeito de jogar do Flamengo, com algumas diferenças na hora da definição, mas o Fluminense igualmente é um grande time. O Fluminense é dirigido por um treinador (Fernando Diniz) que admiro a forma de jogar. Gostamos do mesmo estilo de jogo, mas agora cheguei sem possibilidade de tempo para treinar e estou mudando pequenas coisas.
Diminuiu a distância dos brasileiros para os demais clubes da Libertadores?
Vi esses dias uma entrevista do Edmilson, pentacampeão com o Felipão em 2002, falando que esperava uma final diferente. Concordo com isso. Penso que alguém vai aparecer no meio, tomara que sejamos nós, mas a vantagem dos brasileiros existe. Nós buscamos igualar dentro de campo, mas o Brasil tem muito investimento. O calendário aqui (Paraguai) está como o Brasileiro, com jogos em meios e finais de semana, mas não temos o investimento do Brasil. A nossa fisiologia esportiva é boa, mas os times brasileiros têm um poderio financeiro maior. São 1o ou 12 times com essa capacidade de investimento. Esperamos em pouco tempo ter isso para poder igualar, além da questão de estratégia e planejamento dentro de campo.
Segunda passagem pelo Olimpia
Técnico desde 2008, Francisco Arce está em sua segunda passagem pelo Olimpia. Na primeira, em 2015, ele conquistou o título do Clausura do Campeonato Paraguaio. Arce também teve duas passagens como técnico no rival do Olimpia, o Cerro Porteño, onde foi tricampeão paraguaio. O ex-lateral do Grêmio já comandou a seleção paraguaia, também em duas passagens, e trabalhou em outros clubes do país, como Guaraní e Nacional. Ele teve uma passagem pelo Al Ahod, da Arábia Saudita.