Por onde andava Bitello no ano passado, quando o Grêmio precisava de um volante que passasse a bola, chegasse à frente, chutasse a gol? Ou a necessidade era de um meia que soubesse recompor, conseguisse marcar e desse combate?
O jogador de 22 anos foi um dos principais responsáveis pela virada no campeonato que culminou no título gaúcho. Com ele, o time encontrou a qualidade de armação e a ocupação de espaços que deram o equilíbrio tão pedido por Roger Machado. O treinador, aliás, é responsável direto pela ascensão do principal candidato a melhor do Gauchão.
Talvez apenas sua presença não fosse suficiente para evitar a queda. Mas ele estava aqui. Viu de Eldorado do Sul uma série de jogadores receberem oportunidade. Nenhum se afirmar. A equipe penava por falta de qualidade e de personalidade.
Enquanto isso, Bitello, que nasceu João Paulo de Souza Mares, e tem 22 anos (o que nem é considerado mais tão jovem assim) corria atrás da bola contra jogadores do Brasileirão sub-23 e da Copa FGF. Suas únicas aparições no time principal foram em uma partida do Gauchão e uma da Sul-Americana. Em ambas, ao lado de guris e reservas. Terminou o ano com 22 jogos e quatro gols.
O 2022 começou para ele aparentando que seria uma versão B do 2021. Estava no time de transição que começou o Estadual, treinado por César Lopes, disputou duas partidas e saiu da equipe quando os titulares voltaram. Não recebeu nem sequer uma chance de Vagner Mancini. Quando foi chamado, ficou apenas no banco.
O treinador anterior foi demitido e, na emergência, César Lopes lhe deu 90 minutos contra o União-FW. O Grêmio perdeu. Mas Roger Machado estava na Arena de Frederico Westphalen. Do mau desempenho da equipe, o treinador vislumbrou o jogador que poderia ajudar a mudar o cenário que se desenhava para o restante do campeonato.
Foi titular contra São Luiz e Mirassol. Sobreviveu à eliminação na Copa do Brasil. E foi em sua ausência que mostrou o quanto era importante. No Gre-Nal da primeira fase, Roger deixou-o no banco. O clássico, vencido pelo Inter, foi classificado pelo presidente Romildo Bolzan como "o pior de sua vida". A escalação foi tão equivocada que o treinador mexeu no time ainda no primeiro tempo. A mudança deixou o meio-campo mais recheado, e o Grêmio conseguiu estancar a sangria.
O Gre-Nal, aliás, seria outro ponto importante nessa história de Bitello. O Grêmio já vencia por 1 a 0 o duelo de ida da semifinal quando ele teve a coragem e a ousadia de arriscar um chute de muito longe, vencer Daniel e ampliar a vantagem tricolor dentro do Beira-Rio. Além de marcar, ele também havia sido decisivo fazendo gol.
Da fornada de volantes que o Grêmio segue apresentando, aliás, é o mais vertical. Mostrou isso em todas as oportunidades que teve. Nunca se omitiu de tentar, arriscar, chutar. Incentivado por Roger, consolidou-se na equipe.
— Agradeço ao professor por ter me dado oportunidade. Agora precisamos melhorar ainda mais para subir da Série B, que é o nosso objetivo da temporada — disse o meia enquanto dava a volta olímpica.
O treinador, na zona mista após a conquista, comentou:
— Colocar jovens e mesclá-los com mais experientes é uma receita que conheço desde 1993, quando recebi minha oportunidade. Entendo ser o jeito certo de dar experiência.
A experiência veio da melhor forma possível. Estreando no profissional com título. E proporcionando um momento divertido no final da festa. André Silva, repórter da Rádio Gaúcha, lhe perguntou:
— Posso votar em ti para craque do Gauchão?
A resposta:
— Pode, claro!