O Grêmio atuará como visitante diante do Esportivo, pela quarta rodada do Gauchão. Mas, durante a estadia da delegação em Bento Gonçalves, o técnico Renato Portaluppi poderá dizer que está em casa. Além de familiares, que ainda residem na cidade, o ídolo gremista reencontrará na Serra gaúcha amigos do passado, que o viram literalmente crescer.
Apesar de ter nascido em Guaporé, a 70 quilômetros de distância, foi na intitulada capital brasileira do vinho que o eterno camisa 7 tricolor deu os primeiros pontapés em uma bola, vestindo a mesma camisa alviazul que enfrentará nesta quarta-feira (1°).
— Voltar a Bento Gonçalves é um prazer. É a cidade onde tenho família, amigos e me criei. Reencontrar o Esportivo é também muito especial. Faço questão de agradecer ao clube e lembrar que foi lá que iniciei minha trajetória profissional — comentou o treinador com exclusividade a GZH.
A história já é conhecida. Pelas mãos do mesmo Valdir Espinosa, que fez de Renato a estrela do time campeão mundial em Tóquio, o jovem ponteiro estreou como profissional, então com 17 anos de idade, em um time que seria vice-campeão gaúcho em 1979. O que poucos sabem é quão meteórica foi sua trajetória na Serra.
— Ele treinava somente aos sábados, porque trabalhava aqui em uma padaria e depois em uma fábrica. Nós íamos jogar contra o Grêmio, no Estádio Olímpico, e o Espinosa o chamou para compor o grupo, com mais alguns juniores. Chegando lá, ele disse: "Vou botar esse guri para começar". Ele era forte para a idade dele e aguentou 45 minutos. Foi o único jogo dele como profissional aqui. Depois, o Espinosa foi contratado pelo Grêmio e levou o Renato para jogar lá nas categorias de base — recorda Leopoldo Benatti, o Raquete, que atuou como lateral do Esportivo nos anos 1970.
O jogo em questão, que é um dos poucos registros de Renato com a camisa do Esportivo, foi disputado no dia 12 de agosto de 1979, e vencido pelo Tricolor por 3 a 0, com gols de Tarciso, Éder Aleixo e Baltazar. Mas, apesar de ter ido morar na Capital, o garoto seguiu em contato com os antigos companheiros de Estádio da Montanha. A amizade com Raquete, inclusive, rendeu uma homenagem. O filho, que nasceu em 1981, recebeu o nome do amigo e ídolo.
— A última vez que conversamos foi quando morreu a mãe dele (fevereiro de 2010), almoçamos juntos. Depois, por conta da carreira dele, era difícil de a gente se reencontrar, mas ficamos sempre torcendo por ele, afinal é um dos nossos, jogamos juntos, conheço a família dele, tenho um carinho pelo Mauro (irmão), que também jogou comigo — conclui o ex-companheiro de vestiário.
VISITA AO HOSPITAL
Uma passagem por Bento Gonçalves, porém, não traz boas lembranças ao ídolo gremista. Doze dias após a conquista mundial em solo japonês, em 23 de dezembro de 1983, enquanto o atacante passava um período de descanso ao lado da família, sofreu crise de apendicite. Assim, teve de ser operado às pressas e trocar as festas de Natal e Ano Novo por algumas semanas de repouso.
— Eu era o enfermeiro do hospital. Estava de plantão e me avisaram que o Renato estava aqui. Sou um grande fã dele. Fiz curativo, dei banho nele e o colocamos sentado em uma cadeira. Foi quando tiraram esta foto. No outro dia, todos meus amigos me ligaram para dizer que tinha saído na Zero Hora — conta Ênio de Oliveira, que atualmente é contratado para efetuar serviços gerais no Esportivo.
Praticamente quatro décadas depois, o reencontro aconteceu. Em meio à confusão da chegada da delegação ao hotel, na tarde desta terça (31), os dois voltaram a ficar frente a frente no saguão do hotel.
— Não permitem a chegada perto dos jogadores, mas abriu uma brecha perto do elevador. Eu joguei a foto no chão, ele recolheu e me disse: "Amanhã (quarta-feira) eu falo contigo". Eu vou estar o dia inteiro na Montanha dos Vinhedos, me chamaram para trabalhar. Então, vou procurar ele no vestiário para pedir uma camisa e renovar a foto. Agora, sem curativo na barriga — brinca.
PASSAGEM COMO TREINADOR
Apesar de ter uma carreira longeva como treinador, esta será apenas a segunda vez que Renato Portaluppi comandará uma equipe em Bento Gonçalves. No entanto, a primeira visita ficou envolta em uma série de particularidades que a tornaram praticamente esquecida na memória dos torcedores locais.
Em 13 de março de 2021, o foco do ídolo gremista estava em dar ritmo de jogo ao time que enfrentaria o Ayacucho, do Peru, pela fase preliminar da Libertadores. Depois de golear por 6 a 1 na Arena, a opção foi escalar uma meninada que subia da base, reforçada por reservas. E foi assim que o Grêmio venceu o Esportivo, com gols de Thaciano e Lucas Araújo, em pênalti sofrido por Léo Pereira.
Outra particularidade deste jogo é que as arquibancadas do Parque Esportivo Montanha dos Vinhedos estavam vazias, já que o campeonato era disputado com portões fechados devido à pandemia de covid-19. Portanto, este 1° de fevereiro de 2023 tem tudo para entrar para o rol de histórias contadas sobre as vezes em que Renato passou pela cidade serrana.