Quatro gols sofridos em 13 jogos. Nove jogos sem ser vazado. Seis partidas seguidas sem levar gol. Esses são alguns dos números que fazem do Grêmio a melhor defesa da Série B, com média de apenas uma bola nas redes tricolores a cada 3,25 jogos.
Desde que o técnico Roger Machado adotou o esquema com três zagueiros, no empate sem gols com o Vila Nova, pela 9ª rodada, o Tricolor não foi mais vazado. A mudança na formatação da equipe, na avaliação do comentarista da Rádio Gaúcha e colunista de GZH Diogo Olivier, foi fundamental para as estatísticas positivas no setor defensivo, mas impactam também na falta de poder no ataque.
— O Grêmio acionou o modo segurança na Série B. Os três zagueiros surgem, em primeiro lugar, para não tomar gol. Por isso, às vezes, ainda surgem os dois volantes adiante deles. Ou mais um marcador improvisado na lateral direita. Roger decidiu que valia a pena sacrificar a outra parte (criar e atacar) em nome de não tomar gols e, apoiado pelas limitações dos adversários, encontrar a salvação com Diego Souza. Foi uma emergência, quase pânico, que permanecerá até chegarem reforços para a criação e ataque — opina.
O retorno de Kannemann, que esteve fora do time no início da temporada por conta da recuperação de uma cirurgia no quadril, também é apontado como um dos motivos para os bons números da defesa gremista. A imposição do argentino, assim como o entrosamento com Geromel, ajudaram a elevar a qualidade do setor.
— A volta do Kannemann foi fundamental para fortalecer o setor. O Geromel depende muito dele, porque eles têm perfis diferentes, se complementam. O Kannemann traz essa imposição física, o Geromel é a liderança técnica, independentemente do esquema — destaca Cassiá Carpes, ex-zagueiro e ex-treinador do Grêmio.
Porém, na avaliação dele, a equipe sacrificou o setor ofensivo para conseguir equilibrar a defesa. Cassiá disse ser contra a utilização dos três zagueiros pelo Grêmio na Série B:
— Enfraquece o meio-campo. Defender é importante, mas precisa ter criatividade no time. Até porque, o que o treinador faz quando toma um gol? Tira um zagueiro. Isso mostra que é um sistema para defender, não para atacar. É um esquema provisório, porque enquanto está garantindo o resultado, está tudo bem. Mas o Grêmio nem tem alas para fazer dar certo esse esquema. Acho que precisa ser revisto.
Na história, o torcedor pode recordar da conquista da Copa do Brasil de 2001, sob o comando de Tite, em que o Grêmio atuou com três zagueiros. Um dos defensores daquele time, Marinho explica algumas diferenças entre as equipes da época e de hoje.
— Antigamente, tinha um zagueiro na sobra e dois marcando mais individual, porque os times usavam dois atacantes. A gente conseguia ficar com três atrás e atacava com sete jogadores. Era um time ofensivo — recorda Marinho, que tinha ao seu lado na zaga Mauro Galvão e Roger, hoje técnico tricolor.
Mas, na avaliação do ex-zagueiro do Grêmio, os bons números defensivos podem ajudar os atletas de meio-campo e os alas a se soltarem mais ao ataque.
— O Roger jogou nesse esquema. Era o zagueiro pelo lado esquerdo, conhece bem a movimentação e sabe o que os jogadores têm que fazer. Nós tínhamos um volante só, agora tem dois. Mas com essas estatísticas positivas, o time vai se soltar mais, porque vai ganhando confiança, sabem que a defesa está segura e sobem com mais tranquilidade. Isso é importante para fazer o time funcionar bem neste esquema — destaca Marinho.
Cabe a Roger Machado, agora, fazer com que os bons números defensivos se reflitam também no ataque do Grêmio. Foram apenas 11 gols marcados em 13 jogos, média de menos de uma bola nas redes por partida. Para voltar à Série A de forma tranquila, será importante ter mais equilíbrio.