Marcada por turbulências, polêmicas fora de campo, apenas três gols em 28 jogos e o rebaixamento, a segunda passagem de Douglas Costa pelo Grêmio durou exatos oito meses. Anunciado em 21 de maio do ano passado, com pompa e festa da torcida nas redes sociais, o casamento do jogador com seu clube do coração se encaminhou para o final na sexta-feira (21). Com proposta para defender o Los Angeles Galaxy, na Major League Soccer (MLS), o jogador será liberado e terá o contrato com o Tricolor rescindido nos próximos dias. Emprestado pela Juventus até junho, Douglas retornará ao clube italiano, e aí será feita a transferência de seu vínculo para o time americano.
O acordo encaminhado na noite da última quinta-feira libera o Grêmio dos pagamentos relativos a 2022. O clube ainda terá de quitar cerca de R$ 7,2 milhões em atraso da última temporada e também o proporcional aos dias trabalhados neste ano. Mas, como ficou combinado entre a direção e representante do jogador, Junior Mendonza, esse valor só começará a ser repassado a partir de janeiro de 2023 e em 48 parcelas mensais de R$ 150 mil.
Uma cláusula no termo elaborado para a liberação também prevê que Douglas Costa não poderá atuar por um clube brasileiro durante o período em que o Grêmio fizer os pagamentos. A única situação pendente é a aprovação da Juventus, mas os envolvidos nas conversas acreditam que o tema será superado facilmente por já existir um encaminhamento ao futebol do Estados Unidos.
O início da operação para viabilizar a saída de Douglas ocorreu no dia da reapresentação do grupo de jogadores para a atual temporada. Com covid-19, o jogador perdeu o evento e começou a cumprir o período de isolamento. No mesmo dia, 10 de janeiro, seu representante teve a primeira reunião com o presidente Romildo Bolzan Júnior na Arena. O dirigente deixou claro de que não seria possível arcar com o custo mensal do jogador — entre salários e outros valores recebidos, a remuneração do jogador é de cerca de R$ 1,8 milhão ao mês. A rescisão foi oferecida, mas recusada. Douglas orientou seu empresário a reforçar seu desejo de permanecer. O clube se disponibilizou a facilitar qualquer oportunidade de negociação. E foi o que aconteceu.
Na última quinta-feira, Junior Mendonza retornou a Porto Alegre com uma proposta em mãos do Los Angeles Galaxy. No encontro, foram acordados os detalhes financeiros da saída, pendência superada pelas partes sem maiores dificuldades. Ao ser comunicado por seu empresário do encaminhamento do negócio, Douglas Costa deixou o hotel da concentração gremista irritado. Sua permanência era desejo do restante do grupo de jogadores, e o meia-atacante de 31 anos também contava com apoio da comissão técnica, mas a questão financeira pesou. Ele chegou a treinar como titular na primeira atividade tática da pré-temporada.
Formado nas categorias de base do Grêmio e sempre ressaltando seu sentimento pelo clube, Douglas Costa abriu mão de um contrato que lhe garantia R$ 40 milhões por ano com a Juventus para retornar a Porto Alegre, em 2021. Além da vontade de defender a camisa tricolor, e com Renato Portaluppi como um dos grandes incentivadores de seu retorno à época, o jogador queria a ficar próximo dos filhos. As crianças, um menino e uma menina, moram com a mãe em Porto Alegre. Oito meses depois, o atleta sai do clube sem deixar saudade.
Relação sofreu abalos desde a chegada
Ao círculo de amigos mais próximos na Capital, Douglas Costa contou que se sentiu em uma posição em que acabou obrigado a aceitar a rescisão. Com uma oferta de outro clube apresentada, e com a posição do Grêmio de não ter condições de renegociar valores do contrato, o jogador se viu sem outra alternativa a não ser aceitar um desfecho que reforçou por diversas vezes que não queria. Horas após a informação da saída ser confirmada, ainda havia preocupação de quem teve contato com o jogador de que o camisa 10 pudesse recuar e não aceitar mais os termos do fim de ser vínculo com o clube.
A relação de Douglas com a gestão do Grêmio sofreu os primeiros abalos logo na chegada do atleta ao clube. Ele relatou incômodo com o vazamento dos detalhes da sua remuneração pouco tempo após o acerto com o Tricolor, além de outros episódios envolvendo situações de vestiário que foram expostas publicamente. O jogador manifestou inconformidade a pessoas e colegas, mas não levou adiante as cobranças. A expectativa é que, com sua saída, Douglas Costa possa revelar em entrevistas as situações que lhe causaram desconforto no clube.
O desempenho abaixo da expectativa transformou aos poucos a expectativa do torcedor em frustração. Com contrato até dezembro de 2023 (o novo vínculo passaria a ter essa validade ao final do período de empréstimo feito pela Juventus), o camisa 10 terminou o ano sem o desempenho esperado.
Na semana em que o rebaixamento do Grêmio acabou sacramentado, ele acabou envolvido em duas polêmicas. Recebeu um cartão amarelo contra o São Paulo, que o tirou do decisivo jogo contra o Corinthians, e teve o pedido negado para deixar a concentração dias antes da partida contra o Atlético-MG — para viajar ao Rio de Janeiro a fim de participar da sua festa de casamento no Copacabana Palace. Xingou um torcedor nas redes sociais, mas publicou uma carta em seu perfil no Instagram nos últimos dias pedindo desculpas pelo episódio.
Outro ponto de tensão do jogador com a direção se agravou com as entrevistas de membros do departamento de futebol após o rebaixamento, que também deixaram o jogador incomodado. Aos amigos, ele relatou que foi exposto para justificar a queda para a Segunda Divisão.