Com o empate por 2 a 2 com o Cuiabá, na Arena, o Grêmio perdeu mais uma oportunidade para deixar o Z-4 do Brasileirão. Nessa incômoda situação desde o começo de junho, o Tricolor bateu o seu recorde de permanência em uma posição de queda para a segunda divisão na história do Brasileirão.
Em 2003, temporada em que escapou da Série B na última partida, o clube ficou 22 rodadas na zona de rebaixamento. Neste ano, já são 23 entre os últimos da tabela. Ou seja, nem quando caiu, em 1991 e 2004, o Grêmio ficou tanto tempo na zona de descenso.
O ano de 2003 marcou o começo da disputa do Brasileirão por pontos corridos. Na ocasião, 24 clubes jogaram a competição, mas só os dois últimos desceram para a Série B. Depois de ficar 22 rodadas no Z-4 — 19 delas na lanterna, — o Tricolor terminou a competição em 20º lugar. Ou seja: teria escapado mesmo se quatro equipes fossem rebaixadas.
A temporada atual tem outras semelhanças com aquela de 18 anos atrás, quando a queda de expectativas também teve como marco o fim do sonho da Libertadores.
Se agora Renato Portaluppi encerrou uma passagem de quase cinco anos após a eliminação para o Independiente del Valle, na etapa preliminar no torneio continental, em 2003 Tite — que estava em sua terceira temporada no Estádio Olímpico — caiu pouco depois do Tricolor ter sido eliminado do torneio continental para Independiente Medellín, nas quartas de final.
— Se analisarmos, as coisas estão se repetindo. A vida é feita de ciclos que muitas vezes se repetem e o futebol também é assim. Às vezes não se olha para trás para entender isso. A situação atual é semelhante com aquela. Ali tínhamos um grupo com jogadores importantes, como o Grêmio tem agora. Vários fatores aconteceram desde a saída do Tite até a chegada do Adílson (Baptista) — recorda Christian, centroavante gremista em 2003.
Responsável por comandar o Grêmio na reta final de Brasileirão de 2003, Adílson Baptista foi o quarto treinador do clube naquela temporada. Entre Tite e ele, o Tricolor foi comandado por Darío Pereyra e Nestor Simionatto, cada um durou apenas oito jogos.
Simionatto recorda que, como agora, foi difícil para o Grêmio como clube lidar com o fim de um ciclo vencedor. O ex-treinador, porém, pondera que a situação financeira atual dá a possibilidade para a torcida acreditar que o Tricolor poderá dar a volta por cima mais rápido do que naquela ocasião, quando escapou da queda em 2003, mas acabou rebaixado no ano seguinte.
— A história mostra que quase todos os clubes passam por dificuldades quando encerram um período vencedor. Em 2003, o Grêmio tinha encerrado com o Tite e agora aconteceu com o Renato. Mas eu vejo uma grande diferença que é a questão financeira. Lá, o Grêmio tinha saído da parceria com a ISL e estava em uma grave crise financeira, tanto que escapou em 2003 e depois caiu em 2004. Vejo agora um cenário melhor para o futuro. Se não cair, penso que já no ano que vem o clube estará em outra situação. O desafio agora é se manter na Série A. Isso acontecendo, o Grêmio terá totais condições de se organizar para retomar ao que foi nos últimos anos. A grande diferença de agora para 2003 é econômica — aponta.
Recuperação
Muitos gremistas que lembram do Brasileirão de 2003 citam o Gre-Nal vencido no Beira-Rio como determinante para a recuperação. Foi com gol de Christian que o Grêmio, então lanterna, venceu o Inter, que brigava por vaga na Libertadores, por 1 a 0, pela 36ª rodada.
O artilheiro daquele clássico, porém, afirma que o jogo na casa colorada foi apenas o resultado de uma remobilização que havia começando dentro do vestiário. Ele diz que o Tricolor se fortaleceu internamente para sair da atual crise.
— Naquele Gre-Nal, o meu gol foi apenas o ponto final de uma jogada, mas ali tinha todo um trabalho por trás. Esse time atual do Grêmio tem algumas dificuldades, mas é um bom time. Tem condições de se recuperar. Depende muito do grupo, das pessoas da direção e de quem está no vestiário. Agora não tem mais de ter divisões, não tem jovens ou velhos. É resolver os problemas para chegar no final do ano com a cabeça tranquila. O título do Grêmio neste ano é sair do rebaixamento — aponta.
O Grêmio ainda tem duas partidas atrasadas do primeiro turno para realizar, diante de Flamengo, na Arena, e do Atlético-MG, no Mineirão. São jogos que podem ser aproveitados para sair dessa incômoda situação. No entanto, os tropeços em casa contra Sport e Cuiabá mostram que é necessário um melhor no nível de jogo para o Tricolor poder garantir a permanência na Série A.
Grêmio na zona de rebaixamento no Brasileirão 2003
- 22 rodadas (19 na lanterna)
- (de 27/7 a 30/11) - 126 dias
Grêmio na zona de rebaixamento do Brasileirão 2021
- 23 rodadas (oito na lanterna)
- Desde 6/6 – já são 124 dias
Treinadores em 2003
- Tite (11 jogos)
- Darío Pereyra (oito jogos)
- Nestor Simionatto (oito jogos)
- Adilson Batista (19 jogos)
Treinadores em 2021
*Renato Portaluppi (saiu antes do Brasileirão)
No Brasileirão
- Tiago Nunes (7 jogos)
- Thiago Gomes – interino (1 jogo)
- Felipão (14 jogos)