“Você, torcedor, pode acreditar que aquilo que começa hoje, no dia 15 de outubro, vai com certeza fazer história a partir de domingo”. Essas foram algumas das primeiras palavras de Vagner Mancini como técnico do Grêmio. Um mês, sete jogos e cinco derrotas depois, a afirmação tem contornos de fábula, mas a matemática ainda indica ser possível mudar o rumo da narrativa da queda no Brasileirão. Será preciso, entretanto, reverter a lógica e, a partir do confronto contra o Bragantino, nesta terça-feira (16), fazer uma campanha inédita para o alívio aparecer no ponto final.
Ainda está para surgir um time capaz de tirar sete pontos de diferença para o primeiro time fora da zona de rebaixamento com sete partidas por jogar, realidade vivida pelos gremistas em relação ao Bahia. Com 21 pontos em disputa, a maior desvantagem descontada na Era dos pontos corridos com 20 clubes (desde 2006) foi a do Fluminense, em 2009. Ao término da 31ª rodada, o time de Cuca era o lanterna com cinco pontos a menos do que o Santo André, 16º colocado. Seis vitórias consecutivas permitiram que os cariocas chegassem na última rodada fora do Z-4 e o empate com Coritiba bastou para seguir na elite.
— O fundamental foi que o Fluminense fez a parte dele. O que mudou foi o seguinte: os jogadores deixaram de ser individualistas para serem mais coletivos. Tem de fazer algo diferente do que fez o ano todo. O que prevaleceu foi a união. O elenco do Grêmio, hoje, é mais qualificado do que aquele do Fluminense. A experiência tem que prevalecer nessa hora — analisa Wellington Monteiro, integrante daquele elenco do clube carioca.
Outras duas equipes alcançaram reações similares. Avaí e Criciúma conseguiram reverter um déficit de quatro pontos em 2010 e 2013, respectivamente. Assim como o Flu, os catarinenses chegaram para a partida derradeira fora do Z-4. Os avaianos somaram 13 pontos, enquanto o Criciúma conquistou 14 — pontuação, nas projeções de momento, que até pode evitar a terceira queda gremista.
O clube de Florianópolis lançou mão de artifícios utilizados pela direção gremista neste ano. O técnico Vagner Benazzi assumiu o time na 30ª rodada, e a premiação do elenco sofreu um incremento, mas o aspecto primordial para a arrancada foi similar ao exemplo do Fluminense.
— O que aconteceu foi que os jogadores se fecharam bastante, a situação era muito difícil. As pessoas não acreditavam na gente porque nossa tabela era difícil. O Benazzi era um técnico que gritava o tempo todo. Deu uma acordada na equipe. São situações parecidas, mas a do Grêmio é mais difícil — relembra o zagueiro Emerson, titular daquele Avaí e que disputou o Gauchão deste ano pelo Juventude.
Mesmo quando a diferença é menor, escapar da Série B não é simples. Dos 60 rebaixados desde 2006, somente 11 que estavam no Z-4 com sete jogos por jogar encontraram a salvação pelo caminho, o equivalente a 18,3%.
A intenção de Mancini na sua chegada era montar uma estratégia de guerra para melhorar a mentalidade e mudar a atitude dos jogadores para deixar o time mais agressivo. Na tentativa de dar vida ao que falou em sua apresentação utilizou 27 jogadores e dois sistemas táticos diferentes (4-1-4-1 e 4-2-3-1).
Uma renovação mais consistente da equipe, entretanto, só ocorreu nas duas últimas partidas, quando a média de idade rondou a casa dos 26 anos. Nos cinco jogos anteriores, esteve sempre acima dos 29. Alguns jogadores pouco utilizados ressurgiram, como Campaz, Mateus Sarará, Elias, Jonatha Robert, Churrín, Paulo Miranda e Darlan.
Certos padrões se repetiram nesse um mês de trabalho. Villasanti sempre foi o primeiro volante a deixar o time. Elias, apesar de ter dado mais fôlego ao ataque, não terminou as duas partidas que começou. Exceção feita ao jogo contra o Fluminense, quando iniciou o jogo, Campaz é colocado em campo quando o Grêmio está atrás no placar.
São 24 dias e sete jogos para o Grêmio fazer um milagre inédito no Brasileirão. Senão, viverá um filme que não vale a pena ver de novo pela terceira vez.
Quem se salvou a sete jogos do final
Athletico-PR (2008) - Tinha um ponto de desvantagem para o primeiro time fora do Z-4.
Fluminense (2009) - Era o lanterna e estava a cinco pontos de sair do Z-4. Venceu seis jogos e empatou um.
Botafogo (2009) – Tinha a mesma pontuação do porteiro da zona de rebaixamento.
Avaí (2010) – A salvação estava a quatro pontos de distância. Venceu quatro confrontos e empatou outro.
Criciúma (2013) – Estava a quatro pontos de deixar o Z-4. Venceu quatro jogos e empatou dois.
Coritiba (2014) – Tinha um ponto a menos do que 16º colocado.
Coritiba (2015) – Estava dois pontos atrás do primeiro clube fora do Z-4.
Vitória (2016) – Conseguiu reverter um déficit de dois pontos.
Vitória (2017) – Desta vez, a defasagem na pontuação era de um pontos.
Chapecoense (2018) – Tinha a mesma pontuação do primeiro não rebaixado.
Botafogo (2019) – Conseguiu tirar uma desvantagem de um ponto.
Colunistas opinam
Qual estratégia para o momento?
Diogo Olivier, comentarista da Rádio Gaúcho e Colunista de GZH
O Grêmio tem que criar uma ideia e um time. Não dá para ficar trocando a todo instante. O time e a ideia têm de ser a da partida contra o Fluminense. O Grêmio tem de partir de um mundo real, onde precisa se arriscar porque precisa vencer os jogos, não pode ficar esperando jogar por uma bola e, daqui a pouco, empatar para depois ganhar. Ele tem que ganhar, tem que arriscar. Não tem mais alternativa. Me parece que o time que jogou o Fluminense, com Matheus Sarará, com Elias, que perdeu gols, mas estava ali, coisa que outros jogadores sequer conseguem, com Vanderson. Se tiver Geromel e Kannemann, melhor. Quem botou o Grêmio na zona de rebaixamento foram os cascudos, não foram os meninos.
Pedro Ernesto Denardin, narrador da Rádio Gaúcha e colunistas de GZH
A única estratégia que tem o Grêmio é trabalhar bastante para tentar ganhar cinco partidas. É a chamada missão impossível, que, na verdade, não é impossível, ela aprece como tal. Ganhar cinco em sete, quando ganhou oito em todo o Campeonato Brasileiro, é muito complicado. A única coisa que pode fazer é continuar trabalhando, acreditando e dar dignidade a um clube que tem o tamanho do Grêmio , que tem uma grande torcida e muitos títulos armazenados.
Renata Mendonça, comentarista do SporTV
Pelas trocas de técnicos e mudanças de ideia de jogo, o Grêmio ainda não tem uma "cara" nesse campeonato. O Mancini tem feito vários testes para ver o que vai funcionar melhor e isso ainda é perigoso pelo momento que o Grêmio passa. Mas algumas respostas ele já teve. O time não funcionou bem com três volantes no meio, Alisson é melhor jogando pelo lado e Campaz toda vez que entrou melhorou a performance do time. E mais do que definir quem joga, é conseguir controlar o emocional por 90 minutos. Contra o América-MG, o time entrou desconcentrado nos dois tempos. Se não controlar esse emocional, o Grêmio não vai conseguir os resultados que precisa para se livrar do rebaixamento. No papel, tem time pra isso, mas o tempo está ficando curto.