Antes de iniciar sua trajetória na base do Grêmio, em 2002, a primeira experiência de Douglas Costa em uma escolinha foi na sua Sapucaia do Sul. A entrada no projeto da Associação Esportiva Lance Sapucaia não se deu por meio de um olheiro. Foi um também garoto na época, Cléber Farias, que viu “Douglinhas” jogar e se encantou. Logo avisou o pai daquele raro talento que apareceu em um torneio infantil:
— Vi ele jogando em um torneio do bairro, ele arrebentava. Eu falei: “Pai, tu tens que ver esse guri" — recorda Cléber.
O pai de Cléber era Vivaldo Marinho de Farias, o Marinho, mas chamado também de Biba pelos mais íntimos, falecido em 2014. Biba comandava a escolinha Lance, que funcionava com cobrança de mensalidades. O valor de R$ 25 da época não podia ser pago pela família de Douglas Costa, então com 10 anos. O raro talento, no entanto, fez com que Biba admitisse treinar o garoto sem a cobrança da taxa.
— O meu irmão não era um empresário, mas gostava do futebol. Ele acabou aceitando de graça não por interesse em algo financeiro, mas porque o "Douglinhas" fazia bem ao time. Ele era incrível. Os outros meninos eram mais fortes, mas o Douglas era diferenciado demais. Ele driblava como adulto. Meu irmão dizia: "Vai ser uma perda para o futebol se ele não der certo" — conta Evilásio de Farias, irmão de Biba.
— Quando tinha os torneios, o Douglas fazia o time ganhar sempre. Então os pais dos outros garotos não se importavam dele não pagar, pelo contrário. Teve até um torneio que o Douglas estava sem chuteira para jogar. Os pais dos outros meninos fizeram uma “vaquinha” e compraram a chuteira para ele — relembra Cléber.
A escola Lance chegou a ser fechada depois da morte de Biba. Foi reaberta novamente e agora quem comanda é Guilherme Farias, sobrinho de Biba e filho de Evilásio de Farias. Além do trabalho com as crianças, eles montaram um time de adultos que disputa campeonatos de Futebol Sete. O Lance chegou a enfrentar o Grêmio na Taça Governador deste ano, competição vencida pelo Tricolor. A pandemia trouxe dificuldades para a associação, que contou com ajuda da família de Douglas Costa, através do pai, Antônio Souza, para manter as atividades.
— Todo mundo na cidade sabe que o Douglas Costa passou pela Lance. Os meninos que chegam na escolinha querem ser como ele. Nosso objetivo principal é formar o cidadão, a gente instrui eles a estudarem. Eles podem até virar um Douglas Costa, mas precisam estudar — afirma Guilherme Farias.
Com 30 anos, Douglas Costa ainda está longe de pensar em pendurar as chuteiras. Quando isso ocorrer, porém, o time FUT7 do Lance sonha com a possibilidade de vê-lo com a camisa do clube em, pelo menos, um torneio da modalidade.