A mais recente metamorfose do Grêmio trouxe uma versão que o torcedor não estava acostumado a ver nos trabalhos de Renato Portaluppi. Após construir um time que tinha sua fundação na troca de passes e na manutenção da posse, o técnico solucionou as carências da equipe abrindo mão da bola.
Desde a mudança do 4-2-3-1 para o 3-4-3, o Grêmio teve menos posse de bola do que os adversários. Contra Inter, Athletico-PR e Cruzeiro, o Tricolor teve a posse por apenas 36% da partida. Nos jogos que antecederam a mudança, o índice oscilou entre 56% e 44%.
— A redução da posse diz mais sobre o que o Renato pensou para encaixar o time nos jogos fora de casa. Vamos começar a entender mais com as partidas em casa. No Gre-Nal, ele entregou a bola ao Inter por ter aberto o placar cedo também — avaliou Gabriel Corrêa, analista do portal Footure.
O debate sobre posse de bola como sinônimo de bom rendimento ganhou força nos últimos anos. A ascensão do Barcelona de Guardiola e o seu tiki taka impulsionou a corrente que defendia a importância dessa ideia. O domínio das equipes que seguiram os conceitos do treinador espanhol passou a ser questionado quando times mais pragmáticos conseguiram resultados importantes. Talvez a voz mais atuante contra a corrente que ganhou força foi a de José Mourinho.
O português, rival de Guardiola na Espanha e depois na Inglaterra, sempre defendeu a ideia de que a posse de bola seria um conceito menos relevante. Após uma vitória do Tottenham sobre o Manchester City, o técnico aproveitou para dar uma cutucada:
— Eles podem levar a bola para casa, se quiserem. Eu fico com os três pontos — disse.
Em entrevista ao portal "The Coaches Voice", Mourinho abordou em mais detalhes suas ideias.
— Muitas pessoas acreditam que o time com mais posse de bola é o mais dominante, mas isso depende da maneira que você vê. Uma equipe sem a bola pode ter o controle do jogo. Esse estilo (de posse de bola) é mais uma questão de imagem e relações públicas — afirmou.
Uma outra resposta sobre o tema ganhou destaque nos últimos anos. Eduardo Barroca, atualmente técnico do Ceará, usou uma analogia para explicar sua visão sobre a importância de ter a posse de bola no futebol.
— Imagina que alguém te fala assim: vocês dois vão sair na porrada agora, num quadrado, durante 10 minutos. Durante sete minutos, um de vocês vai poder ter um porrete na mão. E, durante os outros três, o outro terá o porrete. Para mim, a bola é o porrete. Não quer dizer que eu vou vencer, posso ter o porrete e você pode me acertar um soco no queixo. Mas se alguém me perguntar se prefiro ficar mais tempo com o porrete, eu prefiro — comentou em entrevista ao jornal Extra.
Após a classificação contra o Cruzeiro, no Mineirão, Renato adotou um discurso de que reconhece que a mudança atual é uma consequência das condições de momento. Mas não descartou voltar a buscar um time mais parecido com o seu histórico.
— O mais importante são os resultados. São três vitórias, com um esquema sem tempo para treinar. Além do Gre-Nal, jogamos no sintético contra o Athletico-PR, com vários jogadores diferentes, e o gramado do Mineirão também não proporcionava condições para o toque de bola. O Cruzeiro pode ter tido 70% de posse de bola, mas no campo deles. Procuramos nos defender mais do que jogar hoje — finalizou.