O Grêmio pode se despedir nesta quinta-feira (3) de um dos ícones da recente era de conquistas do clube. Walter Kannemann, 31 anos, tem contrato apenas até o final desta temporada, e uma eventual renovação ficará nas mãos da gestão que tomará posse apenas no dia 16 de novembro. Assim, o jogo desta quinta-feira contra o Brusque poderá ser o último do argentino pelo clube. O capítulo final de uma história iniciada em 2016 e que teve oito títulos conquistados nesse período.
Sem certeza da permanência, o jogador pediu para atuar na reta final da Série B na esperança de manter as chances de uma improvável convocação à Copa do Catar. Kannemann é um dos 55 nomes pré-inscritos pela federação argentina de futebol para o Mundial, mas a tendência é de que ele não estará na relação de 26 jogadores que disputará a competição a partir de 20 de novembro. Porém, o fato de estar entre os 55 mostra o prestígio do jogador ainda no mercado sul-americano.
O zagueiro gremista fez parte do início do processo de renovação feito pelo técnico Lionel Scaloni logo após a Copa do Mundo de 2018. O defensor estava na lista da Argentina para a Copa América de 2019, disputada no Brasil, mas ficou fora da competição por uma lesão na coluna sofrida em partida contra o Corinthians, pelo Brasileirão daquele ano. Depois disso, disputou apenas um jogo pela seleção, em outubro daquele ano, quando foi titular em goleada de 6 a 1 sobre o Equador.
A grave lesão no quadril do zagueiro é apontada como principal razão para que Kannemann esteja nesta situação de indefinição de seu futuro. O jogador ouviu de amigos próximos que deveria ter optado por realizar a cirurgia no quadril em julho do ano passado, quando o procedimento passou a ser indicado como solução para as dores na região. Mas ele optou em seguir à disposição, mesmo longe das condições ideais, para ajudar na luta contra o rebaixamento. Em entrevista coletiva no início de outubro, o argentino afirmou que seu desejo era seguir em Porto Alegre:
— Eu gostaria de ficar aqui. A minha família mora aqui e meus dois filhos nasceram aqui. A minha intenção é ficar. Tem de perguntar para os outros (novos dirigentes que ainda serão eleitos) se a intenção deles também é que eu fique. Mas acho que (o interesse) é mutuo. Mas deixo (as negociações) para o meu empresário.
Outro ponto apontado para explicar a não renovação de contrato envolve questões de relacionamento. Pessoas ouvidas por ZH apontam que Kannemann entrou em rota de colisão com dirigentes das áreas da administração do clube. O argentino foi o porta-voz do grupo de jogadores e se posicionou contra a presença deles no ambiente do futebol. Fontes ouvidas por ZH apontam que a falta de contatos pela renovação, além das questões financeiras e dúvidas sobre a condição física do jogador, também têm influência nessa dificuldade de relacionamento.
Em relação aos atuais candidatos para assumir o clube a partir de 2023, a intenção é de tentar a permanência do camisa 4. As duas chapas procuraram o empresário de Kannemann, Martin Wainbuch, mas nenhuma oferta concreta foi apresentada ao jogador. Publicamente, Odorico Roman e Alberto Guerra defendem a ideia de negociar a renovação de contrato com um dos ídolos do torcedor.
— Kannemann hoje é mais um gremista, mas é profissional. Ele quer ficar no Grêmio, mas quer ouvir o que o clube tem a oferecer. Os dois candidatos à presidência já me procuraram, mas só vão fazer ofertas depois das eleições — disse Wainbuch.
Até o momento, apenas dois clubes, além do Grêmio, procuraram o empresário do jogador. Em julho, o Al-Duhail, do Catar, entrou em contato interessado na contratação do defensor. Indicação pessoal do técnico Hernan Crespo, também argentino, Kannemann era o plano principal de investimento para o segundo semestre no clube. Mas como o zagueiro sofreu uma grave lesão muscular na panturrilha esquerda, o negócio esfriou.
O Boca Juniors também buscou informações sobre a condição do jogador e de seus desejos para 2023. Marcos Rojo, zagueiro do clube argentino, rompeu o ligamento cruzado do joelho direito no início de outubro e ficará fora dos gramados por um período entre sete e oito meses. A possibilidade de retornar à Argentina não estaria entre as prioridades do zagueiro. Os contatos feitos no Brasil indicaram poucos clubes que poderiam arcar com o custo mensal do jogador, que é de cerca de R$ 1 milhão. Kannemann pode assinar com qualquer time desde junho, sem nenhuma necessidade de pagamento ao Grêmio.