O cronômetro do árbitro José Roberto Wright marcava pouco mais de 19 minutos quando Paulo Roberto resolveu arriscar um cruzamento na área do São Paulo. O lance, feito a poucos metros da linha central do gramado, parecia despretensioso. Quase como uma tentativa de livrar-se da bola. Lá dentro, Renato Sá aparecia como o único gremista a emaranhar-se entre os três defensores são-paulinos que fechavam qualquer possibilidade de finalização ao gol de Waldir Peres.
Naquele momento, o caminho do gol era para trás, pois era de lá que vinha Baltazar, o "artilheiro de Deus". A bola escorada de cabeça por Renato repousou macia no peito do camisa 9, que deixou escorrer para a perna direita e fuzilou a rede adversária, sem direito de reação do goleiro ou dos mais de 90 mil torcedores do São Paulo que assistiam à festa em silêncio. Naquele fim de tarde de 3 de maio de 1981, o Morumbi, e logo o Brasil inteiro, era do Grêmio. Nesta segunda-feira, o primeiro título nacional tricolor completa 40 anos.
— Eu recordo que tínhamos uma equipe considerada inferior ao São Paulo, porém, fomos para o campo muito decididos a conquistar o título. Sabíamos que tudo o que tínhamos feito até ali, ficaria no esquecimento caso perdêssemos. Foi o momento mais emocionante da minha carreira. Eu tinha perdido um pênalti no jogo anterior. Pedi muito a Deus que me desse um gol na final e ele me concedeu. Um dos mais bonitos de toda minha vida — recorda Baltazar.
O Grêmio já tinha a vantagem antes de a bola rolar na capital paulista. Em Porto Alegre, três dias antes, Paulo Izidoro marcou duas vezes e o time gaúcho ganhou a primeira partida da decisão de virada – antes, Serginho Chulapa abriu o placar para os visitantes.
Mata-mata
A campanha gremista naquele mata-mata começou com derrota nas oitavas de final, quando foi batido pelo Vitória, por 2 a 1, em Salvador. Conseguiu reverter a desvantagem no Olímpico, com 2 a 0 que garantiu as quartas contra o Operário-MS. Dessa vez, a facilidade foi maior, com vitória nos dois confrontos: 2 a 0 em Porto Alegre, 1 a 0 em Campo Grande.
A semifinal foi histórica. Após vencer o primeiro duelo fora de casa, por 3 a 2, a equipe de Ênio Andrade podia até perder por 1 a 0 para ir à decisão. E foi justamente o que aconteceu. O jogo da volta, além inédita classificação à final do Brasileirão, ficou marcado pelo maior público já registrado no antigo Estádio Olímpico, com mais de 98 mil pessoas nas arquibancadas.
Virada de chave na história
A conquista marcou a virada definitiva na história do clube, iniciada ainda na década anterior, sob comando do presidente Hélio Dourado. Entre 1969 e 1979, o Tricolor viu o maior rival dominar o Rio Grande do Sul com nove estaduais e um tricampeonato brasileiro. A retomada, no entanto, começou ainda durante a grande fase colorada, em 1977, com o Gauchão vencido em um Gre-Nal. Com as taças gaúchas de 1979 e 1980, faltava um título nacional ao clube, que veio em 1981.
— Até aquele momento, era o título mais importante da história do Grêmio. Para mim e tanto outros, que estavam subindo da base, foi muito relevante começar daquela forma. O seu Ênio mudou o time durante o campeonato, botando jogadores mais jovens e acabamos conquistando o título. Nos bastava empatar, mas Deus reservava realmente agora maior para o Baltazar, que conseguiu fazer o gol — relembra Paulo Roberto, lateral-direito daquela equipe.
O troféu erguido pelo capitão Emerson Leão pavimentou a estrada para as glórias que seriam comemoradas mais tarde naquela década, como a Libertadores e o Mundial de Clubes, em 1983. Do time que venceu o São Paulo em 3 de maio de 1981, cinco jogadores eram titulares na vitória sobre o Peñarol, dois anos depois: Paulo Roberto, De León, Casemiro, China e Tarciso. Além deles, Baidek estava naquele grupo campeão e fez parceria com o uruguaio na zaga dois anos depois.
— Ao conquistar o Brasileiro, foi uma afirmação importante do Grêmio no cenário do futebol. No ano seguinte, conseguimos chegar mais uma vez na final, o que acabou nos conduzindo para a Libertadores de 1983. O título de 81 foi um alicerce importante para o seguimento de títulos, como foi 83, me orgulho muito de ter participado desses grupos — define o ex-zagueiro e atualmente empresário.
Números do título:
- 23 jogos
- 14 vitórias
- 2 empates
- 7 derrotas
- 32 gols marcados
- 21 gols sofridos
Artilheiros
- Baltazar: 10 gols
- Paulo Izidoro: 8 gols
- Tarciso: 8 gols
- Newmar: 2 gols
- Vilson Tadei: 2 gols
- Vantuir: 1 gol
- Flávio: 1 gol
- Odair: 1 gol
- Heber: 1 gol
Campanha:
- 18/01: Grêmio 0 x 0 Goiás
- 21/01: Grêmio 2 x 1 Galícia
- 25/01: Grêmio 2 x 0 Desportiva Ferroviária (ES)
- 28/01: Grêmio 1 x 1 Pinheiros (PR)
- 31/01: Grêmio 1 x 0 Corinthians
- 04/02: Grêmio 0 x 1 Portuguesa
- 07/02: Grêmio 3 x 2 Botafogo
- 15/02: Grêmio 1 x 2 Brasília
- 21/02: Grêmio 1 x 2 Operário (MS)
- 08/03: Grêmio 0 x 3 São Paulo
- 12/03: Grêmio 2 x 0 Fortaleza
- 15/03: Grêmio 1 x 3 Inter de Limeira
- 21/03: Grêmio 1 x 0 São Paulo
- 28/03: Grêmio 4 x 0 Fortaleza
- 05/04: Grêmio 1 x 0 Inter de Limeira
- 09/04: Grêmio 1 x 2 Vitória
- 12/04: Grêmio 2 x 0 Vitória
- 15/04: Grêmio 2 x 0 Operário (MS)
- 19/04: Grêmio 1 x 0 Operário (MS)
- 23/04: Grêmio 3 x 2 Ponte Preta
- 26/04: Grêmio 0 x 1 Ponte Preta
- 30/04: Grêmio 2 x 1 São Paulo
- 03/05: Grêmio 1 x 0 São Paulo