Em um Brasileirão que vem atingindo níveis negativos inesperados com 19 derrotas e prestes a completar seis meses dentro do Z-4, o Grêmio tenta desafiar as probabilidades que indicam o rebaixamento. Com 98,2% de chances de cair para a Série B, conforme projeção do Departamento de Matemática da Universidade Federal de Minas Gerais, o Tricolor recebe o São Paulo nesta noite, a partir 20h, na Arena, obrigado a vencer para manter viva a esperança de permanência na Série A em 2022. O retorno da torcida será um combustível para o time de Vagner Mancini mostrar um poder de reação que parece mais improvável a cada dia.
Em razão da pandemia e da punição aplicada pelos incidentes na derrota para o Palmeiras, em 31 de outubro, o jogo de hoje será apenas o quinto do Grêmio com presença da torcida na Arena neste Brasileirão. Não se sabe se com apoio dos gremistas em mais rodadas a situação do clube seria a mesma com o campeonato chegando ao seu final, mas o fato é que, mesmo quando contou com apoio da torcida, o time obteve apenas uma vitória nos quatro compromissos em sua casa.
Mesmo assim, há gremistas que irão ao jogo contra os paulistas com um último fio de esperança. É o caso de Lander Lovatel Piccoli, 27 anos. Morador de Flores da Cunha, o estudante de Publicidade e Propaganda irá apresentar seu TCC na Universidade de Caxias do Sul (UCS), em Caxias do Sul, no começo da tarde e depois descerá a Serra rumo à Arena na expectativa de uma vitória sobre o São Paulo.
— Quero muito que o Grêmio ganhe o jogo, que seja vitorioso no campo e que a torcida faça um papel digno. O ano foi difícil, está sendo muito difícil e temos que jogar pela dignidade, com amor e com raça. Não jogamos a toalha ainda. Eu não joguei a toalha. Enquanto tiver a matemática, vamos acreditar. Espero que o Grêmio seja Grêmio, aquele Grêmio lutador, que honre a torcida. Eu fiquei um ano e meio sem poder ir ao estádio e pagando mensalidade. Que eles (jogadores) não desistam da gente. A torcida não desistiu deles — aponta Piccoli, que revela ter repartido nas últimas semanas as preocupações da fase final do curso acadêmico com a situação do time na tabela.
— Na situação que estamos, como torcedores do Grêmio, eu sinto que as duas coisas estão me deixando muito preocupado. O TCC é uma conquista da minha vida, mas o Grêmio também é importante. Fui aos outros quatro jogos e não deixaria de ir nesse — segue o torcedor que estará em seu lugar tradicional, no setor gramado leste da Arena.
Essa paixão pelo Grêmio vem de família, herdada da avó materna Elvira Lovatel, com quem Lander acompanhou a Batalha dos Aflitos, em 2005.
— Nunca vou abandonar o Grêmio, nem deixar de torcer. Perdi minha avó em 2008 e ela que me fez amar o Grêmio. Em 2005, assistimos à Batalha dos Aflitos juntos, e ela me disse: "Nunca deixe de amar o Grêmio porque esse clube é capaz de tudo". Ela me fez amar ainda mais o Grêmio — conta o torcedor.
Essa relação familiar também move o estudante João Latosinski, 22 anos. Ele sairá de Camaquã com o pai, o empresário Carlos Bueno, 54, com as emoções divididas. Segundo ele, a cabeça lhe diz que não há mais chance de o Grêmio evitar o rebaixamento, mas o coração o deixa esperançoso em permanecer na Série A.
— Tem de jogar pela dignidade. O Grêmio é um clube muito grande para simplesmente largar e pensar "agora já era". Não pode ser assim. A torcida não pode ficar marcada porque alguns invadiram o campo e quebraram o VAR contra o Palmeiras. É aquele jogo do bafo na nuca, da torcida tentar jogar junto e empurrar o time. O meu lado racional diz que não dá mais, mas a parte do coração sempre acredita. Como existiu a Batalha dos Aflitos, sempre tem um resto de esperança — aponta.
A Arena não deverá estar cheia nesta noite, mas certamente a esperança na salvação tomará conta dos gremistas presentes quando a bola rolar e poderá ser um empurrão decisivo para o time de Vagner Mancini superar o de Rogério Ceni e manter sua luta contra as projeções em busca da permanência na Série A.