A partir da situação extra-campo envolvendo a Conmebol e o governo do Equador, o duelo entre Grêmio e Independiente Del Valle terá novos componentes. Isso porque a primeira partida será em Assunção, praticamente ao nível do mar, e não mais em Quito, a 2.850 metros de altitude. Ainda que os três dias sem treinos e a sequência de viagens cansem os jogadores gremistas, há uma vantagem para o Tricolor por não precisar jogar sob as condições de ar rarefeito.
— É desgastante do ponto de vista físico e psicológico. Readequamos todo nosso planejamento para minimizar o prejuízo técnico, físico e desportivo, a fim de que possamos ter o melhor desempenho e obter um resultado positivo no jogo de sexta (9) — avalia o CEO e diretor de futebol do Grêmio, Carlos Amodeo.
Na quinta-feira (8), véspera do jogo contra o Del Valle, o time voltará a treinar, já em Assunção, depois de realizar duas atividades nos corredores do hotel em Quito, completando três dias sem ir ao campo. O especialista em preparação física e fisiologia do esporte José Leandro de Oliveira, professor na Unisinos, acredita que o condicionamento dos jogadores não seja tão prejudicado neste período.
— Fisicamente, o atleta não sente tanta perda. Em três dias, no máximo, se está iniciando este processo de destreinamento do músculo. Porém, tecnicamente, sim, o jogador perde um pouco do ritmo — analisa José Leandro, que foi fisiologista do Grêmio entre 1995 e 2020.
A troca de local e adiamento do jogo farão com que a delegação gremista retorne a Porto Alegre seis dias depois do embarque para Quito. No entanto, entrar em campo no nível do mar, nas condições que o elenco já está acostumado, pode ser uma vantagem, na opinião do especialista.
— Não estar na altitude é um prejuízo a menos para o Grêmio, vale a pena perder estes dois dias viajando, sem treino, para jogar ao nível do mar. Perderia mais se jogasse hoje (quarta) em Quito, mesmo que tivesse treinado ontem (terça) — pontua o especialista, que também atuou como preparador físico nas categorias de base do clube.
Por outro lado, a diferença de altitude não fará, fisiologicamente, os jogadores do Independiente Del Valle correrem mais em Assunção do que estão acostumados em Quito:
— A vantagem do organismo de quem está acostumado à altitude é ter melhores células transportadoras de oxigênio, mas a produção de energia nas células musculares não vai ser aumentada por ter mais oxigênio disponível.
Os efeitos da altitude no corpo e no jogo
A tão temida altitude causa dois efeitos pontuais em jogos de futebol. O primeiro é a diminuição da entrada de oxigênio em cada respiração, o que causa uma queda no fornecimento de energia para as células dos músculos do jogador. A segunda é na velocidade da bola, que circula pelo campo com menos resistência no ar. Ambas são explicadas pelo mesmo fator: a diferença na pressão atmosférica.
Ao nível do mar, onde Porto Alegre e outras cidades estão, a quantidade de ar entre o solo e o limite da atmosfera é maior do que em lugares mais altos, como Quito, que está quase 3 mil metros mais alto. Com menos moléculas circulando no ar, a pressão com a qual o oxigênio entra no corpo humano durante a respiração diminui. E a bola, por sua vez, encontra mais espaço entre cada molécula do ar e se movimenta com menos atritos contra a sua trajetória.
Grêmio e Independiente Del Valle se encontrarão em Assunção, capital do Paraguai, que fica longe da costa litorânea mas está apenas a 43 metros acima do nível do mar. Na sexta-feira (9), as equipes disputarão a primeira partida da terceira fase preliminar da Libertadores, sem os efeitos da diferença de pressão atmosférica.