Os gols que eram contextualizados em média de minutos para marcá-los viraram seca de horas. Os gols que se proliferaram nas competições regionais desapareceram quando se cruzou o Mampituba. O poder de decisão de quem resolveu algumas encrencas escafedeu-se nas semifinais da Copa do Brasil. O gatilho do Pistolero travou. Tudo permeado por um litígio que, depois de solucionado, não refletiu em melhora em campo.
As últimas semanas de Luis Suárez no Grêmio são bem distintas da lua de mel vivida entre o uruguaio, o clube e os torcedores quando ele encheu o aeroporto, a Arena e as redes dos adversários de gols. Na estreia, foram três. Ele compareceu nos três primeiros jogos. Demoraram 12 para chegar à primeira dezena de gols. A constância diminuiu.
Os outros seis marcados com a 9 tricolor foram espalhados em 24 partidas. A derrota para o Flamengo, na quarta, marcou a oitava aparição sem dar alegria aos gremistas. São 616 minutos (sem contar os acréscimos) sem vencer o goleiro adversário. Mais de 10 horas sem um golzinho. No período, colaborou com uma assistência a gol na virada sobre o Fluminense.
Centroavante campeão da Copa do Brasil e da Libertadores com o Grêmio, Nildo faz coro a um discurso adotado pelo técnico Renato Portaluppi no decorrer na temporada. Ao lembrar que no seu tempo de Olímpico contou com pontas velozes, tão pedidos pelo treinador no primeiro semestre, como Fabinho, Alexandre Xoxó e Paulo Nunes, conclui que a seca está mais ligada à parceria em campo do que ao momento do uruguaio.
— Luisito é craque. Um centroavante do estilo dele precisa ser municiado com muitas bolas. A bola não está chegando para ele dar um toque final. Ele tenta uma jogada para receber, mas não recebe. Falta um meia pifador. Ele não joga com um ponta que acha o centroavante dentro da área. Tudo isso facilitaria para o Luisito. Ele vem jogando bem.
O último gol saiu contra o Coritiba. Foi o quarto no 5 a 1 sobre o Coxa. Depois, nada de bola na rede contra Bahia (duas vezes), Botafogo, Flamengo (duas vezes), Goiás, Vasco e Flu. A sequência é, de certo modo, uma fotografia daquilo que Suárez apresentou na temporada.
Nos últimos sete jogos sem marcar, o Grêmio construiu para Suárez chances com "qualidade" para que ele fosse às redes 2,84 vezes, de acordo com a plataforma Wyscout — até o fechamento desta matéria a plataforma não tinha adicionado as métricas do jogo contra o Flamengo. No ano, nas partidas analisadas pela empresa, seria esperado que marcasse 20,01 gols e ele anotou 13 — cobranças de pênalti aumentam a expectativa e Suárez desperdiçou três.
Jogadores do quilate do uruguaio tendem a ter mais gols marcados do que o esperado. Caso de Tiquinho Soares no ano, com 24 gols em expectativa de ter 17,3. Na sua última temporada no Atlético de Madrid, os índices de Suárez foram de 13 gols em probabilidade de 9,21. No ápice, quando estava no Barcelona, foram 62 gols em chances para ter marcado 43 em 2015/16. Naquela temporada, ele precisava de 3,4 chutes pra fazer um gol. Esse ano, a relação subiu para 11,6 para fazer um gol.
Os gols ainda saem na Arena, mas rarearam contra adversários da elite brasileira e sumiram fora do Rio Grande do Sul. Fora dos domínios do Grêmio foram somente dois gols em 14 partidas. Além dos limites do Estado, nenhum gol para contar para os filhos na volta para casa depois de oito pelejas.
Na quarta-feira, as chances apareceram. A primeira, após lançamento de Reinaldo, o chute não pegou em cheio, facilitando a ação do goleiro. No segundo, o arremate saiu mais redondo, mas o disparo saiu em cima de Matheus Cunha.
— O Suárez é o quarto maior artilheiro do mundo. Errar gols todo mundo erra. Ele tá ali para fazer, sempre nos ajudou muito, com jogadas hoje também, preocupa o adversário. Daqui um pouco volta a fazer gols — minimizou o técnico Renato Portaluppi após a eliminação na Copa do Brasil.
Assim que detalhes do contrato do jogador com o Grêmio foram revelados, explicitou um bônus pela quantidade de gols marcados, iniciando em 15, sem contar jogos do Gauchão. Até aqui foram dois gols pelo Brasileirão, outros dois pela Copa do Brasil e um pelo Gauchão.
Se quiser colocar a mão nessa bolada, Suárez terá de melhorar seus números nas 20 partidas finais do Grêmio no Brasileirão.
Suárez em números no Grêmio
Nos 8 jogos sem marcar gol
- 26 chutes a gol
- Nenhum gol
- 9 passes-chave
- 1 assistência para gol
- 2,84 gols esperados
Na temporada
- 39 jogos
- 16 gols
- 10 assistência
- 20,01 gols esperados*
*Nos jogos analisados pela plataforma Wyscout