Os 33 minutos jogados diante do Sport, na última quinta-feira, marcaram o retorno de Douglas Costa a uma partida oficial com a camisa do Grêmio depois de 4.211 dias. O clube, no entanto, sempre esteve presente na vida do jogador. Nos mais de onze anos de Europa ou muito antes de sua estreia como profissional, em 2008, aquele garoto Douglinhas, como ainda é chamado por quem lhe conheceu nos tempos de garoto, sempre carregou o desejo de brilhar com a camisa gremista.
A expectativa entorno da contratação do meia-atacante que empolga milhões de gremistas gera também orgulho em quem viu Douglas Costa dar os primeiros chutes e dribles. Amigos, ex-vizinhos e companheiros de peladas aguardam ansiosos para acompanhar aquele pequeno craque que viram despontar ainda menino de volta ao futebol brasileiro.
Natural de Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana, Douglas Costa passou parte da infância e da adolescência na cidade ao lado, em Esteio. Na quadra do condomínio Morada I, próximo da BR 116, na região central do município, ele era atração nas peladas entre os garotos. Mais novo que a maioria, entortava os adversários e ganhava fama na vizinhança entre crianças e adultos.
— Ele sempre chamou atenção. A gente jogava no condomínio e o talento dele sempre destoou mesmo jogando com os mais velhos. O que ele fazia com a gente não era fácil. E olha que a "rapaziada" não dava folga. Os caras marcavam forte — conta Leonardo Boaventura, três anos mais velho que Douglas Costa, que relembra com orgulho das vezes que o amigo acompanhou sua família em viagens para o Litoral Norte, no verão.
— Ele foi duas vezes para a praia com a gente. A gente estava sempre junto nessa época — completa.
Se hoje é a esperança da torcida tricolor para a recuperação no Brasileirão, naquela época Douglas Costa era a arma que garantia as vitórias contra os outros times formador por garotos da vizinhança.
— Tinha um time da Vila Navegantes, que eles diziam que eram os melhores, fomos jogar lá e na primeira bola tentaram dar no meio dele. O "Douglinhas" só não saiu da falta, como deu um chapéu no guri e no outro que veio na sequência — recorda Daniel Oliveira, outro dos amigos de adolescência do atual camisa 10 do Grêmio.
Mesmo que a relação tenha se tornado distante nesse período de mais de uma década do jogador morando na Europa, a admiração dos amigos que acompanharam seus primeiros passos não diminuiu. Também integrante turma, Anderson Anric lembra como Douglas, na base do Grêmio desde os 11 anos, mostrava foco em busca da carreira que alcançou nos anos seguintes.
— A gurizada do condomínio era festeira e o "Douglinhas" deixava de ir aos lugares porque tinha treino. O sonho dele sempre foi jogar no Grêmio. Ele sempre falou em voltar. No último churrasco que fizemos, ele ainda estava no Shakhtar e dizia "ainda vou voltar para o Grêmio" — relembra Anric.
— Até hoje quando vejo fico pensando: "O nosso amigo é um dos melhores do mundo". Isso nos deixa feliz porque lembro das dificuldades que ele passou, quando faltava dinheiro e alguns de nós apoiávamos ele. Lembro da gente comendo pastel e tomando guaraná sentados na rua — seguiu.
Amizade além da rivalidade
A relação de carinho ultrapassa até mesmo a rivalidade Gre-Nal. Mesmo os colorados da turma admitem uma torcida para que o jogador tenha sucesso na volta ao Grêmio. Daniel Oliveira recorda que na época de infância só era possível vencer os Gre-Nais do bairro quando Douglas Costa não jogava.
— Quando tinha Gre-Nal, a coisa era feia. Como já treinava no Grêmio, algumas vezes ele não podia jogar, aí era a nossa chance de ganhar. O Inter só ganhava os Gre-Nais quando ele não jogava —relembra Daniel Oliveira.
Colorado, Leonardo Boaventura revela que comemorou o primeiro gol marcado por Douglas Costa como profissional do Grêmio, em 2008, diante do Botafogo, e projeta o sucesso do amigo no retorno ao futebol brasileiro.
— Naquele primeiro jogo como profissional contra o Botafogo, não tive como conter as lágrimas. Eu sei o quanto ele sofreu. Ele morava em um apartamento pequeno com a família. Passou muita dificuldade até chegar onde chegou. Penso que ele tem tudo para deslanchar aqui, para ser o 10 que falta ao Grêmio — declara.
A história de superação de Douglas Costa pode servir de inspiração para o Grêmio deixar para trás o início ruim no Brasileirão e começar uma arrancada diante do Santos, na próxima quinta-feira, rumo ao tri nacional.