As mudanças promovidas por Renato Portaluppi para encarar o Palmeiras, pelo jogo de ida da final da Copa do Brasil, não se mostraram suficientes. Paulo Victor e Paulo Miranda não conseguiram reverter o quadro de previsibilidade que o Grêmio já vinha demonstrando nos últimos meses. Agora, tendo cinco dias para o jogo da volta, em São Paulo, o treinador olha para o banco de reservas em busca de uma nova surpresa. E, entre as alternativas, quem levanta o braço é Ferreira.
Autor do primeiro gol gremista em 2020 — quando o time de transição foi derrotado nos pênaltis pelo Pelotas, na Recopa Gaúcha —, o jovem atacante viveu de altos e baixos. Afastado do elenco profissional por não aceitar os valores propostos na renovação de contrato, esteve perto de deixar o clube. Há um ano, inclusive, ingressou na Justiça, pedindo uma rescisão unilateral. Mas ele permaneceu e, nesta semana, se apresenta como a fagulha de esperança do torcedor para que o título nacional vire realidade no último compromisso da temporada.
— O Ferreira é o único jogador de ataque do Grêmio que rompe linhas, uma vez que o Pepê foi abduzido pelos portugueses. Mesmo que ele surpreenda o adversário entrando no segundo tempo, é melhor sair jogando com ele, porque os outros não rendem — opina David Coimbra, colunista de GZH e debatedor do programa Sala de Redação, na Rádio Gaúcha.
Acionado do banco de reservas na metade do segundo tempo, Ferreira foi responsável pela primeira finalização a gol no último domingo (28). É verdade também que sua entrada coincidiu com o momento em que o adversário atuava com um jogador a menos (zagueiro Luan havia sido expulso após atingir Diego Souza no rosto). Ainda assim, em 18 minutos, apresentou números superiores aos outros pontas da equipe.
Pelo levantamento do site SofaScore, Pepê — que atuou durante toda a partida pelo lado esquerdo — não chutou uma única bola em direção ao goleiro Weverton e deu somente cinco toques a mais na bola. Já Alisson, que foi recuado para a lateral direita após as substituições, efetuou um cruzamento a menos (cinco contra seis) e desferiu apenas um drible contra quatro de Ferreira. Portanto, há argumentos de sobra para quem defende a efetivação do garoto como titular para o duelo de volta.
A situação, aliás, não é uma novidade. Há inúmeros exemplos ao longo da temporada em que ele entrou na segunda etapa e incendiou a partida. Um deles se deu contra o mesmo Palmeiras, em setembro de 2020, pelo primeiro turno do Brasileirão. Na ocasião, o camisa 47 anotou o gol de empate por 1 a 1, de cabeça, nos acréscimos. O cenário se repetiu no duelo de ida da semifinal, contra o São Paulo, quando foi à linha de fundo e gerou o lance que desencadearia no gol de Diego Souza. Porém, naquela mesma noite, Renato preferiu iniciar o jogo com Thaciano fazendo a função pelo corredor direito, recebendo uma série de críticas.
— Futebol é momento e acho que o Ferreirinha está fazendo por merecer. Quando ele entrou contra o Palmeiras, o Grêmio foi mais ousado e criou várias jogadas. Ele tem um potencial muito bom no mano a mano, uma qualidade no drible curto. Como o Grêmio precisa ganhar, eu colocaria o Ferreirinha na direita e o Pepê na esquerda. Eles têm condições de fazer o vai e vem que o Renato gosta e segurar a equipe do Palmeiras lá atrás. É preciso organizar uma situação para que eles se adaptem, um de cada lado — atesta Jair Galvão, técnico que trabalhou com Ferreira no São Luiz de Ijuí em 2016.
De fato, a preocupação com o jogo defensivo não é o forte do menino de 23 anos. No próprio enfrentamento deste fim de semana, Alisson e Pepê foram responsáveis por dois e um desarme, respectivamente, enquanto Ferreira não realizou nenhum. E, no sistema tático usado desde 2015 na Arena, é fundamental que os extremas auxiliem na marcação, acompanhando as subidas dos laterais rivais. Isso aconteceu com Pedro Rocha, Ramiro, Fernandinho e Everton Cebolinha.
Titular ou 12º jogador?
O dilema vivido por Renato não é simples de se resolver. Ao longo desta temporada, Ferreira participou de 39 jogos com o time principal do Grêmio (excetuando a Recopa Gaúcha). Destes, porém, iniciou como titular apenas 11 vezes. Neste cenário, foram 781 minutos em campo, tendo marcado um único gol — na vitória de 2 a 0 sobre o Guaraní-PAR, pelas oitavas de final da Libertadores. No mais, passou em branco e com pouco destaque, como nos empates com Bragantino e Coritiba, na reta final do Brasileirão.
— Ele é um jogador de uma característica que está escassa no futebol hoje em dia, que é um jogador que procura a área e o gol. É um jogador diferente, de drible fácil. Ele só vai ficar pronto se jogar. Claro que ainda precisa trabalhar questões individuais, como a conclusão para o gol. Mas, pelo momento que vive, está pedindo passagem. O Renato é quem decide, mas eu gosto do Ferreirinha e penso que é momento dele, sim — analisa Gelson Conte, ex-treinador de Ferreira no Aimoré, em 2019.
Se ele (Renato) não está o escalando para começar, ainda não viu que está pronto para isso
CLÁUDIO DUARTE
técnico campeão da Copa do Brasil de 1989
Ingressando no decorrer das partidas, o atacante completou 538 minutos jogados, sendo responsável por dois gols — contra Palmeiras e Athletico-PR, pelo Brasileirão. Ou seja, a impressão deixada é de que o jovem de 23 anos rende melhor quando pega a defesa adversária mais cansada.
— Como sou ex-jogador e ex-treinador, tenho cautela para, de fora, escalar jogadores. O treinador está lá no dia a dia. Se ele (Renato) não o está escalando para começar, ainda não viu que está pronto para isso. Pode ter feito uma comparação entre os jogos que o atleta começou jogando, a produção que ele teve, deve ter comparado com os jogos que entra no decorrer da partida. Se ele deve ou não começar o jogo, o treinador dele convive com ele diariamente. Se não começar, quer dizer que não está pronto — avalia Cláudio Duarte, comandante na conquista da Copa do Brasil de 1989.
Números de Ferreira na temporada:
Total em campo: 1319 minutos
39 jogos e 3 gols
Iniciando como titular: 781 minutos
11 jogos e 1 gol (contra o Guaraní-PAR)
Entrando no segundo tempo: 538 minutos
28 jogos e 2 gols (contra Palmeiras e Athletico-PR)
*não foi contabilizado o jogo com time de transição, pela Recopa Gaúcha