A relação de seis anos de Kannemann com o Grêmio pode estar perto do final. Com contrato por encerrar com o clube em 31 de dezembro de 2022, o zagueiro de 31 anos entrou na relação de reforços de alguns clubes do Oriente Médio e também de mercados europeus.
Com menos de seis meses de vínculo pela frente com a equipe gaúcha, o argentino pode assinar pré-contrato com qualquer interessado. E as primeiras ofertas começaram a chegar. Sem nenhuma comunicação sobre o tema com a direção gremista, o jogador e seus representantes ouvirão as alternativas para seu futuro.
A situação não é novidade para os dirigentes do Grêmio. O tema foi levantado em entrevistas ao longo da atual temporada, mas, na época, Kannemann ainda não tinha retornado da cirurgia para corrigir uma lesão no quadril. Atualmente, o zagueiro está no departamento médico para tratar de uma lesão muscular de grau 2 sofrida na panturrilha esquerda no dia 18 de junho.
— O Kannemann é um dos jogadores mais sanguíneos que conheci. É um dos homens mais leais e comprometidos com o clube que tratei até hoje. Não falamos nada nesse sentido (renovação) porque não é a hora. Vamos deixar o tempo passar e tratar em um momento mais oportuno — afirmou Bolzan, no dia 12 de maio.
Oficialmente, o discurso dos dirigentes do Grêmio é de que o tema ainda será analisado. Conforme fontes consultadas por GZH, a situação não é tão simples de ser solucionada. O desejo quase unânime pela manutenção do jogador tomou conta das redes sociais após a publicação da informação por GZH de uma oferta de um clube do Catar.
A pressão pública na direção feita pelos torcedores, no entanto, não muda as ressalvas feitas longes dos microfones. Apesar do reconhecimento da qualidade técnica e liderança sobre os companheiros, a necessidade de se garantir um alto investimento não é unânime na gestão.
A questão está sendo tratada no momento pelo presidente Romildo Bolzan. Em sua manifestação mais recente sobre o tema, na sexta-feira, o dirigente abordou a situação em entrevista ao programa Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha.
— Essa pauta ainda não está na hora. Estamos em um momento diferente do clube. Considero uma coisa tranquila, mas temos de aguardar o momento oportuno. Se tem alguém que tem uma forma absolutamente correta de tratar essas questões é o Kannemann com o clube, assim como o clube com o Kannemann — comentou.
Com a ideia de aproveitar toda a divulgação do esporte no país ao sediar a Copa do Mundo no final deste ano, a liga do Catar pretende investir para garantir a chegada de jogadores que aumentem o nível técnico. E o nome de Kannemann é exatamente o perfil buscado. Jogador experiente, com passagens pela seleção nacional e que auxiliaria na implementação do projeto esportivo.
Segundo apurado por GZH, os valores envolvidos na proposta do Catar estão em um patamar muito acima da realidade do mercado brasileiro. A ideia é de que Kannemann, caso aceite abrir a negociação, possa ter a sua contratação de forma imediata. Para isso, o Grêmio poderia pedir algum tipo de compensação financeira para liberar o jogador. Ou apenas esperar que o argentino cumpra os seis meses finais de vínculo e deixe Porto Alegre de graça ao final do período. A multa rescisória para o Exterior é de aproximadamente US$ 10 milhões (cerca de R$ 53 milhões pela cotação atual).
A avaliação do estafe de Kannemann é de que o Grêmio está em condições de definir a situação. Se o clube gaúcho quiser manter o jogador por mais tempo, basta apresentar uma oferta e manifestar o desejo da permanência. A questão financeira não é apontada como prioridade.
A família do jogador está adaptada ao Brasil e não vê problemas em seguir morando em Porto Alegre. O filho mais novo do argentino nasceu na cidade, inclusive. Mas a avaliação do projeto é o que moverá o argentino na reta final da sua carreira. Em tom informal, é dito que o argentino "não pedirá por favor para jogar no Grêmio", mas que também faz questão de não deixar o clube pela porta dos fundos depois de seis anos e 10 títulos.
No caso de Kannemann, o patamar salarial do jogador é considerado bastante elevado para a realidade brasileira. Ele e Geromel são os dois maiores salários do clube. Cada um tem custo de cerca de R$ 1 milhão por mês, segundo fontes consultadas na direção do Grêmio.
Contratado em 2016 como uma aposta para resolver as dificuldades do lado esquerdo da defesa na equipe de Roger Machado, o argentino caiu nas graças da torcida. Com um estilo muito aguerrido e de entrega total, Kannemann formou uma dupla histórica ao lado de Geromel. Ambos se afirmaram pelas atuações de destaque em Porto Alegre e foram recompensados com extensões contratuais nos últimos seis anos.
O primeiro aumento, e reajuste do prazo de encerramento de contrato, aconteceu em julho de 2018. O Grêmio agiu para manter Kannemann após receber consultas de clubes da Itália. Foi acordado que o vínculo teria vencimento apenas no final de 2020. No final de 2018, mais um reajuste e outra ampliação de contrato foi acertada. O zagueiro aceitou uma extensão até dezembro de 2022, e passou a receber o maior salário do clube.
O poder de investimento do Grêmio para 2023 ainda depende do acesso para a primeira divisão. Por isso, o clube espera para saber se terá um orçamento maior na próxima temporada. Outra questão importante é o contrato de Geromel. O zagueiro brasileiro tem permanência praticamente garantida, já que seu vínculo com o Tricolor será renovado automaticamente caso o capitão entre em campo em mais cinco jogos. A direção entende que é preciso ter cautela antes de renovar com dois zagueiros ao custo de R$ 1 milhão por mês cada.
Outra situação é a dificuldade que Kannemann demostrou em estar à disposição nas últimas temporadas. O último ano em que ele foi utilizado em mais da metade das partidas do Grêmio foi em 2020, quando fez 41 dos 73 jogos na temporada. A chegada de Bruno Alves também oferece um substituto efetivo.