Luiz Felipe Scolari está de volta ao Grêmio depois de seis anos da última vez que treinou o Tricolor. A passagem anterior ocorreu no final de julho de 2014, 21 dias depois do fatídico 7 a 1 da Alemanha sobre a Seleção Brasileira na Copa do Mundo daquele ano.
Na oportunidade, o treinador chegava para substituir Enderson Moreira, demitido após uma derrota para o Coritiba, na Arena, que deixou o time em 10º lugar no Brasileirão naquele momento.
— Se eu cogitei voltar a trabalhar depois do fim de um trabalho que eu tinha uma outra ideia de término, é por causa do Grêmio. O Grêmio é o único time que me faria voltar. Todo mundo sabe que eu sou gremista. Todo mundo sabe o que eu passei aqui. Por esse sentimento, essa situação diferente na minha vida, porque o Grêmio é uma situação diferente. Neste momento, sei que também preciso de um abraço, preciso desse carinho e sei que o Grêmio, esse time e esses jogadores podem me dar — disse o treinador campeão da América em 1995, do Brasileiro de 1996 e da Copa do Brasil de 1994, além de mais três estaduais, quando de sua apresentação.
Ainda sob o comando de Fábio Koff, presidente do Grêmio na segunda passagem de Felipão pelo clube nos anos 1990, o Tricolor terminou aquele Brasileirão em sétimo lugar com 61 pontos e sequer conseguiu vaga na Pré-Libertadores do ano seguinte.
Na temporada seguinte, Koff deixou a presidência para Romildo Bolzan Junior e a grande aposta era a conquista do Gauchão, que foi perdido para o Inter de Diego Aguirre. Uma grande reformulação no elenco foi promovida com a saída de jogadores considerados caros, como Barcos e Marcelo Moreno, por exemplo. A ideia era organizar o clube para voos maiores.
Ainda com Scolari, o Grêmio avançou na Copa do Brasil superando Campinense e CRB, mas começou o Brasileirão com um empate com a Ponte Preta e uma derrota para o Coritiba, o que ocasionou a saída do treinador que àquela altura tinha seu trabalho contestado internamente pelos resultados e por uma atitude que ficou marcada: deixar o campo de jogo antes do final de uma partida em que o Grêmio perdeu para o Veranópolis, na Arena, pelo Gauchão. Aquele ato foi citado como uma má relação com alguns jogadores do elenco, o que seria negado por todos quando da saída do técnico em 19 de maio.
Felipão deixou o clube sem conquistar títulos em sua terceira passagem. Felipão acumula 51 jogos, com 26 vitórias, 12 empates e 13 derrotas, um aproveitamento de 58,8%.
— Felipão não é mais treinador do Grêmio. Ele pediu demissão hoje pela manhã. Entendeu que seu ciclo e sua capacidade de avançar no elenco estavam concluídas. O Grêmio aceitou o seu pedido. Estendeu a situação à toda a comissão técnica. O departamento de futebol permanece como está. O trabalho foi bom, mas o desgaste aconteceu — disse o presidente Romildo ao anunciar a troca.
No mesmo dia, após se despedir de funcionários e atletas, Felipão divulgou uma carta através de sua assessoria de imprensa, onde falou sobre a queda.
— (Em 2014) a primeira solicitação passada para nós é que tirássemos o Grêmio daquela situação de dificuldade. O objetivo naquele momento foi atingido, mas para que nós tivéssemos um ano tranquilo em 2015, o objetivo era a conquista do título gaúcho, eu não consegui. Achei que, em débito, deixei meu cargo à disposição do presidente. Eu acho que tenho um débito e esse débito estou pagando saindo do Grêmio — comentou.
Sobre o desgaste alegado por Bolzan, Felipão disse que respeitava o presidente, mas que era claro que sua relação com Fábio Koff era mais próxima.
— Eu tenho um relacionamento normal com o presidente Romildo e com a direção de futebol. Mas naturalmente que o meu relacionamento com o doutor Fábio, que foi quem me fez voltar ao futebol do Grêmio no ano passado, era um pouco diferente. E é normal que o Romildo assumindo agora como presidente, ele tenha as suas ideias e possa pô-las em prática de uma ou outra forma.
O treinador também falou de possíveis interesses para que ele deixasse o comando gremista.
— Existem grupos interessados em fazer essa substituição porque outros grupos vão tomar conta do poder. Este é um problema que já não era mais da minha alçada e não é da minha alçada, mas que está acontecendo e acontecerá. Provavelmente o Romildo vai ter que se cuidar muito bem dessa parte.
Confira o comunicado feito por Felipão após a saída do Grêmio
Por que deixou o Grêmio
“Eu deixei o Grêmio porque o planejamento que nós tínhamos no ano passado, junto ao doutor Fábio Koff, que havia imaginado uma situação um pouco mais difícil do que aconteceu. E que o Grêmio estava em 11º muito próximo da linha de descenso. Quando eu vim ao Grêmio, a primeira solicitação passada para nós é que tirássemos o Grêmio daquela situação de dificuldade e brigássemos por uma situação melhor. E aconteceu. Chegamos a estar quase entre os classificados para a Libertadores. E nos últimos quatro jogos do ano passado é que deixamos escorrer essa situação pelas mãos e não classificamos. Então, o objetivo naquele momento do doutor Fábio foi atingido. Só que num segundo objetivo, para que nós tivéssemos um ano tranquilo e projetos para o ano de 2015, que era a conquista do título Gaúcho, eu não consegui. E fiquei em débito junto ao doutor Fábio. Que não nos acompanhou mais por estar muito doente. E ficou esta situação de débito. E eu achei que em débito deveria conversar com o presidente atual e colocar o meu cargo à disposição”.
Problemas com a direção
“Eu tenho um relacionamento normal com o presidente Romildo e com a direção de futebol. Eu tenho um relacionamento como sempre tive com outros dirigentes e presidentes. Mas naturalmente que o meu relacionamento com o doutor Fábio, que foi quem me fez voltar ao futebol do Grêmio no ano passado, era um pouco diferente. Nós tínhamos alguma sintonia um pouco maior. E é normal que o Romildo assumindo agora como presidente, ele tenha as suas ideias e possa pô-las em prática de uma ou outra forma. E quando eu senti que tinha um ruído, que existem algumas facções dentro do Grêmio e que está bastante dividido no sentido de pensamento. Eu ouvia essa ressonância em relação muitas vezes ao meu grupo de trabalho, ao salário, à discordância em relação a determinados jogadores, eu achei que isso era normal. E é normal da minha parte. E muito mais normal da minha parte, porque eu também sou gremista de que eu colocasse à disposição o cargo ao presidente. Nós temos um bom relacionamento. Mas eu entendia que seria interessante colocar porque eu acho que pode seguir uma linha diferente porque cada um tem uma ideia quando assume uma entidade. O Grêmio de hoje não é o mesmo ambiente do Grêmio de dez anos atrás, ou cinco anos atrás. O Grêmio com problemas de facções. Muita gente dividida em relação à muitas coisas. E aí fica um pouco mais difícil de dirigir. Foi isso o que aconteceu”.
Problemas no vestiário
“Pelo que eu saiba não. Mas havia sim sempre notícias de que tínhamos problemas de vestiários, ou que tínhamos problemas disso ou daquilo. Porque muitas das situações não eram vividas por pessoas que passavam informações que não eram corretas. Os jogadores sempre souberam daquilo que iria acontecer. Ainda hoje na minha despedida, eu falei a todos os jogadores que o Grêmio tem um bom grupo, mas que para disputar um Campeonato Brasileiro ainda faltavam uns dois ou três jogadores para que a disputa fosse mais igual e mais parelha com alguns outros clubes. É muito bom ter uma equipe e jogadores com mais vivência e boa qualidade junto com os que já estão na equipe porque é um campeonato muito longo. E aí dariam mais possibilidades a quem já tem essas qualidades. Eu nunca escondi isso deles. Muitas vezes foram colocadas algumas notícias por pessoas que tem algum ou outro interesse que não são verdadeiras. Eu não via nenhum problema em relação a isso no vestiário. Eles sabiam de todas as decisões que nós íamos tomar junto a direção. Inclusive, é bom se frisar, que quando se manifestam de que o nosso diretor Rui Costa fez algumas contratações erradas, não foi ele quem fez as contratações. As contratações foram feitas com a minha concordância. E eu era o técnico. Então, se os erros aconteceram, aconteceram porque eu entendia que esses jogadores contratados podiam render. Se não renderam, o errado fui eu”.
Problemas políticos no clube
“Existem grupos interessados em fazer essa substituição porque outros grupos vão tomar conta do poder. Este é um problema que já não era mais da minha alçada e não é da minha alçada, mas que está acontecendo e acontecerá. Provavelmente o Romildo vai ter que se cuidar muito bem dessa parte. O resto, quando não se tem o resultado desejado, como foi o do meu resultado no Campeonato Gaúcho, que eu prometi ao doutor Fábio e não consegui, eu acho que tenho um débito e esse débito estou pagando saindo do Grêmio. E pedindo a demissão, o Grêmio não tem ônus nenhum. Isso que eu quero frisar mais uma vez. Não quero ônus de alguém. Eu quero deixar o Grêmio em condições e possibilidades de até boas contratações se assim quiser. Porque aí será melhor para o Grêmio. Eu como gremista gostaria de ver muito mais. Um Grêmio muito melhor”.