O Grêmio de 2021 tem uma mudança de estilo que vai além da troca de comando técnico com a saída de Renato Portaluppi e a chegada de Tiago Nunes. A consolidação de Thiago Santos como titular mostra uma ruptura no perfil dos meio-campistas gremistas em relação às últimas temporadas. O novo camisa 5 representa a figura do volante marcador, o cão de guarda da defesa, algo pouco utilizado no último ciclo vencedor do clube — mas que faz lembrar outras páginas da história tricolor.
Nos melhores momentos sob o comando de Renato, entre 2016 e 2018, o Grêmio se caracterizou por ter no meio-campo jogadores que marcavam, mas que também tinham alto controle de bola. Era a partir da troca passes que o time dominava seus adversários.
Foi assim com Walace e Maicon no penta da Copa do Brasil, com Arthur e Michel na maior parte da temporada do tri da América e com Arthur e Maicon na equipe que voltou a ganhar o Gauchão no primeiro semestre de 2018, quando o Tricolor era apontado como o melhor time do País. Mesmo Jailson, titular na reta final da Libertadores de 2017 após a lesão de Michel, era mais físico, mas também chegava ao ataque.
A contratação de Thiago Santos se deu pela avaliação interna no Grêmio da necessidade de um volante com características distintas. Em sua apresentação, quando já vestiu a camisa 5, o jogador tratou de mostrar a diferença do seu jogo em relação aos companheiros de posição.
— Você não pode querer me comparar com Matheus (Henrique), com Lucas (Silva), com Darlan e com Maicon. Vim para cá porque queriam um jogador com característica de marcação. É o que posso dar para a equipe. É claro que vou trabalhar para chegar à frente, mas minha principal característica é marcar. Não adianta me cobrar para fazer gol. Eu vim para ajudar a defesa e dar mais liberdade para os meias e atacantes. Isso, pode cobrar de mim: luta, combate e raça dentro de campo — declarou o jogador, que teve sua contratação contestada por gremistas nas redes sociais.
Thiago Santos até teve participação ofensiva importante contra o Lanús, na Argentina, quando deu assistência para Ferreira marcar o gol que garantiu a vitória do Grêmio. Os números gerais, no entanto, mostram que ele aparece com destaque nas ações defensivas, como desarmes, e tem menor participação em passes e finalizações do que outros volantes do grupo (ver quadro abaixo).
Volante campeão do Brasileirão, em 1981, e da Libertadores e do Mundial, em 1983, China avalia que Thiago Santos resgata uma característica histórica do Grêmio.
— Renato vinha pedindo um jogador assim há bastante tempo, mas as escolhas não ajudaram. Vieram jogadores parecidos com os que já estavam. Thiago Santos deu a retomada daquele Grêmio copeiro, aquela imagem do Grêmio brigador, que disputa palmo a palmo com o adversário, ombro a ombro. Ele mesmo acaba contagiando os companheiros. É praticamente um terceiro zagueiro, só que joga na frente dos zagueiros, e não atrás — observa China.
A presença de Thiago Santos favoreceu a mudança de esquema feita por Tiago Nunes após a lesão de Jean Pyerre. Sem um meia de origem, o Grêmio tem atuado no 4-1-4-1, com o camisa 5 posicionado como protetor da defesa, enquanto os outros volantes ficam livres para atacar. Contra o Caxias, no último domingo (9), Matheus Henrique abriu o placar com uma cabeçada dentro da pequena área, e Darlan também apareceu para finalizar para as redes em lance que acabou anulado por impedimento. Essa liberdade para os demais meio-campistas deverá ser cada vez mais recorrente nos jogos tricolor.
Auxiliar técnico de Luiz Felipe Scolari no Palmeiras, quando trabalhou com Thiago Santos, Paulo Turra projeta crescimento de Matheus Henrique com o novo companheiro de equipe.
— Sem a bola, Thiago é o que a gente tem visto, um cão de guarda. É dos poucos no Brasil com essa característica. Você não pode exigir dele o difícil, mas, de frente para o jogo, se vir uma opção boa de passe, ele não deixa de arriscar. O que não pode é querer que ele faça o que os outros fazem, porque são características diferentes. Em compensação, a chegada do Thiago Santos deu maior liberdade ao Matheus Henrique, que pode avançar sabendo que tem um jogador de marcação. Matheus ficou mais solto e tende a evoluir muito mais — explica.
Para Turra, Thiago Santos traz uma característica que vinha faltando ao Grêmio nas últimas temporadas.
— Uniu o útil ao agradável. É um jogador que veio a calhar. Os defensores do Grêmio não contam com o mesmo vigor de quatro ou cinco anos atrás, e é importante ter um jogador assim para proteger — completa.
A semana Gre-Nal do Grêmio tem na quinta-feira (13) o compromisso com o Lanús pela Sul-Americana, mas a torcida não deixa de pensar nos clássicos que decidem o título gaúcho de 2021. O confronto com o rival será o maior teste — e também a oportunidade para Thiago Santos ganhar de vez a confiança da torcida.
Os números
Thiago Santos
- Jogos: 8
- Gol: 0
- Minutos jogados: 631
- Passes: 403 (57,4 a cada 90 minutos)
- Desarmes: 24 (3,4 a cada 90 minutos)
- Faltas: 33 (4,7 a cada 90 minutos)
- Finalizações: 1 (0,14 a cada 90 minutos)
Darlan
- Jogos: 11
- Gol: 0
- Minutos jogados: 728
- Passes: 565 (69,9 a cada 90 minutos)
- Desarmes: 9 (1,11, a cada 90 minutos)
- Faltas: 9 (1,11 a cada 90 minutos)
- Finalizações: 8 (1 a cada 90 minutos)
Matheus Henrique
- Jogos: 8
- Gol: 1
- Minutos jogados: 665
- Passes: 429 (58,7 a cada 90 minutos)
- Desarmes: 7 (1 a cada 90 minutos)
- Faltas: 14 (2 a cada 90 minutos)
- Finalizações: 7 (1 a cada 90 minutos)
Maicon
- Jogos: 6
- Gol: 1
- Minutos jogados: 303
- Passes: 373 (111 a cada 90 minutos)
- Desarmes: 1 (0,29 a cada 90 minutos)
- Faltas: 5 (1,4 a cada 90 minutos)
- Finalizações: 5 (1,4 a cada 90 minutos)
*Fonte: Footstats. Dados apenas de Gauchão e Sul-Americana, as competições em que Thiago Santos atuou