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Ferreira está acostumado a superar barreiras. Sua carreira como profissional correu risco de não ser alcançada, já que esteve desanimado com os insucessos em testes esteve a ponto de desistir do sonho de ser jogador profissional e passar a ajudar a família com um trabalho fora do esporte em sua cidade, Dourados, no Mato Grosso do Sul, antes de chegar ao Grêmio.
Já em Porto Alegre, conviveu com um problema de fascite plantar que atrapalhou sua fase final de formação como atleta. Foi emprestado aos pequenos clubes paranaenses Toledo e Cianorte e passou pelo Aimoré no caminho até ser integrado ao grupo de Renato Portaluppi. Quando começava a receber elogios de imprensa e torcida, um litígio na renovação do seu contrato o afastou do elenco tricolor.
Depois de tudo isso, o atacante se tornou peça importante para o decorrer dos jogos na reta final da última temporada. Sem folga, diferente de muitos dos companheiros, ele espera agora aproveitar a oportunidade para se firmar no Tricolor e mostrar que pode ser mais do que uma boa opção para o segundo tempo. Esta será mais uma barreira a ser superada por esse jovem sul-mato-grossense que busca fazer história no futebol do Rio Grande do Sul.
Evolução na carreira e chance de afirmação
O Renato conversa bastante comigo. Penso que preciso evoluir em algumas escolhas que faço durante as partidas, de vezes que preciso tocar e tento driblar ou que devo driblar e escolho tocar. Isso é natural porque vinha entrando no decorrer das partidas e se corrige com a sequência dos jogos. O Renato busca dar conselhos, algo que ele já fez com Everton e Pepê. É isso que ele fala sobre lapidação.
Me sinto preparado porque trabalho diariamente, sempre me dedico ao máximo e procuro aprender para evoluir. Vou tentar corresponder sempre que o professor me escalar. Se ele me procurasse agora e falasse "é você", eu iria com toda a confiança para fazer o meu máximo e dar conta do recado. Não vou ter folga agora e minha cabeça está focada no jogo com o Ayacucho. Estou fora contra o Esportivo pela expulsão (diante do Brasil de Pelotas), mas vou treinar no final de semana para a volta da Libertadores. Esperei tanto por esse momento, agora não dá para largar esse osso.
Trabalho sem bola e adaptação para atuar nos dois lados do ataque
Concordo que tenho algumas deficiências, mas nem acho que a marcação seja a principal. Eu ajudo na marcação e recomponho. Penso que erros são mais na tomada de decisão. Penso sempre em evoluir e trabalhar para corrigir esses erros. Na base sempre joguei pelo lado esquerdo. Quando joguei contra o Cruzeiro (Brasileirão de 2019, primeiro gol pelo Grêmio) foi um dos meus primeiros jogos pela direita e estranhei.
Hoje me sinto bem para jogar dos dois lados. Para mim é algo natural, não tem tanta diferença, mas admito que no começo foi difícil. É diferente dominar a bola para partir para cima do adversário. Agora me sinto bem adaptado e posso jogar dos dois lados.
Dificuldades na carreira
Eu cheguei um pouco tarde ao Grêmio. Tinha feito testes em alguns clubes do interior do São Paulo quando houve a possibilidade de vir a Porto Alegre. Eu treinava em uma escolinha do Grêmio em Dourados e fiz uma peneira lá. O teste no Grêmio seria dois meses depois e eu comecei a pensar. Já havia feito muitos testes, via também meus pais trabalhando e eu apenas gerando despesas. Então pensei em desistir e ir procurar um emprego para ajudar em casa porque já estava com 16 anos. Vim, passei no primeiro teste e depois passei mais dois meses na sub-17. Todo mundo dizia que era difícil ser aprovado nessa idade sem ter vindo de outro clube. Felizmente, passei.
Fora do campo, estou acostumado a superar barreiras. Dentro, sempre procuro me superar e vencer nas piores condições. Isso é algo que se tornou natural para mim.
Afastamento por imbróglio na renovação
Foi um momento muito difícil na carreira, ainda mais por ser jovem. Foi difícil, mas a minha cabeça estava tranquila porque a gente sabia que estava trabalhando com a verdade. Houve desavença com algum dirigente, mas não com o clube. Isso foi superado. Hoje está todo mundo feliz e estou seguindo o meu caminho aqui no Grêmio. Passou e agora penso apenas no futuro.
Saída antecipada de Pepê e possibilidade de Douglas Costa
O Pepê está resolvendo sua situação com o clube e com o Porto. Vão resolver o que for melhor para todo mundo. Independente disso, vou procurar evoluir. Eu vi algumas sondagens (sobre o Douglas Costa) na internet, li algumas coisas, mas não gera preocupação (pela concorrência). Se ele vier, vai procurar nos ajudar, passar a experiência que ele tem de jogar na Europa e na Seleção Brasileira. É um jogador que chegaria para agregar. Jogador como ele, que todos sabem da qualidade, vai só ajudar.
Referência no grupo do Grêmio
Os jogadores mais experientes procuram me dar conselhos e falar comigo desde que eu subi. Eles sempre falam sobre aproveitar a oportunidade. O Maicon é um que sempre fala comigo. Antes da partida contra o Ayacucho, ele me deu conselhos sobre movimentação, "faz isso, faz aquilo". Temos jogadores vencedores no grupo e sempre procuro ouvi-los para evoluir.
Gol e goleada sobre o Ayacucho
A gente sabia que tinha que virar a página, que não podia deixar o jogo contra o Palmeiras nos abalar. Era necessário vencer para não deixar nenhuma crise chegar até nós. Não imaginávamos o placar, mas precisávamos vencer e vencemos. Se tivéssemos perdido, o Brasil inteiro iria falar. Fizemos o nosso papel ao vencer.
Expulsão contra o Brasil-Pel e reserva diante do Palmeiras
Sou um jogador habilidoso e sei que alguns não vão aceitar tomar o drible. A expulsão foi muito discutida, mas vi o Hulk (do Atlético-MG) fazer algo pior e não foi expulso. Não acho que tenha me atrapalhado para ser titular na final da Copa do Brasil. Foi mais o meu desempenho contra o Brasil, que não foi tão bom. O juiz mesmo me avisou e falou que eu tinha que tomar cuidado porque os jogadores deles estavam me caçando. O jogador do Brasil (Matheuzinho) tinha entrado firme antes e pensei que podia me machucar. Quando ele veio, eu firmei o corpo e houve a expulsão porque o auxiliar falou. Depois, o Renato conversou comigo, falou para eu ter mais calma, mas não disse nada sobre a Copa do Brasil.
Segurança para seguir jogando no ápice da pandemia
O mundo e o Brasil, principalmente, vivem uma situação complicada em relação a isso. Eu me sinto seguro, mas não posso falar só por mim e pelo Grêmio porque não sei como é a situação nos clubes do interior. No Grêmio é seguro, já que fazemos de três a quatro testes por semana. Para a gente está seguro, mas não posso responder sobre as outras equipes. Se for para continuar, vamos continuar. Se for para parar, vamos parar. Temos de respeitar as decisões.