O momento vivido pelo Grêmio na temporada começa a refletir os bastidores do clube vivenciado nos últimos meses. Os resultados recentes estão comprovando o ambiente que ex-membros da comissão técnica, funcionários e dirigentes relatam com certa frequência: a equipe apresenta divisão entre os atletas, o CEO, que conta com a confiança da cúpula diretiva, não é bem aceito no CT profissional e já nos corredores da Arena a sucessão presidencial é alvo de disputa.
O Grêmio compreende que há subdivisões no seu plantel — o que normalmente ocorre na maioria dos clubes. No elenco do Tricolor, existe uma nítida separação entre os mais jovens e os mais experientes. No time desde 2013, o zagueiro Geromel é um dos únicos que conseguem circular entre todos os nichos.
Os veteranos seguem prestigiados pelas trajetórias dentro e fora do Grêmio e contavam com o apoio das duas últimas comissões técnicas. Principalmente com Renato Portaluppi, mas seguiu com a chegada de Tiago Nunes, raramente eram sacados do time. As ascensões de promessas eram retardadas para se esgotarem as possibilidades com os atletas experimentados.
Este ambiente aumentou o distanciamento entre os grupos, algo que não recebeu a devida atenção, segundo pessoas próximas ao vestiário gremista. A pequena reformulação promovida em 2021 com a saída de alguns e chegadas de Thiago Santos, Douglas Costa e Rafinha não conseguiu aparar e unificar o plantel.
A saída de Renato Portaluppi, no mês de abril, acelerou o processo de separação dos núcleos. O treinador, pela idolatria, era apontado como uma espécie de escudo e proteção para os problemas do vestiário. A liderança do maior jogador da história gremista pesava diante de qualquer adversidade. Com Tiago Nunes, mesmo com treinamentos mais modernos, a correção não conseguiu ser aplicada.
Com a alteração na comissão técnica, os dirigentes apostavam que as rédeas do departamento de futebol seriam retomadas. O entendimento era de que a relação com Renato estava saturada e que ele tinha abraçado muitos poderes.
Desgaste entre elenco e Carlos Amodeo
Além da separação no elenco, há também a divisão entre o CT profissional e a sede da instituição. Segundo fontes consultadas pela reportagem, o motivo principal seria o desgaste entre o elenco e Carlos Amodeo, CEO gremista, que chegou a ser cotado para assumir como executivo no futebol. No entanto, pela inviabilização com os membros do departamento, a ideia não foi adiante.
Em 2020, após uma série de demissões, Amodeo encabeçou o processo de mudanças no futebol. Todas com a concordância do Conselho de Administração, mas com repercussão negativa nos corredores do CT e de funcionários mais antigos do clube. O CEO é elogiado pelo alto escalão, mas, nos bastidores, seria contestado no departamento de futebol.
Sucessão de Romildo Bolzan
Outro processo interno sensível no Grêmio é a sucessão de Romildo Bolzan. O presidente, que está em seu terceiro mandato (concedido a partir de alteração estatutária), não poderá seguir no cargo a partir de 2023. O debate, que tinha se iniciado antes da confirmação da sua continuidade em 2020, foi adiado.
Em paralelo, Romildo Bolzan é cortejado pelo PDT para a corrida eleitoral em 2022. Há duas hipóteses: o presidente do Grêmio seria opção para o Palácio Piratini ou ao senado.
Caso a tendência de candidatura para cargo público seja confirmada, dois vice-presidentes do Conselho de Administração são os mais cotados para assumir a presidência. Conforme o estatuto, o substituto imediato seria o dirigente com matrícula de associação mais antiga, que é Duda Kroeff. No entanto, Adalberto Preis também poderá ser escolhido por Bolzan.
Os movimentos buscados para o comando técnico indicarão o caminho que a gestão do Grêmio tentará buscar para reabilitar os poderes entre Arena e CT Luiz Carvalho. Por isso, o tema do treinador será costurada na reunião do Conselho de Administração e poderá levar mais tempo, afinal, terá impacto em todos os ambientes do clube.