Durou pouco mais de dois meses a passagem de Tiago Nunes pelo Grêmio. Para ser mais preciso, exatamente 72 dias desde sua apresentação, em abril, até a oficialização de sua saída, na noite deste domingo (4), após a derrota em casa para o Atlético-GO por 1 a 0, que manteve o clube na lanterna do Brasileirão ao final da nona rodada.
Por isso, tão logo encerrou a partida na Arena, o treinador compareceu ao lado do vice-presidente de futebol Marcos Herrmann para comunicar sua demissão "em comum acordo".
— Quero agradecer à diretoria, aos atletas, pelo carinho e lealdade desde o primeiro dia, e agradecer ao torcedor que, mesmo chateado, seguiu acreditando. O Grêmio é muito grande e vai ultrapassar esse momento difícil. Fomos campeões gaúchos, mas infelizmente, os resultados não vieram mais. Mesmo à distância, sigo na torcida — declarou o agora ex-comandante gremista.
A serenidade do profissional era autoexplicativa. O ultimato dado pelo presidente Romildo Bolzan Júnior depois da derrota para o Juventude, em Caxias do Sul, deixava claro que um novo insucesso custaria o cargo.
— Quando assumimos, o Grêmio estava em uma instabilidade importante. Ao longo de 13 jogos, ganhamos 12 a partir da entrada do Tiago (Nunes). Chegamos ao título gaúcho e houve o episódio da covid-19 (surto entre jogadores e comissão técnica) e, a partir dali, caímos bruscamente de produção. Quando chegou no 20º dia, começamos a jogar melhor, contra Santos e Fortaleza, mas houve uma regressão importante nos últimos dois jogos. Houve muito empenho, mas sem resultados práticos e resolvemos fazer as mudanças que estavam pré-desenhadas desde quarta-feira — analisou Herrmann.
A partir de agora, o novo desafio dos dirigentes é anunciar um substituto. Em um primeiro momento, o nome que desponta como favorito é Luiz Felipe Scolari. Multicampeão na década de 1990, Felipão passou pela Arena recentemente, entre 2014 e 2015 e, desde janeiro, quando deixou o Cruzeiro na Série B, está livre no mercado.
— O perfil nós temos, o nome ainda não. Vamos trabalhar talvez ainda hoje (domingo). No mais tardar, amanhã (segunda-feira) de manhã. Temos um perfil, sim. O Felipão é sempre uma possibilidade, até porque ele se identifica com o Grêmio, mas não sei se ele tem interesse. Não vou entrar em muito detalhe porque faz parte da nossa estratégia — comentou o homem forte do futebol gremista.
Se o ídolo do passado é cogitado, a "estátua" também está presente no imaginário tricolor. Questionado sobre um possível retorno de Renato Portaluppi, que deixou o clube na metade de abril, após quatro anos de trabalho, o dirigente não descartou.
— O Renato é um ícone do clube. Nós todos sabemos disso, temos muito apreço por ele, mas também não sabemos se ele quer voltar ao Grêmio agora. Não vou discutir nomes. Temos que fazer o tema de casa, discutir entre nós e fazer um convite a quem nós acharmos que pode nos ajudar a dar a volta por cima. Acredito firmemente neste grupo de atletas. Afinal de contas, é o único clube gaúcho que ganhou dois troféus este ano. Então, é só pegar o jeito de novo. Talvez mudar o modelo de jogo e tocar a vida — tergiversou Herrmann.
Elogios ao elenco
Independentemente de quem chegar ao vestiário nesta semana, encontrará um ambiente de intranquilidade. O símbolo disso talvez seja o volante Matheus Henrique que, duas semanas depois de explodir com Tiago Nunes dentro de campo, bateu boca com o zagueiro Kannemann neste domingo.
— Acho que são vários jogos que a gente vem trabalhando no primeiro tempo bem e depois temos pressa para fazer o gol e sair dessa situação. Mas aí acabamos sofrendo o gol e acabamos dando um tiro no próprio pé. Essa fase vai passar logo, estamos trabalhando forte. Acredito que o nosso trabalho é feito da maneira correta. Não acredito muito em sorte, acredito que devemos continuar tocando o ideal para sair dessa situação — analisou Douglas Costa após esta nova derrota.
Na mesma linha, o vice de futebol se esforçou para passar a imagem de um elenco unido que, com pequenos ajustes, poderá dar a volta por cima.
— Este grupo é nota 10. Com todas as dificuldades, não baixaram a guarda no sentido de luta. Eles não estão conseguindo fazer o seu melhor futebol e temos que cobrar resultado porque sete jogos sem vitórias não condiz com a história do Grêmio. Agora, vamos passar por uma transição de novo. Por isso, o tiro tem que ser certeiro. O nosso objetivo é retomar o quanto antes o caminho das vitórias. Não vai ser fácil — disse Herrmann.
Na próxima quarta (7), o Tricolor visitará o Palmeiras, em São Paulo, possivelmente com Thiago Gomes como interino. Ou seja, o próximo treinador estreará no outro fim de semana, simplesmente em um clássico Gre-Nal.