A arrancada de Tiago Nunes com 100% de aproveitamento em sete jogos no Grêmio – o melhor início de um treinador no clube desde Orlando Fantoni, em 1979 – tem como uma das marcas o crescimento de Matheus Henrique. Depois de passar por altos e baixos durante a temporada passada, o volante tem sido peça-chave no sucesso da equipe que está virtualmente classificada para as oitavas de final da Copa Sul-Americana e em vantagem na decisão do Gauchão.
O crescimento de Matheus Henrique vem acompanhado de uma alteração no seu posicionamento. Com Renato Portaluppi, no esquema 4-2-3-1, o camisa 7 vinha atuando alinhado a outro volante. Em alguns momentos, como quando tinha Maicon como companheiro, ele acabava exercendo a função de primeiro homem do meio-campo.
O processo de mudança teve início com a entrada de Thiago Santos na equipe. Com o novo contratado fazendo a função de protetor da zaga, Matheus Henrique ganhou liberdade para avançar. Algo ainda mais frequente depois da lesão sofrida por Jean Pyerre, há duas semanas. Sem outro meia disponível, Tiago Nunes adotou o esquema 4-1-4-1 a partir do jogo de volta da semifinal do Gauchão contra o Caxias, com Matheus Henrique sendo o meio-campista de maior chegada ao ataque.
A nova ideia tem dado resultado. O camisa sete marcou dois gols em três partidas jogando dessa forma. Para termos de comparação, ele balançou as redes apenas três vezes em 53 jogos na temporada 2020.
— Tiago tem usado dois médios e pede para a gente pisar na área. Escutei os conselhos, minha característica não é muito de fazer gols, mas estou chegando e isso tem me dado confiança — declarou o jogador após a partida contra o Lanús, na semana passada, quando marcou o gol que abriu o caminho para a vitória gremista por 3 a 1.
Essa maior presença na área adversária não é uma novidade para Matheus Henrique, que iniciou sua trajetória na base do São Caetano como atacante. Treinador do atual volante do Grêmio no sub-17 do clube paulista, Marquinhos Pitbull lembra como foi o processo de mudança de posicionamento do atleta.
— Foi na peneira comigo que ele chegou ao São Caetano. Logo que vi, falei que ele deveria ficar porque mostrava muita qualidade. O Matheus começou com a gente como segundo atacante e foi recuado para meia. Aí teve um jogo contra o São Paulo, pelo Paulista Sub-17, que a gente estava perdendo e eu falei: “Você vai jogar de segundo volante”. De volante, ele fez um gol chegando ao ataque. Depois, ainda jogou mais um tempo como meia no São Caetano e virou volante de forma definitiva no Grêmio. Mas ele era um atacante de qualidade, que partia para cima dos marcadores — conta Marquinhos.
Encaixe com Jean Pyerre
O analista tático do Footure Gabriel Corrêa faz uma outra observação sobre o momento de Matheus Henrique. Ele destaca que a forma de jogar mais direta do Grêmio com Tiago Nunes tem influenciado para que o meio-campista carregue menos a bola e possa se movimentar mais sem ela para receber dos companheiros de forma avançada.
— A principal mudança é o Matheus Henrique menos tempo com a bola. O Tiago Nunes gosta de ataques mais rápidos, então ele precisa pegar a bola e acelerar as jogadas. Sem contar o fato de estar muitas vezes perto do gol, então não tem tanto tempo pra ficar girando e pensando para quem passar — avalia.
A volta de Jean Pyerre, que está recuperado da lesão sofrida na coxa direita e relacionado para o jogo contra o Aragua, não significa que Tiago Nunes terá de voltar ao esquema antigo. Gabriel Corrêa projeta um encaixe dos dois jogadores no meio-campo com o 4-1-4-1 podendo ser mantido.
— No Athletico-PR, Tiago Nunes chegou a ter um meia armador, um camisa 10, mas, depois, passou a ter Bruno Guimarães e Léo Cittadini. Bruno armava e chegava na área, Cittadini chegava na área e marcava alto. O modelo que o Tiago está implementando no Grêmio tem diferenças, mas também muitas semelhanças com aquele. Matheus vai ter a função de armar, mas precisará chegar muito na área porque Jean Pyerre recua bastante. Quando jogar Jean Pyerre, que gosta de recuar para iniciar a armação, o Grêmio vai precisar que Matheus Henrique seja esse jogador de chegada na área — projeta.
Preservado, Matheus Henrique não irá enfrentar o Aragua amanhã, na Venezuela, pela Sul-Americana. O Gre-Nal que vai decidir o Gauchão, no domingo, será o próximo desafio do volante que cada vira cada vez mais meia com Tiago Nunes.
Matheus Henrique com a camisa do Grêmio
- 130 jogos
- 10 gols
- 4 assistências
Na temporada 2020
- 53 jogos
- 3 gols
- 1 assistência
Na temporada 2021
- 13 jogos
- 2 gols
- 0 assistência
Mapas de calor mostram a mudança de posicionamento do Matheus Henrique: