A busca do Grêmio por reforços apontou para Martín Benítez como alvo para a função de meia. O jogador de 27 anos, formado no Independiente-ARG e que atuou por empréstimo em Vasco da Gama e São Paulo nas duas últimas temporadas, foi o escolhido para ser o protagonista da armação do time de Vagner Mancini em 2022. O nome do argentino, porém, gera debate entre imprensa e torcida. Se por um lado a parte técnica é motivo de elogios, a sua condição física é tema de preocupação.
Em campo, a função que Martín Benítez irá executar no Grêmio é a mesma de Jean Pyerre, que acertou sua ida para o Athletico-PR por empréstimo e viveu na Arena uma trajetória marcada por altos e baixos. Levando em conta os números, Jean Pyerre apresenta até uma leve vantagem sobre Benítez em relação à minutagem ao longo dos dois últimos anos. Somando 2020 e 2021, o ex-meia gremista esteve em campo em 4.754 minutos enquanto o argentino atuou por 4.231 levando em conta partidas por Independiente, Vasco e São Paulo. Essa diferença de 523 minutos equivale a quase seis jogos.
Para a saída de Jean Pyerre, porém, a questão física não foi a mais importante. Em entrevista a GZH no mês passado, o vice de futebol Denis Abrahão até elogiou a qualidade do meia, mas avaliou que seu desempenho não foi melhor na Arena por outro motivo:
— Acho que porque ele não quer — respondeu o dirigente ao ser questionado sobre o motivo que Jean Pyerre não poderia ser o meia que o Grêmio procurava no mercado.
— Ele tem tudo, ele é craque. Eu tenho um carinho muito grande por esse menino, e senti muito. Nós sinalizamos em vários momentos, deixamos ele fora de algumas viagens para ver se caía a ficha, mas não caiu. O Jean Pyerre vai ser feliz fora do Grêmio porque tem qualidade. Torço para que se encontre e consiga desenvolver o seu potencial, algo que ele tem muito. Infelizmente, aqui não conseguiu e não sei o porquê. Trabalhamos pouco tempo juntos, mas tenho um grande carinho por ele — completou Denis.
Ex-técnico de Benítez no Vasco da Gama, Ramon Menezes conversou com GZH e fez elogios ao jogador. Ainda que cite as dificuldade físicas que o meia enfrentou em sua passagem por São Januário, o treinador ressalta que via o argentino comprometido no dia a dia.
— Ele enfrentou uma dificuldade de adaptação ao calendário brasileiro logo que chegou ao Vasco. Depois teve a parada da pandemia, isso atrapalhou a parte física dele, mas vejo como um grande contratação do Grêmio. A qualidade dele todo mundo viu tanto no Vasco quanto no São Paulo. Ele é um jogador muito inteligente, que alia a parte técnica com o lado agressivo. É um atleta que quando vê o jogo de frente é um problema para o adversário. Ele tem disposição. É um jogador que se entrega durante as partidas — apontou Ramon, que ressalta a importância de Benítez ter uma boa pré-temporada.
— Essa ideia do Grêmio (de fazer uma pré-temporada de 30 dias) será muito boa para o Benítez. Se o clube tiver essa atenção e der a sustentação para suportar o nosso calendário, penso que ele pode fazer uma bela temporada. É um jogador que bem fisicamente vai te dar muito no campo — seguiu.
Os elogios à técnica de Benítez também chegam da Argentina, assim como as dúvidas sobre a parte física.
— O Benítez é um jogador muito forte nos últimos metros do campo. Pode jogar tanto por trás do centroavante ou caindo pelos lados. Tem no desequilíbrio individual o seu ponto mais forte. O que mais lhe atrapalhou na carreira foi o tema físico, teve muitos problemas musculares desde os primeiros anos no Independiente — comenta o repórter do Diário Olé Favio Verona.
Origem como atacante e comparação a estrela argentina
Buscado pelo Grêmio para o ser o meia armador, Martín Benitez deu os primeiros passos na carreira como atacante. Foi nessa posição que ele despontou como grande promessa do Independiente, em 2012, após ter integrado o elenco da Argentina no Mundial Sub-17. A característica física e a precocidade lhe renderam comparações a Sérgio "Kun" Agüero, também criado na base do Rojo e vendido ao Atlético de Madrid por mais de 20 milhões de euros quando tinha 17 anos, em 2006.
Como tantas vezes no futebol, Benítez não conseguiu fazer jus a essas comparações. Os problemas físicos, que hoje causam dúvidas em alguns gremistas, sempre atrapalharam o jogador, que viveu altos e baixou em Avellaneda.
Seu melhor momento no clube veio entre 2017 e 2018, sob o comando do técnico Ariel Holan. Em 2017, ele foi titular da equipe que conquistou a Copa Sul-Americana vencendo o Flamengo na final, quando atuou como extrema. No ano seguinte, passou a jogar mais pela faixa central do campo, como esse meia que o Tricolor busca, e viveu sua melhor temporada individual. Benítez marcou 13 gols e esteve em campo em 38 partidas, sendo 30 delas como titular.
Depois, Benítez não conseguiu ter sequências longas com bom desempenho e entrou em conflito com a torcida. Após ter sido fortemente vaiado na partida contra Fortaleza, pela Sul-Americana, em fevereiro de 2020, decidiu deixar o clube. Foi quando acertou seu empréstimo para o Vasco.
— Não estava desfrutando na minha etapa final no clube. Minha relação com a torcida não era boa e isso ficou claro contra o Fortaleza. Ter sido vaiado me incomodou muito e ali tomei a decisão de sair. Foi nesse momento que tomei a decisão sem chance de mudar de ideia — contou o jogador à época.
No Vasco, Benítez foi destaque de uma equipe que chegou a liderar o Brasileirão. Seu desempenho caiu com o time, que acabou rebaixado ao final da competição. Ainda assim, a imagem deixada lhe rendeu o acordo com o São Paulo.
No Morumbi, o filme foi parecido, um bom início, quando foi eleito o craque do Paulistão, mas uma reserva na parte final do ano. Agora, o Grêmio aposta na contratação do jogador esperando que em Porto Alegre ele possa ter uma trajetória com mais momentos de alta que em seus antigos clubes.
Benítez nas duas últimas temporadas
2020 (Vasco e Independiente)
- 35 jogos (2.424 minutos)
- 3 gols
- 5 assistências
2021 (São Paulo)
- 42 jogos (1.807)
- 4 gols
- 6 assistências