A vitória sobre o Caxias, no último domingo (2), foi a terceira do Grêmio sob o comando de Tiago Nunes em três partidas. Com 100% de aproveitamento neste começo de trabalho, o treinador deixou o clube em situação confortável na Copa Sul-Americana e também na semifinal do Gauchão enquanto colocou em prática mudanças na equipe tanto na forma de atacar quanto na de defender. O time tem tido sucesso em algumas das novidades enquanto outras demandam maior treinamento para a nova comissão técnica gremista.
Tiago Nunes estreou na casamata tricolor diante do Ypiranga em 24 de abril após ter sido apresentado na véspera. Como o Grêmio havia jogado dois dias antes pela Sul-Americana contra o La Equidad, ele sequer pôde comandar um treinamento com os titulares. A preparação para a partida em Erechim se deu na base da conversa, mas foi possível ver algumas novidades, principalmente na forma de marcar.
A primeira foi uma pressão mais forte na saída de bola do adversário, o que resultou no segundo gol gremista, anotado por Léo Pereira, que roubou a bola do goleiro Paulo. Também se notou uma maior liberdade para Matheus Henrique chegar ao ataque. Por outro lado, a nova marcação por zona nos escanteios se mostrou frágil com o Ypiranga levando sucesso na maior parte das disputas na área gremista. O primeiro gol do Canarinho veio em uma falta ensaiada por baixo, que pegou a defesa gremista desarrumada. No final, o placar de 3 a 2 serviu para o Tricolor confirmar o primeiro lugar na fase de classificação do Gauchão.
Apenas após a estreia que Tiago Nunes conseguiu comandar treinos com o time principal. Foram três sessões de atividades no campo até o confronto como Lanús, na Argentina, na última quinta-feira. No palco do tricampeonato da América, o Grêmio apresentou uma compactação maior entre os setores e soube controlar os argentinos na maior parte do jogo. O Tricolor teve 53% de posse de bola no La Fortaleza e trocou quase 200 passes a mais que na estreia do treinador contra o Ypiranga (463 a 280).
— Nestes primeiros jogos, o Tiago Nunez fez, ao meu ver, duas mudanças muito importantes. A primeira delas é no posicionamento dos seus meio-campistas. O Jean Pyerre naturalmente gosta de recuar bastante para armar as jogadas e segue fazendo esse movimento, mas, para não deixar a zona entre as linhas do adversário vazia, Matheus Henrique tem tido a missão de se aproximar do Diego Souza. Algo que, no Athletico-PR o Tiago Nunes tinha com Bruno Guimarães e Cittadini. A outra mudança é na marcação. Deixa o modelo predominantemente individual para chegar a marcação em zona. Será cada vez mais raro observamos os zagueiros e laterais do Grêmio percorrerem longas distâncias marcando um jogador específico — observa o analista tático do Footure FC Gabriel Corrêa.
Para o jogo contra o Caxias, Tiago Nunes voltou ter o pouco tempo para treinar como desafio. Com a partida com o Lanús tendo sido na quinta-feira, o Tricolor retornou a Porto Alegre na sexta-feira e os titulares realizaram apenas um treinamento, na manhã de sábado, antes da viagem para Caxias do Sul. No Centenário, o Grêmio teve seu jogo de maior posse de bola com o novo treinador, de 67%, e também o que mais trocou passes. No total foram 659, sendo que 195 dos zagueiros Geromel (98) e Ruan (97). Isso passou por uma ideia de ter segurança na saída de bola, mas Tiago Nunes admitiu que ainda tenta encontrar a melhor forma da equipe atacar as mudanças de características que o elenco passou desde os melhores momentos com Renato Portaluppi.
— Precisamos entender as características dos atletas que estão em campo. O Grêmio conquistou muitos títulos com o jogo de aproximação e de posse. Tinha jogadores no comando de ataque com a característica de vir buscar a bola no pé e dar o tempo para quem estava armando a jogada chegar à área adversária. Hoje, temos jogadores mais verticais no campo de ataque. O Ferreira, o Léo Pereira e o Luiz Fernando são mais verticais. É achar o equilíbrio e ir ao encontro das características dos atletas — declarou após a vitória sobre o Caxias.
Forma de atacar
O Grêmio mudou seu posicionamento na forma de atacar. Diferente dos tempos de Renato Portaluppi, quando o time atuava com dois volantes alinhados, agora Thiago Santos fica posicionado enquanto Matheus Henrique tem maior liberdade na fase ofensiva. A equipe em alguns momentos muda o desenho tático do 4-2-3-1 para o 4-1-4-1. Como Jean Pyerre costuma recuar bastante para receber a bola, Matheus tem sido orientado a aparecer mais na área, como aconteceu, por exemplo, no lance do pênalti sofrido por ele na vitória sobre o Ypiranga.
Outra mudança acontece na saída de bola. Thiago Santos algumas vezes recua entre os zagueiros para iniciar a construção com três jogadores. Em outros momentos, o lateral Rafinha é quem auxilia os zagueiros com Thiago Santos aparecendo como elemento surpresa mais à frente, o que aconteceu no lance do primeiro gol contra o Caxias. Nessa forma de saída, Geromel e Ruan ganham a possibilidade de conduzir a bola para o campo de ataque agregando mais um jogador na fase ofensiva. No ataque, os extremas Léo Pereira e Ferreira iniciam abertos dando a amplitude ainda que não deixem de fazer diagonais na aproximação a Diego Souza.
— Com o Renato, os laterais davam amplitude. Eles abriam e subiam até o topo com os extremas caindo por dentro para participar da circulação da bola ajudando também o Diego Souza a segurar os marcadores. Agora, os extremas dão amplitude. Eles iniciam bem abertos, mas também fazem a movimentação. Os laterais também afunilam participando dessa construção — observa Filipe Duarte, responsável pelo Desenho tático de GZH.
Forma de defender
A mudança mais profunda feita por Tiago Nunes tem sido na maneira como o Grêmio tem marcado. Após quatro temporadas fazendo encaixes individuais na fase defensiva, quando um defensor tem um determinado jogador para marcar e persegue ele quando há movimentação, agora o time tem defendido de forma zonal. Isso significa que a referência de cada atleta gremista passa a ser o espaço e ele fica responsável por marcar o adversário que cair nesse setor. Nesse momento, o jogador com a bola precisa ser pressionado pelo defensor gremista.
— A vantagem da marcação por zona é que os jogadores costumam cansar menos porque o time ganha compactação, não apenas entre os setores, mas também dentro de cada setor. As linhas deixam os jogadores mais próximos e você não precisa correr tanto, mas, como tudo no futebol, tem suas desvantagens. A principal delas é que na nessa do jogador mais próximo pressionar pode haver uma dúvida ou mesmo confusão sobre o momento de pressionar. Na última linha é necessário um cuidado grande para as movimentações de todos serem iguais com cada um tendo o alinhamento correto do corpo tanto para a necessidade de correr para frente quanto para trás. Nesse ponto, o Rafinha pode ajudar bastante por ter jogado muito tempo na Europa marcando dessa forma — avalia o colunista tático do UOL Rodrigo Coutinho.
O Grêmio também tem marcado por zona em lances de bolas paradas. Esse tipo de jogada ainda tem apresentado problemas, como na estreia contra o Ypiranga e no último domingo, quando o gol do Caxias saiu justamente em jogada de escanteio.
Os números dos jogos com Tiago Nunes
Ypiranga 2 x 3 Grêmio
- Posse de bola: 49%
- Passes certos: 280
- Finalizações: 8 (4 no gol)
- Desarmes: 13
- Cruzamentos: 7 (1 certo)
Lanús 1 x 2 Grêmio
- Posse de bola: 53%
- Passes certos: 463
- Finalizações: 12 (3 no gol)
- Desarmes: 23
- Cruzamentos: 16 (3 certos)
Caxias 1 x 2 Grêmio
- Posse de bola: 67%
- Passes certos: 659
- Finalizações: 9 (4 no gol)
- Desarmes: 12
- Cruzamentos: 23 (2 certos)
Raio X dos gols
7 gols marcados
- 2 de pênalti
- 1 de bola roubada no campo de ataque
- 2 de contra-ataques
- 2 jogadas construídas
4 gols sofridos
- 2 bolas paradas
- 2 jogadas construídas