A sequência de vitórias do Grêmio após a implementação do sistema com três zagueiros por Renato Portaluppi foi interrompida com a goleada de 3 a 0 para o Flamengo neste domingo (11), no Maracanã. Na partida, na qual o Tricolor teve um alto poder de criação acertando três bolas na trave, também foi marcada por ajustes de Jorge Sampaoli para explorar o sistema defensivo de Renato Portaluppi. O Desenho Tático de GZH explica a estratégia usada pelo argentino que teve sucesso, principalmente, no primeiro tempo.
Os conceitos de Jorge Sampaoli
O final de semana foi marcado pela consagração do Manchester City com a conquista da Champions League e a segunda tríplice coroa europeia de Pep Guardiola. Nesses 14 anos desde a primeira vez que alcançou o feito com o Barcelona na temporada 2008/09, o sucesso do técnico espanhol trouxe para o debate futebolístico conceitos antes pouco falados. O principal deles é o Jogo de Posição (JP), do qual o técnico do Flamengo Jorge Sampoli é um adepto.
Dentro do seu Jogo de Posição, Guardiola aplica também o chamado ataque posicional, que diz respeito à forma de atacar da equipe. É importante explicar que Jogo de Posição e ataque posicional são conceitos diferentes. O primeiro diz respeito a toda uma forma de jogar de uma equipe incluindo aspectos ofensivos e defensivos, já a segunda fica limitada à parte ofensiva. Ou seja, um time pode aplicar o ataque posicional sem usar o Jogo de Posição — algo bastante comum no futebol atual.
Mas Sampaoli utiliza ataque posicional e Jogo de Posição. Essa forma de atacar visa a ocupar diferentes áreas do ataque gerando movimentos que criam espaços — Guardiola chega a chamar de ataque por zona. A referência se explica também porque esses movimentos são feitos exatamente para gerar espaços contra equipes que marcam por zona, quando os defensores são responsáveis por seu espaço no campo e o jogador adversário que cai nele — havendo trocas quando existem as movimentações dos atacantes.
Renato Portaluppi, no entanto, adota um outro sistema de marcação, a feita por encaixes individuais. Assim, os defensores do Grêmio fazem os chamados encaixes e têm liberdade para deixar seu setor perseguindo os adversários em suas movimentações. Em tese, a busca pelos espaços feita para atacar defesas por zona se tornam mais difíceis de serem encontrados contra o Grêmio porque os defensores tricolores irão acompanhar as movimentações dos atacantes.
Como Sampaoli adaptou o Flamengo a esse estilo
Como de costume, Sampaoli monta seus times de acordo com os adversários. Neste domingo, o argentino apostou em iniciar com três zagueiros fazendo com que Léo Pereira fosse o homem do lado esquerdo deixando Everton Cebolinha como ala. No outro lado, Wesley tinha a missão de dar a amplitude em um setor onde o Grêmio tinha Cuiabano atuando pela primeira vez nesta função em uma partida da Série A.
Como Flamengo e Grêmio iniciaram a partida:
A fórmula de Sampaoli para explorar o sistema de marcação do Grêmio consistiu em abrir mão do ataque posicional na maior parte do primeiro tempo optando por acumular muitos jogadores no setor direito quando a bola estava por ali — que pode ser definido como um "ataque funcional", quando os jogadores se movimentam em função da bola e não mais pelo espaço no campo. Assim, Everton Ribeiro e Pulgar se juntavam a Wesley tendo ainda o recuo de Gabigol e as aproximações de Arrascaeta.
O movimento de Gabigol saindo para a direita esvaziava o miolo da zaga gremista criava dúvidas e gerava espaço para Cebolinha atacar à área em movimento diagonal. Gerson era outro jogador que esperava a saída de um defensor para atacar a área tricolor. Kannemann normalmente tem uma maior liberdade para desgarrar da defesa dando botes no meio-campo, mas não conseguiu ter precisão diante da movimentação flamenguista, principalmente a de Everton Ribeiro. Assim, o Flamengo gerou vantagens ao longo do primeiro tempo, quando saiu vencendo por 1 a 0. Autor do gol, Everton Cebolinha apareceu nesse espaço em uma jogada que começou pelo setor direito.
Flamengo atacou congestionando setor esquerdo do Grêmio:
A lesão de Gabigol levou Sampaoli a mandar Pedro a campo na volta do intervalo. Outra troca para o começo do segundo tempo foi a entrada de Ayrton Lucas no lugar de Léo Pereira, fazendo o Flamengo desmanchar o sistema com três zagueiros. O Rubro-Negro passou a jogar no 4-3-3 na etapa final.
O placar final de 3 a 0 passa uma superioridade que o Flamengo na verdade não teve no segundo tempo. O Grêmio teve mais posse de bola (58%) e dez finalizações a mais — 18 contra 8. No entanto, pesou a maior qualidade para definição dos cariocas, que chegaram aos gols com Pedro e Bruno Henrique. O Tricolor acertou a trave em três oportunidades e não conseguiu balançar as redes de Matheus Cunha sequer uma vez.
O volume ofensivo do segundo tempo fez o Grêmio deixar o Maracanã com a sensação de ter merecido um resultado melhor. No entanto, a forma como Sampaoli explorou a marcação gremista poderá ser seguida por outros adversários na sequência do Brasileirão, o que deve ligar um alerta para Renato Portaluppi.